Antes pelo contrário

Antes pelo contrário

Daniel Oliveira

PSD: obrigado pelo striptease

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Vou ser breve com este assunto como fui com o de Barreiras Duarte ou outros semelhantes noutros partidos. Como percebem se acompanharem os meus textos, este é o tipo de tema que excita a comunicação social e não me excita a mim. Nem à esquerda, nem à direita. Deixo para outros colunistas especializados o papel de guardiões diários da moral – até ao dia em que alguém vá verificar a sua própria coerência. Eu gosto mais de política. Não é falta de exigência ética, é mesmo exigência intelectual.

É evidente que o comportamento de José Silvano é condenável. Que ter alguém a assinar as suas presenças é uma trafulhice que, num trabalho como o da maioria dos portugueses, levaria a despedimento por justa causa. Que ter alguém a entrar com a sua password pode roçar o crime – nunca deixará de me espantar pelo descaramento a rapidez com que o Ministério Público manda saber que está a investigar cada pequeno caso que belisque um líder partidário que não lhe faz grandes elogios. Seja como for, perante este caso, Rui Rio devia ter feito o que não fez com Feliciano Barreiras Duarte: ter sido rápido a afastar o deputado das suas funções internas no PSD. Não precisa de qualquer investigação para isso, chega o que o próprio já confessou.

Não basta a Rui Rio ser eticamente rigoroso consigo mesmo. Tem de ser rigoroso com os seus, o que quase sempre é mais doloroso e difícil. Compreendo a resistência em acompanhar o acelerador do tempo que faz de um pequeno caso um caso enorme. Mas, por mais que se resista, a política faz-se sempre no contexto em que se exerce. E o tempo está mesmo mais rápido.

Dito isto, tenho, como alguém que está à esquerda, de fazer alguns agradecimentos. De tanto ler o Observador, o Correio da Manhã e os seus avatares nos vários jornais estava convencido que todos os trafulhas se acoitavam nas sedes do Partido Socialista e que toda a hipocrisia comia caviar nos acampamentos de verão do Bloco de Esquerda. Foi preciso que a direita fosse liderada por alguém que não é do agrado dos acólitos do passismo, uma versão empobrecida da nossa tradição sebastianista com boas relações nas redações, para que descobríssemos alguns tesourinhos deprimentes do PSD. E alguns já lá andam há tanto tempo e foram tão poupados antes de Rui Rio os escolher.

De tanto ler o Observador, o Correio da Manhã e os seus avatares nos vários jornais estava convencido que todos os trafulhas se acoitavam nas sedes do PS e que toda a hipocrisia comia caviar nos acompanhamentos de verão do Bloco. Foi preciso que a direita fosse liderada por alguém que não é do agrado dos acólitos do passismo, com boas relações nas redações, para que descobríssemos alguns tesourinhos deprimentes do PSD

Feliciano Barreiras Duarte passeou durante anos com um currículo martelado e nós fomos poupados às suas mentiras. Repentinamente, quando apareceu ao lado de Rio, tudo se ficou a saber. E não foi por não ter responsabilidades anteriores: foi um muito relevante secretário de Estado de Passos. Suspeito que José Silvano, feito comendador da Ordem de Mérito por Cavaco Silva, antigo presidente da Câmara de Mirandela, ex-administrador de seis empresas municipais ou públicas, coordenador da Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas (a ironia) e deputado entre 1995 e 1999, tendo voltado ao Parlamento pela mão de Passos Coelho, também não ganhou agora hábitos menos próprios.

Há, no entanto, um pequeno dano colateral deste streap-tease da direita: a oposição. Os deputados do PSD que querem apear o líder antes de serem apeados das listas têm-se esquecido que há um Governo e que estamos a um ano das eleições. Longe de mim querer acabar com esta solidão da esquerda, em que o BE e o PCP têm de fazer, por falta de comparência, de governo e de oposição. Mas não seria mal, nos intervalos das ações de sabotagem ao vosso líder, fingirem que se opõem a Costa. Não precisam de o sentir, mas podiam disfarçar. Mentiria se dissesse que sofro ao ver o PSD transformando no campo de batalha de Verdun. Mas, apesar de tudo, a democracia precisa de ter oposição ativa. Quando acabarem os ajustes de contas, que o sobrevivente venha cumprir a sua função.