Justiça
Luís Filipe Vieira: do camião roubado às buscas na Luz
Em quatro anos o Estádio da Luz soma quatro visitas da Polícia Judiciária. Agora arguido no âmbito da Operação Lex, o presidente do Benfica vem colecionando investigações que, direta ou indiretamente, estão a pressionar a sua gestão nos tetracampeões
Texto Miguel Prado
Foi em 1993 que Luís Filipe Vieira foi condenado a 20 meses de prisão por um roubo de um camião, em 1984. Desde então o Benfica colecionou sete títulos de campeão nacional, cinco taças de Portugal, sete taças da Liga, e a presença em duas finais da Liga Europa, tornando-se também um dos mais bem sucedidos clubes nacionais no plano financeiro, com algumas das maiores transferências de sempre do futebol nacional. Contudo, nos últimos anos, Luís Filipe Vieira tem sido pressionado por sucessivas investigações judiciais.
Da operação Porta 18, de 2015, à “Operação Lex” (que resultou na sua constituição como arguido esta quarta-feira), Luís Filipe Vieira vem sendo alvo de um interesse crescente das autoridades. Alías, em quatro anos o Estádio da Luz foi alvo de quatro buscas da Polícia Judiciária.
Além da pressão para, no plano desportivo, dar ao Benfica o pentacampeonato, Vieira está a enfrentar uma conjuntura difícil na gestão do seu património empresarial: a empresa de projetos imobiliários Promovalor acumulou um passivo de quase 280 milhões de euros e foi forçada a negociar uma reestruturação da dívida com o Novo Banco. Uma reestruturação que envolveu a sociedade de capital de risco Capital Criativo, liderada por Nuno Gaioso Ribeiro, que é igualmente... vice-presidente do Benfica.
O que justifica o apertar do cerco das autoridades a um dos dirigentes desportivos mais influentes em Portugal? Não há uma resposta clara para a questão, mas o Expresso resume aqui os cinco principais casos em que Luís Filipe Vieira se viu envolvido nos últimos anos.
Porta 18
A Polícia Judiciária fez buscas no Estádio da Luz em agosto de 2015, no âmbito da operação Porta 18. No mês anterior as autoridades tinham detido José Carriço, que chegou a ser diretor do Departamento de Apoio aos Jogadores do Benfica e que foi motorista de Luís Filipe Vieira, por transportar 9,5 quilos de cocaína num veículo do Benfica. Durante vários meses a Polícia Judiciária detetou a entrada e saída de cidadãos colombianos pela Porta 18 do Estádio da Luz – daí o nome da operação. O diretor de comunicação do Benfica, João Gabriel, imediatamente assegurou que este era apenas um problema de justiça de José Carriço. “Nada a ver com o Benfica”, afirmou.
Vouchers
Em outubro de 2016, a Polícia Judiciária (PJ) volta ao Estádio da Luz, desta vez para recolher elementos para a investigação sobre as alegadas prendas que o Benfica entregava às equipas de arbitragem dos seus jogos do escalão principal de futebol: os kits do Eusébio e os vouchers de refeição. A investigação iniciou-se após uma denúncia feita em 2015 pelo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, sobre os vouchers que o Benfica dava aos árbitros dos seus jogos para refeições no restaurante A Catedral, além de camisolas oficiais do clube. O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) também avaliou a denúncia, mas decidiu arquivar o caso. O Sporting recorreu, mas o Tribunal Arbitral do Desporto não deu razão aos leões. Ainda assim, os elementos recolhidos pela PJ continuam sob análise em articulação com outras investigações sobre o Benfica.
E-mails
Em outubro de 2017 a PJ regressa à Luz. As buscas servem para recolher provas no âmbito de uma investigação sobre os e-mails do Benfica e uma alegada rede de influência do clube junto de figuras da Liga de Clubes e da arbitragem, denunciada pelo diretor de comunicação do Futebol Clube do Porto, Francisco J. Marques. A Procuradoria Geral da República confirmou as buscas na Luz, indicando que as investigações se baseavam em suspeitas de corrupção passiva e ativa.
BPN
É um processo antigo, mas foi em novembro último que a revista “Sábado” revelou que Luís Filipe Vieira tinha sido constituído arguido na investigação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e da PJ sobre alegados crimes de burla qualificada, falsificação e branqueamento de capitais que terão causado um prejuízo de pelo menos 23 milhões de euros ao antigo Banco Português de Negócios (BPN). Vieira respondeu à “Sábado” que “tudo foi devidamente esclarecido há três anos”, quando foi questionado no âmbito deste processo.
Lex
A “Operação Lex” é a mais recente: incluiu buscas da PJ no Estádio da Luz, na casa de Luís Filipe Vieira, e na casa e escritório do juiz desembargador Rui Rangel, realizadas esta terça-feira no âmbito de uma investigação sobre tráfico de influência. Em causa estão suspeitas de que Rangel tenha “vendido” favores a Luís Filipe Vieira na resolução de litígios em tribunal, nomeadamente de caráter fiscal. Vieira foi constituído arguido esta quarta-feira.