CLIMA

Cimeira de Paris abre com grandes esperanças

AQUECIMENTO As propostas de descarbonização das economias permitem que as temperaturas médias globais não subam mais de 2,7graus Celsius. Mas não chegam para atingir os objetivos FOTO REUTERS

AQUECIMENTO As propostas de descarbonização das economias permitem que as temperaturas médias globais não subam mais de 2,7graus Celsius. Mas não chegam para atingir os objetivos FOTO REUTERS

Centena e meia de chefes de Estado e de Governo abriram hoje a 21ª Conferência do Clima (COP21), em Paris. Mas só dentro de onze dias se saberá qual o verdadeiro compromisso alcançado para combater as alterações climáticas. Para trás contam-se duas décadas de negociações com avanços e fiascos

TEXTO CARLA TOMÁS

O que os países decidirem em Paris determinará a qualidade de vida das gerações futuras. Nos próximos 11 dias estão em cima da mesa as medidas propostas por mais de centena e meia de países, para reduzirem as suas emissões de gases de efeito de estufa, e o que é ainda preciso fazer para que os termómetros não subam em média mais de dois graus Celsius, a nível global, até ao final do século.

Apesar de ser visto como um sinal muito positivo para as negociações de Paris, o contributo destes 158 países apenas impede as temperaturas médias globais de subirem mais de 2,7 graus Celsius até 2100, face à média global registada na era pré-industrial. Tal não impedirá várias ilhas da Oceania de ficarem submersas, nem a ocorrência de múltiplos eventos climáticos extremos em vários pontos do Planeta. Simplesmente permitirá evitar os cenários mais catastróficos projetados pelos cientistas se nada for feito.

DIPLOMACIA Esta é a cimeira do Clima que mais chefes de Estado e de Governo reuniu em 20 anos. Alguns deles estão nesta foto de família tirada esta segunda-feira FOTO EPA

DIPLOMACIA Esta é a cimeira do Clima que mais chefes de Estado e de Governo reuniu em 20 anos. Alguns deles estão nesta foto de família tirada esta segunda-feira FOTO EPA

Rever e financiar

O sucesso da 21ª Cimeira do Clima depende de um acordo que vá mais além daquilo a que até agora cada Estado está disposto a dar. É necessário que o acordo final seja ambicioso ao ponto de os países se comprometerem de facto em concretizar as medidas propostas, aceitando que estas sejam vinculativas e possam ser revistas de cinco em cinco anos, com base na informação científica que for entretanto produzida.

Outra das exigências para que em Paris não se repita o fiasco de Copenhaga, em 2009, é que o acordo (que se espera ver assinado até 12 de dezembro) garanta a criação de um fundo climático global. É preciso que os países em vias de desenvolvimento tenham o financiamento necessário para reduzirem as suas próprias emissões e poderem adaptar-se ao que aí vem.

Para já, os países mais desenvolvidos prometem enviar 100 mil milhões de dólares anualmente, até 2020, para ajudar os mais pobres a enfrentar as alterações climáticas. Mas esta promessa tem de ser assinada nesta cimeira do Clima.

“Os investimentos que vamos fazer globalmente nos próximos 10 a 15 anos, e sobretudo os que faremos nos próximos cinco anos, vão determinar a qualidade de vida das gerações futuras", afirmou Christiana Figueres, a diretora executiva da Convenção Quadro da ONU para as Alterações Climáticas, em declarações ao jornal britânico “The Guardian”.

Ninguém quer assistir a um “fiasco”

Certo é que ninguém quer ver repetido o “fiasco” vivido em Copenhaga, em 2009. Então, em vez de um ambicionado acordo legal que garantisse a descarbonização das economias e o apoio financeiro aos países mais pobres, conseguiu-se apenas uma declaração política de que os tetos de emissões deveriam ser encolhidos até 2020, mas que tal dependeria de cada país.

O compromisso formal “ainda não está garantido” relativamente a um acordo vinculativo para conter a subida da temperatura média do planeta nos dois graus, afirmou esta segunda-feira o ministro português do Ambiente, João Matos Fernandes, à margem da sessão de abertura da COP 21. Porém, acrescentou otimista: “A garantia ambiental é muito forte”.

COMPROMISSO Barack Obama dificilmente aceitará um acordo que tenha de ser submetido ao Congresso norte-americano FOTO EPA

COMPROMISSO Barack Obama dificilmente aceitará um acordo que tenha de ser submetido ao Congresso norte-americano FOTO EPA

Certo é que países como a China e os EUA, têm hoje uma postura mais proativa do que tinham até 2009. Os dois principais poluidores globais acertaram-se, em 2014, quanto à necessidade de liderarem o processo de combate às alterações climáticas.

Os EUA propõem reduzir as suas emissões entre 26 e 28% até 2025, com base nos níveis de 2005. E a China, consciente de que é a principal emissora global de dióxido de carbono, aponta atingir o pico de emissões até 2030, começando depois a baixá-las.

Vinte anos de luta

Para trás contam-se duas décadas de Conferências das Partes pelo Clima, conhecidas pela sigla COP, de que Paris é a 21ª. As preocupações tornaram-se mais evidentes na Cimeira da Terra, em 1992. Foi no Rio de Janeiro que emergiu a Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas e que se assumiu que por detrás do aumento das concentrações de gases de efeito de estufa no planeta estava a mão humana, devido à poluição provocada por sociedades dependentes do carvão e do petróleo.

FOTO REUTERS

A primeira convenção das partes, conhecida pela sigla COP (ver cronologia) aconteceu três anos depois, em Berlim. Desde então já ocorreram mais 19, sendo de salientar a COP3, onde foi assinado o Protocolo de Quioto, que obrigou os países a reduzirem em média 8% das suas emissões tendo por base as de 1990. A 15ª Conferência das Partes, em 2009, ficou mais conhecida como “o fiasco de Copenhaga”, por não ter conseguido um acordo que sucedesse ao de Quioto para lá de 2020.

A COP de Paris é a que mais chefes de Estado e de Governo reuniu em 20 anos de luta contra as alterações climáticas: 147. Por La Bourget passarão ao longo destes 11 dias cerca de 25 mil delegados oficiais de 195 Estados e um total de 40 mil participantes.

Se nada for feito para limitar as emissões de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, o aquecimento médio global poderá aumentar quatro a cinco graus Celsius, o que significa valores muito superiores em alguns pontos do mundo. E isto a um ritmo muito acelerado.

Para que se compreendam melhor estes números, os últimos dados científicos indicam que em pouco mais de um século — desde a Era Industrial (finais do século XIX) até agora —, as temperaturas médias globais subiram um grau Celsius. E desde a Era glaciar, ou seja em milhares de milhões de anos, subiram cinco graus.