Henrique Raposohenrique.raposo79@gmail.com

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

Cuba livre é Cuba cristã

Uma vez jesuíta, sempre jesuíta FOTO REUTERS

Uma vez jesuíta, sempre jesuíta FOTO REUTERS

Raul Castro foi educado num colégio jesuíta. Na crise de fé clássica, saiu da religião e entrou no comunismo. Agora, noutro movimento clássico, está a voltar à fé. No ano passado, depois de um encontro com Francisco I, disse aos jornalistas que ponderava voltar à Igreja. Os jornalistas começaram a rir-se, pensando que era piadinha. Não era. “Estou a falar a sério”, disse. Castro júnior não está sozinho na redescoberta da fé. Há um renascimento cristão na ilha, quer através da igreja católica, quer das igrejas evangélicas de inspiração americana e com o dedo dos exilados em Miami. Ou seja, o Muro de Berlim volta a cair com uma ajudinha da mensagem de liberdade do Evangelho. Francisco I é o João Paulo II de Cuba, até porque o Vaticano foi a ponte entre Obama e Raul no acordo histórico entre Havana e Washington.

Basta passar uns dias na Polónia ou na República Checa, por exemplo, para se compreender a importância da igreja católica na história da resistência às ditaduras comunistas. Não se compreende a queda do Muro ao longo de todo o Pacto de Varsóvia sem um olhar atento sobre a resistência clandestina da Igreja. Tomas Halik, por exemplo, foi bispo da igreja clandestina na República Checa. O filme repete-se agora; o renascimento cristão é contemporâneo da abertura cubana. O Natal e a Páscoa voltaram a ser feriados; pela primeira vez em décadas, a Igreja teve permissão para construir uma catedral em Havana; os crentes já não sofrem discriminação oficial e, claro, longe vão os tempos em que Fidel enviava crentes para campos de trabalho. Além disso, a Igreja já pode publicar imprensa própria, faz debates com dissidentes e o cardeal cubano negoceia diretamente com o Governo a libertação de presos políticos.

Comunismo como opressão, cristianismo como libertação. Foi assim no passado, está a ser assim no presente, quer em Cuba, quer noutros países. Olhe-se, por exemplo, para o fabuloso crescimento da fé cristã na China. As autoridades chinesas ainda recorrem aos velhos métodos usados por Fidel, ainda enviam cristãos para campos e prisões, mas a fé continua a crescer. Antes de ser política, a liberdade é teológica.