DESPORTO

As 4,2 milhões de razões para o tour de Proença pela China

NEGÓCIO DA CHINA? Um pequeno passo para o Pedro, um grande passo para a portugalidade?

NEGÓCIO DA CHINA? Um pequeno passo para o Pedro, um grande passo para a portugalidade?

Expresso teve acesso aos drafts que Proença levou para a China. Nele, diz-se que a Ledman paga €4,2 milhões a três épocas e meia, e que os jogadores chineses não são uma obrigatoriedade. Clubes da II Liga não foram tidos nem achados

TEXTO PEDRO CANDEIAS e ISABEL PAULO FOTOS NUNO BOTELHO

O que Pedro Proença foi fazer à China, tê-lo-á feito por ele e pelos que lhe são próximos. Ao que o Expresso apurou, o presidente da Liga terá assinado os acordos de patrocínio e de parceria com a Ledman sem conhecimento ou o aval da direção e da Assembleia Geral da Liga. Mas já lá iremos.

O Expresso teve acesso aos dois drafts que Proença, enquanto presidente da liga, e Lee Martin, CEO da Ledman, terão assinado. No primeiro, o contrato de patrocínio, está escrito que a Ledman pagará à Liga (LPFP) €4,2 milhões, em tranches: €500 mil em 2015/16, a serem pagos a “20 de fevereiro de 2016”; €1,2 milhões em 2016/16, 2017/18 e 2018/19, em “duas prestações anuais por cada época”, no valor de €600 mil.

E é no segundo draft, o acordo de parceria, que surge a polémica questão dos jogadores chineses. “Em cada uma das épocas desportivas em que estiver em vigor o contrato de patrocínio da II Liga, a Ledman disponibilizará, no quadro de uma cooperação com outras entidades, uma bolsa integrada pelo máximo de 10 jogadores e três treinadores assistentes, a fim de poderem ser contratados pelas sociedades desportivas participantes nessa competição por ela patrocinada (Ledman LigaPro).”

Em nenhuma das cláusulas se diz que os clubes da II Liga serão obrigados a terem futebolistas chineses – a questão foi, aliás, colocada num comunicado da Ledman, que Proença não confirmou. O mais provável, portanto, é que a Ledman apresente contrapartidas financeiras aos emblemas que queiram receber os atletas orientais – não é uma imposição, mas uma ponderação.

Acresce que a Ledman pagaria todos os custos em que as sociedades desportivas participantes na “Ledman LigaPro [nome que a II Liga terá]venham a incorrer na escolha e contratação, designadamente despesas de viagem, estadia e alimentação”.

Fonte próxima da Liga confirma ao Expresso que a Ledman se terá antecipado a Proença, agindo em interesse próprio. 

À espera de Pedro

Em viagem pela China continua Pedro Proença e quando regressar não terá alvíssaras à espera. Os dirigentes que integram a comissão delegada da II Liga queixam-se de “estarem no escuro”, mesmo sendo sector das lâmpadas o negócio do anunciado salvador da prova conhecida por défices crónicos. “O que se está a passar é uma autêntica chinesada. O Pedro foi uma semana para a China e deixou-nos na escuridão”, lamenta António Fiúza.

O presidente do Gil Vicente acusa o líder da Liga Portugal de ter posto o carro à frente dos bois, negociando contratos sem conhecimento dos clubes. “Dos contornos do negócio sei o que vou lendo na comunicação social, mas desde já aviso que o Gil não se vende por 100 ou 150 mil euros por ano”, refere Fiúza, que espera para ver o que Pedro Proença tem para dizer na próxima semana. “O Gil não vai nisto de ter de contratar um, dois ou três chineses e muito menos de o treinador os ter de por a jogar, situação que até é ilegal”, remata.

Fonte próxima da Liga assume que Proença não ouviu os clubes antes de viajar para a China, mas garante que os mesmos “vão mais do que a tempo de serem ouvidos”.