MERCADO DE TRABALHO

Soares dos Santos defende salário mínimo acima dos €600 euros

Alexandre Soares dos Santos defende a subida do salário mínimo, mas quer combater o absentismo laboral FOTO TIAGO MIRANDA

Alexandre Soares dos Santos defende a subida do salário mínimo, mas quer combater o absentismo laboral FOTO TIAGO MIRANDA

As empresas têm capacidade para suportar esse esforço, diz o empresário. Mas é preciso mais produtividade e menos absentismo. Entretanto, o presidente da associação têxtil ficou chocado com a proposta de António Saraiva e quer que o líder da CIP se explique

Texto Abílio Ferreira

Alexandre Soares dos Santos, o patrão do grupo Jerónimo Martins e presidente da sociedade Francisco Manuel dos Santos, concorda com a visão do presidente da CIP, António Saraiva, sobre o valor do salário mínimo. A economia portuguesa aguenta uma salário mínimo acima dos 600 euros? “Sim”, responde Soares dos Santos ao Expresso.

O empresário diz que aumento do rendimento das famílias “é positivo” e adverte que a medida deve ser acompanha do combate ao absentismo e com ganhos de produtividade.

Soares dos Santos distingue salário-base de remuneração total, incluindo subsídios ou prémios, mas defende que a referência mínima deve ser superior a 600 euros.

“Sou favorável a um salário mínimo superior a 600 euros, além de outros de outros prémios. O aumento do rendimento das famílias é em si positivo para o seu nível de vida e para o consumo. Como tal, para a economia como um todo”, escreve Alexandre Soares dos Santos na sua resposta.

Foto Tiago Miranda

Foto Tiago Miranda

Partilhar esforços

No atual contexto económico global, o empresário acredita “que as empresas têm de ter capacidade de suportar este esforço”. No entanto, adverte, esse esforço deverá ser partilhado pelos trabalhadores, “que devem responder com mais produtividade, menos absentismo e um maior compromisso com o sucesso das empresas”.

Do lado do Estado, “espera-se uma política remuneratória que não privilegie apenas os trabalhadores do sector público, devendo ter em conta uma política fiscal competitiva, para as empresas e para os cidadãos, que não traduza o aumento do salário mínimo em apenas mais uma fonte de receita, quer por via das contribuições para a segurança social, quer por via dos impostos sobre o rendimento e consumo”, acrescenta Soares dos Santos.

Choque nos têxteis

Paulo Melo, o empresário da Somelos que preside à Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), ficou chocado e pediu uma audiência ao presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva. Quer que Saraiva lhe explique a proposta de um salário mínimo nacional superior a 600 euros para 2019.

A ATP, tal como outras associações sectorais, “foi apanhada desprevenida pela declaração do presidente da CIP - declaração que nos merece um total repúdio”, diz Paulo Melo ao Expresso. Por isso, o industrial quer ouvir da boca de Saraiva a lógica que suporta tal proposta.

O aumento do salário mínimo “tem um efeito de arrastamento em toda a tabela salarial”, levando a uma subida considerável dos custos salariais.

Paulo Melo recorda que no último triénio o agravamento anual é da ordem dos 5%, obrigando as empresas a uma “ginástica permanente” para sobreviverem “num mercado global cada vez mais concorrencial”.

A indústria portuguesa beneficiou em 2017 da instabilidade da Turquia, mas este ano regista uma redução de encomendas de marcas internacionais, em boa parte transferidas para fornecedores turcos. A desvalorização da lira turca é uma vantagem adicional dos fabricantes locais.

Foto Nuno Botelho

Foto Nuno Botelho

Fazer bem as contas

O salário mínimo em Portugal “não é tão baixo como parece” porque são raros os países que pagam 14 meses. “É preciso fazer bem as contas, incorporando outros encargos como a TSU”, defende o presidente da ATP.

Além disso, a nova subida surge num ambiente especialmente adverso para a indústria. A energia e as matérias primas estão mais caras, pressionando as margens, e as encomendas estão em queda.

As variáveis “que no passado recente” favoreceram a recuperação da indústria têxtil e de vestuário portugueses “estão em mudança e poderão virar-se contra nós, forçando à redução do emprego”.

Mais deslocalizações, menos emprego

Paulo Melo receia que o agravamento salarial pode impulsionar a deslocalização de unidades para países de mão de obra mais barata, afetando o emprego em Portugal.

A fileira têxtil portuguesa emprega 140 mil e representa 8% do emprego na Europa. O segmento da confeção, dominada pelas costureiras, é o de mão de obra mais intensiva e o que regista uma maior volume de assalariados a receber o salário mínimo.

Tal como Paulo Melo, também Luís Onofre, presidente da associação representativa dos industriais de calçado, ficou surpreendido com a declaração do presidente da CIP. Mas uma posição institucional só depois de a direção debater o tema. Luís Onofre adverte “que não estamos sozinhos no mundo” e que “a concorrência aperta cada vez mais”.

A sobrevivência “exige mais rapidez, mais eficiência e preços mais baixos”. Para tal, todos os custos “têm de estar sob controlo”. E aumentos salariais terão sempre “de estar subordinados a ganhos de produtividade”, avisa Luís Onofre.