LEGISLATIVAS

Passos acusado de ceder ao aparelho

Está fechado Cabeças de lista da coligação foram hoje anunciados. Programa eleitoral será conhecido na quarta-feira FOTO ALBERTO FRIAS

Está fechado Cabeças de lista da coligação foram hoje anunciados. Programa eleitoral será conhecido na quarta-feira FOTO ALBERTO FRIAS

Teresa Leal Coelho, que era deputada pelo Porto e é vereadora em Lisboa, encabeça lista de Santarém. João Almeida herda lugar de Portas como primeiro CDS em Aveiro. No PSD, as escolhas para os cabeças de lista começam a ser contestadas: “É só aparelho”. Faltam independentes e há muito Governo

TEXTO Bernardo Ferrão e Filipe Santos Costa

Se alguém achou que o processo das listas para as legislativas só era contestado no PS, desengane-se. No PSD, as críticas às escolhas de Passos Coelho (e de Marco António Costa) já se fazem ouvir, e não são simpáticas: “Não tem rasgo nenhum. É só aparelho e no pior sentido.”A acusação vem de dirigentes do PSD que não hesitam em rotular os cabeças de lista apresentados pela coligação como uma “cedência total à máquina partidária que nem é disfarçada.”

No rol dos escolhidos constam 3 presidentes das distritais do PSD. São os casos de Évora, de Castelo Branco, Guarda. Sendo que noutros casos, a aposta foi para ex-responsáveis locais do partido como Portalegre e Bragança (embora no segundo caso o cargo tenham sido exercido há vários anos). A agitação prende-se sobretudo com a falta de renovação e de “haver muito Governo entre os escolhidos”. Além dos sete que já constam no topo das listas, haverá outros ministros e secretários de Estado entre os candidatos. Marques Guedes, que tem a pasta da Presidência do Conselho de Ministros, deve seguir por Lisboa.

O PSD recusa as acusações e sublinha o grande esforço de mudança. Matos Rosa, secretário-geral do partido, concretiza: “Em 22 cabeças de lista, 15 são novos. No que toca às mulheres passam de duas para sete. E os homens que eram 20 passam a ser 15.” “Há uma renovação muito grande”, assegura.

Não é bem assim. Há sete cabeças de lista que se repetem (Aguiar Branco, Maria Luís Albuquerque, Teresa Morais, Abreu Amorim, Cristóvão Crespo, José Cesário e Carlos Gonçalves) mas, mesmo nos restantes, a renovação é relativa. Por exemplo, Passos Coelho é uma novidade como cabeça de lista em Lisboa, mas já o tinha sido em Vila Real. E, em posições igualmente destacadas, já se tinham visto, nas eleições anteriores, vários dos novos protagonistas: Luís Montenegro, Nilza Sena, Adão Silva, Carlos Peixoto, Luís Ramos e Teresa Leal Coelho - todos foram promovidos de nº2 ou 3 a cabeça de lista.

Teresa todo-o-terreno

Uma das maiores surpresas é, aliás, Teresa Leal Coelho. Foi uma das dirigentes do PSD mais próximas de Pedro Passos Coelho, e vice-presidente da bancada do PSD, tendo-se progressivamente afastado do epicentro de decisões do partido, mas volta à ribalta como cabeça de lista do PSD por Santarém. Posição em que substitui nem mais nem menos do que Miguel Relvas, o primeiro daquele distrito em 2011.

Uma decisão que também surpreende por contrariar uma das diretrizes aprovadas pelo próprio PSD, que no Conselho Nacional determinou que não haveria autarcas entre os candidatos a deputados - Leal Coelho é vereadora do PSD na Câmara de Lisboa (e foi candidata pela lista do Porto nas legislativas de 2011, o que faz dela uma das candidatas mais abrangentes do PSD em termos de cobertura territorial). Matos Rosa esclarece: “O que dissemos foi que não entravam nas listas autarcas com pelouros ou presidentes de Câmaras, o que não é o caso da Teresa Leal Coelho. Ela não tem pelouros.”

Três independentes, ma non troppo

Tal como previsto, todos os cabeças de lista foram indicados pelo PSD. Entre eles, há sete governantes: para além do primeiro-ministro, que encabeça os deputados por Lisboa, o rol inclui a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque (Setúbal), o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva (Braga), o da Defesa, Aguiar Branco (Porto), e ainda três secretários de Estado: Teresa Morais (Leiria), António Leitão Amaro (Viseu) e José Cesário (emigração - círculo fora da Europa).

Contando com os primeiros nomes do CDS já divulgados - Paulo Portas, Mota Soares, Assunção Cristas e João Almeida -, encontramos, para já, onze membros do Governo nas listas da coligação.

Os primeiros nomes da coligação incluem ainda três independentes - o mais conhecido, Carlos Abreu Amorim, embora não tenha cartão de militante já faz parte da família social-democrata, pois repete o lugar de n.º 1 por Viana do Castelo, tal como há quatro anos.

A ele juntam-se José Carlos Barros, igualmente com forte ligação ao PSD (é presidente da Assembleia Municipal de Vila Real de Santo António, autarquia onde já foi nº2, eleito pelo PSD - lidera lista de Faro) e Margarida Mano (vice-reitora da Universidade de Coimbra).

Almeida sucessor de Portas

Já era sabido que não haveria cabeças de lista do CDS, mas já foram divulgados os primeiros nomes dos centristas nos círculos mais importantes. Tal como o Expresso já havia adiantado em primeira mão, Paulo Portas troca Aveiro por Lisboa, para ser o número dois de Passos na capital.

Sintomática é a escolha de João Almeida para suceder a Portas pelo círculo de Aveiro. O secretário de Estado é natural de São João da Madeira, mas há quatro anos foi candidato pelo Porto. Agora, “herda” o lugar de Portas que sempre concorreu por Aveiro - tendo em conta que é um dos nomes na calha para a sucessão de Portas, quando este se afastar, não deixa de ser um sinal sintomático...

Assunção Cristas repete a candidatura por Leiria, mas Pedro Mota Soares salta de Lisboa para o Porto, onde o n.º 2 da lista é Marco António Costa. O ministro da Segurança Social ocupa, assim, o primeiro lugar do CDS no Porto, que costuma ser dado a figuras nacionais do partido - uma óbvia promoção, portanto.

Quarta-feira Passos e Portas aparecem juntos para o ato seguinte rumo às legislativas: o programa eleitoral da coligação será finalmente apresentado ao país. Conforme o Expresso antecipou na sua edição de sábado, a pouca novidade do documento estará em torno das políticas sociais, com a concretização de um Programa de Desenvolvimento Social.

(Veja em baixo a lista completa)