Encontro presidencial

Um encontro “como irmãos” entre Marcelo e Bolsonaro

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Durante a cerca de meia hora que durou o encontro entre os dois chefes de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa e Jair Bolsonaro falaram sobretudo do acordo entre o Mercosul e a União Europeia

Texto Gustavo Basso

O Presidente Marcelo Rebelo, único Chefe de Estado europeu presente na posse do novo mandatário brasileiro, reuniu-se “como irmãos” com Jair Bolsonaro na manhã desta quarta-feira. “Foi uma conversa formalmente muito boa e substancialmente muito boa”, disse Marcelo. O Presidente brasileiro não conversou com a imprensa após o encontro.

A conversa, de aproximadamente 30 minutos, girou sobretudo em torno do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que vem enfrentando dificuldades desde a eleição do político brasileiro. Em novembro, após a eleição no Brasil, o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse ser contra assinar acordos comerciais com países que não respeitam o Acordo de Paris — criticado por Bolsonaro, que diz que o seu país pode abandonar o acordo.

“Portugal está "terminantemente fazendo o que pode para que [o acordo] seja fechado. [A negociação] tem sido, como sabem, complexa, mas é muito importante para as duas partes. No que depende de nós, é que na União Europeia, quem porventura tenha levantado problemas não levante estes problemas de tal forma que impeça um acordo que é essencial para a UE e o Mercosul”, disse Marcelo aos ao sair do encontro.

O Mercosul tenta há quase 20 anos conclujir um acordo de livre-comércio com países da União Europeia. Neste período, as conversas entre os blocos avançaram, recuaram, foram suspensas e retomadas. O ex-presidente Michel Temer dizia-se favorável ao tratado. Mas Jair Bolsonaro já se posicionou na defesa de acordos binacionais, em detrimento de soluções em bloco, e criticou a proposta que, segundo ele, defenderia interesses europeus.

“O pragmatismo obriga a que se tenha presente o que é útil, a ver além das relações bilaterais, também instrumentos de acordo multilaterais que, mesmo sem conteúdo ideológico, sem anteparo doutrinário, possam facilitar as exportações, o comércio, a circulação económica e financeira”, defendeu o presidente português sobre o tema.

Durante o coquetel servido no Itamaraty logo após a posse de Bolsonaro o Presidente Marcelo já havia defendido a assinatura do acordo, apontando que Brasil e Portugal possuem muitas semelhanças económicas em campos como energia, digital, turismo, novas tecnologias e ciências.

Outros pontos tratados no encontro, segundo o chefe de Estado português, foram a equivalência de diplomas e certificações profissionais; turismo; cooperação militar; cooperação bilateral económica; comunidade brasileira em Portugal; e os portugueses que vivem no Brasil - de perfil mais jovem do que os que vieram anteriormente para o país, informou. Sobre a informalidade e quantidade de brasileiros vivendo em Portugal, o Presidente diz apenas ter mencionado na reunião que a questão da mobilidade é importante e que há mais de 100 mil brasileiros para uma população total de 10 milhões.

Agenda internacional intensa

Além do Presidente português, Bolsonaro encontrou-se ainda nesta quarta-feira com o Ministro das Relações Exteriores dos EUA, Mike Pompeo, com Ji Bingxuan, Vice-Presidente do Parlamento Chinês, e com Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria e um dos principais nomes da extrema direita na Europa.

Paralelamente às reuniões com o presidente Bolsonaro, o novo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, reúne-se esta quarta com representantes de Angola, da Polónia, da Coreia do Sul, dos Emirados Árabes Unidos, de Singapura, do Japão e do Canadá.

Bolsonaro ainda participa na transmissão dos cargos de ministros da Casa Civil, Secretaria-Geral da Presidência, Secretaria de Governo, Segurança Institucional, e do Ministério da Defesa.

Está prevista uma visita oficial de Jair Bolsonaro a Portugal no fim deste ano ou começo de 2020, que será acordada entre as chancelarias de ambos países. Ainda na terça-feira da posse presidencial, Marcelo já havia antecipado que no encontro com Bolsonaro reforçaria a importância da atuação mais presente do Brasil dentro da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). “Não há CPLP sem Brasil. O Brasil é uma potência mundial, e tem de estar profundamente empenhado na CPLP para que a comunidade de língua portuguesa tenha "peso no mundo”, disse o Presidente na ocasião.