Política

PS furioso com Cavaco Silva: devia “ter piado mais” quando era Presidente

Cavaco Silva esteve esta quarta-feira na universidade de verão do PSD Foto Nuno Veiga / Lusa

Cavaco Silva esteve esta quarta-feira na universidade de verão do PSD Foto Nuno Veiga / Lusa

Antigo Presidente escolheu dois alvos para o seu regresso à ribalta: a geringonça e Marcelo. PS reagiu ao início da tarde desta quarta-feira e citou Sá Carneiro para contra-atacar o ex-presidente: “Não estamos na política para vaidade pessoal”

Texto Marta Gonçalves

A resposta foi dada no mesmo tom duro com que Cavaco Silva usou para criticar o atual Governo. Irritados com o ex-chefe de Estado, que nunca gostou de uma solução de Governo que envolvesse partidos que são contra a NATO ou o euro, os socialistas marcaram uma conferência de imprensa em S. Bento para rebater as palavras de Cavaco, esta quarta-feira de manhã na Universidade de Verão da JSD. E carregaram nas tintas. A essência da política é “a realização das pessoas”. E os políticos não a podem fazer pela “realização pessoal e vaidade pessoal”, começaram por dizer.

“[Cavaco Silva] fala aos jovens sobre a falta de reconhecimento e gratidão na vida política. Não estamos na vida política para a realização individual e vaidade pessoal. Estamos na vida política pela realização das pessoas. É essa a a essência e a nobreza da vida política”, disse Susana Amador, deputada socialista, no Parlamento, referindo-se ao facto de o antigo Presidente ter dito aos jovens que “ninguém deve esperar da política gratidão ou reconhecimento”.

Considerando as afirmações “desadequadas”, Susana Amador defendeu que Cavaco Silva “devia falar daquilo que é a política: que é o amor à cidade e à realização daqueles que compõe a sociedade”. E até citou Sá Carneiro: “A política deve aspirar à essência da realização das pessoas”.

Para o PS, a intervenção de Cavaco - que durou mais de uma hora -, revelou que o antigo Presidente “não está confortável nem se sente bem com o modelo e as políticas adotadas”. “Ficou evidente esse desconforto”, referiu Susana Amador. Outro dos pontos que deixa os socialistas “apreensivos” foi o facto de Cavaco “tantas vezes” falar no “regresso à censura”.

“Falar de censura, quando tem uma carga negativa tão grande para os portugueses, no contexto atual, que é de democracia, liberdade e defesa da Constituição, revela uma posição que nos surpreende pela falta de sentido em relação ao momento em que estamos a viver”, considerou a deputada.

Foto Nuno Veiga / Lusa

Foto Nuno Veiga / Lusa

Susana Amador disse ainda que ao longo dos quatro anos e meio em que Cavaco foi Presidente com o Governo PSD e CDS houve “uma gestão dos silêncios ensurdecedores” e que “se não fosse o Tribunal Constitucional muito pior teria sido o momento que os portugueses viveram”. “Não terá sido uma forma de censura o empobrecimento dos portugueses?”, questionou, lembrando que “há muitos estudiosos que consideram o empobrecimento como censura”. E acrescentou: “Gostaria que durante o tempo em que esteve na Presidência da República tivesse piado mais, ou seja, tivesse agido mais na defesa dos portugueses”.

Pouco depois do discurso do antigo Presidente na Universidade de verão do PSD, uma das primeiras reações chegou de Porfírio Silva. O deputado socialista eleito pelo círculo de Aveiro não poupa Cavaco e escreveu no Facebook que as “reacionarices” proferidas não têm nada de novo, “são o habitual num político que passou décadas na política sempre a fazer de conta que não era político”. “Bendita esta democracia em que as pessoas podem dizer aquelas coisas sem serem perseguidas.”

Cavaco Silva há muito que não falava sobre a vida política. Esta quarta-feira fez uma pausa. O ex-Presidente da República foi até à universidade de verão do PSD, que está a decorrer em Castelo de Vide, falar aos jovens. O tema era “Os jovens e a política: quando a realidade tira o tapete à ideologia” e foi quanto baste para tirar o tapete ao Governo das esquerdas. “De facto, caros jovens, na zona euro a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia”, disse num discurso que durou cerca de uma hora. “Os governos podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam sempre por se conformar com as regras da disciplina orçamental”, acrescentou.

Também Marcelo Rebelo de Sousa foi alvo de críticas. Sem nunca se referir o nome do atual Presidente, comparou-o a Emannuel Macron, Presidente francês, que entende que “a palavra presidencial deve ser escassa”, uma estratégia que “contrasta com a verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante”.

Cavaco Silva falou ainda do papel da imprensa e dos jornalistas. “Continuo a pensar que a independência em relação aos jornalistas é um princípio básico. A atitude que melhor serve o interesse do país e também o interesse pessoal dos políticos é o respeito pelos profissionais de comunicação social, mas mantendo distanciamento e não negociando o que publicam ou deixam de publicar.”

O tema da censura foi introduzido por Cavaco Silva na parte final da sua intervenção na Universidade de Verão do PSD e quando falava das eleições autárquicas que se realizam a 1 de outubro, momento para o qual pediu inspiração para os candidatos do PSD.

“Apesar das coisas estranhas que têm acontecido no nosso país, apesar de vozes credíveis afirmarem que a censura está de volta, estou convencido que os portugueses ainda valorizam a verdade, a honestidade, a competência, o trabalho sério, a dedicação a servirem as populações”, disse.