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Andamos nisto

Bernardo Ferrão

Caixa: já chega de brincadeiras!

A novela lamentável da Caixa a que fomos obrigados a assistir nas últimas semanas só surpreende os mais distraídos. Não é a primeira vez que a ação do Governo de António Costa resulta em episódios pouco transparentes e de óbvios conflitos de interesses. O PS, assim que chega ao Governo, trata o Estado como se fosse coisa sua. Nem as leis importam.

Como é possível alguém achar que se garantia o que se garantiu à administração da CGD e que tudo seguiria o seu rumo, nas entrelinhas, sem ninguém dar por nada?

Lembram-se de Diogo Lacerda Machado, que negociava em nome do Estado sem contrato? Lembram-se de Rocha Andrade? O secretário de Estado que viajou a convite da Galp, pouco lhe importando que essa mesma Galp estivesse em litígio com a administração fiscal por ele tutelada - já para não falar do perdão fiscal e da lista das “incompatibilidades” que disse que todos os membros do governo carregam. O que é que lhes aconteceu? Nada. É isso mesmo, não lhes aconteceu nada porque para o Governo é como se nada fosse.

A história da Caixa é mais um exemplo de como com António Costa, Centeno e companhia se joga em zonas cinzentas. Pouco transparentes. Garante-se aos homens que eles não têm de apresentar as declarações e pronto! Que importa a lei? Que importa o escrutínio? Como se a apresentação das declarações fosse um mero fetiche da Democracia. Ou servisse apenas para satisfazer a curiosidade dos juízes do Ratton.

Nesta história há obviamente muitos erros. É verdade que António Domingues esticou demasiado a corda e não esteve bem quando decidiu responder a Passos Coelho - nesse dia politizou a discussão. É também verdade que a CGD foi para o PSD uma boia de salvação em tempos muito difíceis para o partido e sobretudo para a liderança de Passos. Mas, mal ou bem, o PSD fez oposição e por mais que o PS e a restante esquerda se incomodem com isso, os sociais-democratas conseguiram o que queriam. Provaram, até à demissão de Domingues, como este episódio foi mal gerido, fruto de um amadorismo total e da tal forma socialista de olhar para a coisa pública.

Em vez de acusarem a direita de estar a pôr em causa o futuro da Caixa, compete ao Governo - depois de tudo o que a fez passar - assegurar esse futuro e ajudar o banco a regressar aos eixos. Arranjem uma nova administração profissional (e não prometam o que não devem) e dignifiquem a Caixa. E mais do que andarem sempre a propagandear as maravilhas do processo de recapitalização, tratem mas é de o pôr em prática. Todos percebemos os propósitos políticos do seu adiamento, mas esperemos que não voltem a brincar com coisas sérias. A crise da banca é demasiado dolorosa para ser esquecida.