Ricardo Costa

Opinião

Ricardo Costa

Lone Star e a luta pelos NPL nacionais

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Fundos abutre, raiders, flibusteiros… Os nomes com que se mimam os grandes fundos internacionais como o Lone Star variam pouco e têm sempre em comum a acusação de trabalharem no curto prazo, de aproveitarem quebras súbitas dos mercados para tomarem posições firmes de grande escala e obterem ganhos fabulosos em prazos curtos, para depois seguirem para outras paragens. As acusações não são técnica nem politicamente erradas, mas escondem uma infeliz evidência. Fundos como o Lone Star e o Cerberus, ou veículos da Goldman Sachs e do J. P. Morgan, ocupam espaços que os mercados criam e com os quais os reguladores ou os governos não sabem ou não querem lidar.

Não foi por acaso que, na sequência do resgate de 2010, estes quatro fundos se transformaram nos maiores proprietários imobiliários da Irlanda. Ao comprarem carteiras imensas de bancos tecnicamente falidos, Lone Star, Cerberus, Goldman e J.P. Morgan passaram a ser, em muito pouco tempo, os maiores senhorios irlandeses e detentores de uma percentagem brutal das hipotecas do país. Isso levou a situações dramáticas e a enormes discussões políticas de que os fundos tentaram fugir. Mas a razão para a sua chegada à Irlanda era simples. Compraram a preço de saldo casas e prédios e foram resolvendo os casos à medida que o mercado cresceu. Só no ano passado os preços do imobiliário irlandês subiram, em média, 8%! Se alguém fizer as contas desde o resgate ficará a perceber a extensão de um negócio destes.

Um veículo com as principais carteiras de NPL dos bancos portugueses é o melhor negócio potencial que existe no país. Depois de se concretizar a venda do Novo Banco, fixem estas três letras: NPL

Acontece que o mercado irlandês, tal com o britânico, já tem pouco para explorar. As carteiras com ativos em dificuldade de pagamento e que pesam no balanço dos bancos – non performing loans (NPL) – quase já não existem. E é por isso que estes fundos estão a atravessar o Canal da Mancha e a procurar oportunidades semelhantes no continente europeu. O ano passado a Lone Star e o J.P. Morgan compraram o Propertize, o banco mau que tinha todo o imobiliário que ficou nas mãos do Estado holandês. E agora seguem para grandes mercados, como o italiano e o espanhol, e para outros mais reduzidos mas com bons negócios, como o português.

A entrada do Lone Star no Novo Banco, com o Estado sentado no assento de trás – longe dos pedais e do volante – é o início oficial de um movimento de maior escala e que passa pela criação de um veículo que limpe as carteiras dos bancos portugueses. Um veículo com as principais carteiras de NPL dos bancos portugueses é o melhor negócio potencial que existe no país. E é relativamente fácil apostar que acabará por ficar nas mãos destes fundos, em conjunto ou individualmente. Ainda não é certo que o Estado português consiga chegar a acordo com o BCE e Bruxelas sobre este veículo que limpe o balanço dos bancos nacionais, muito menos sobre a sua extensão ou variáveis jurídicas e financeiras, tal a complexidade do projeto. Mas não tenham dúvidas de que essa é a jogada da década e que mais vai fazer mexer o nosso sistema financeiro. Depois de se concretizar a venda do Novo Banco, fixem estas três letras: NPL.