João Vieira Pereira

Opinião

João Vieira Pereira

Está tudo louco…

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Poucos se atrevem a afirmar que existe uma bolha imobiliária em Lisboa ou Porto. Preferem dizer que estamos perante um ajustamento de preços ou a uma aproximação às restantes cidades europeias. Até usam Barcelona como exemplo de uma cidade onde, anos a fio, o preço do imobiliário não para de subir.

Mas a bolha existe. Os dados do INE divulgados esta quarta feira mostram que as avaliações feitos pelos bancos, sempre mais conservadoras, sobem há 16 meses seguidos. Em média atingiram os 1187 euros por metro quadrado, mais 6,3% do que no ano passado, um fenómeno que se alastra a todo o país, excepto nas ilhas.

O valor por metro quadrado parece pouco, mas estamos a falar de uma média nacional. E mesmo assim um ganho de 6,3% torna, nesta altura, a habitação no melhor investimento que qualquer pessoa pode fazer.

Mas basta uma leitura aos jornais, uma passagem pela montra de uma imobiliária em qualquer zona do país (se ainda está de férias pelo Algarve fica aqui o desafio para uma experiência do 'outro mundo'), ou uma pesquisa na internet para sermos confrontados com preços exorbitantes que julgávamos impossíveis há poucos anos atrás.

Por todo o lado sucedem-se as histórias de rendas impossíveis ou de como um amigo alugou a sua casa no centro da cidade por vários milhares de euros. Não há quem não conheça alguém que vendeu a sua casa a um francês, brasileiro ou chinês, por uma pequena fortuna.

As causas são conhecidas. Taxas de juro em mínimos históricos, excesso de liquidez, política fiscal que fomenta a imigração de famílias com rendimentos elevados, vistos gold dados em troca de compra de imobiliário e o boom do alojamento local, fruto de um número de turistas que não para de bater recordes.

Já as consequências estão longe de estar assimiladas. É verdade que já se fala de gentrificação ao ponto do Governo ter avançado com medidas para travar a fuga das famílias do centro das cidades, mas o impacto deste movimento totalmente irracional no imobiliário vai muito além da repovoamento das cidades por turistas ou imigrantes de ocasião.

Está, por exemplo, a criar a ilusão junto de proprietários de que o seu rendimento aumentou apenas pelo facto de a casa onde vivem se ter valorizado. É verdade que o proprietário está mais rico, mas o seu rendimento mensal não cresceu. E à medida que as pessoas são expulsas do centro das cidades, zonas da periferia consideradas menos nobres começam também elas a sentir o aumento de preços. Esta subida generalizada dos preços da habitação, se não for acompanhada por um aumento generalizado do rendimento das famílias, nomeadamente em salários, provoca um empobrecimento de quem não é proprietário.

E por mais medidas que sejam colocadas para fomentar as rendas controladas ou o aluguer de longa duração irão ter um impacto diminuto se os preços continuarem a subir como nos últimos anos. Não há incentivo fiscal que valha a pena se for possível alugar uma casa por valores astronómicos.

No que respeita ao imobiliário estamos a aproximarmo-nos da loucura. Ao ponto de começar a cheirar a fim de festa. O que não é necessariamente mau, desde que não termine como um estrondo.