CONSUMO

Confiança dos consumidores em máximos de 17 anos

GASTOS Os consumidores preparam-se para gastar mais mas os economistas alertam para subida do recurso ao crédito TIAGO MIRANDA

GASTOS Os consumidores preparam-se para gastar mais mas os economistas alertam para subida do recurso ao crédito TIAGO MIRANDA

A confiança dos consumidores voltou a subir em fevereiro e atingiu o máximo desde 2000. Apesar de poder ser positivo para o crescimento económico, economistas mostram-se cautelosos e alertam para eventual subida do recurso ao crédito.

TEXTO ELISABETE TAVARES

A confiança dos consumidores voltou a subir e atingiu em fevereiro o máximo desde março de 2000 mas os economistas mostram cautela quanto às perspetivas futuras e alertam quanto a um possível aumento do recurso ao crédito por parte das famílias.

O indicador de confiança dos consumidores subiu de -6,2 em janeiro para -4,4 em fevereiro e o indicador de clima económico aumentou de 1,2 para 1,3, anunciou o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) esta segunda-feira.

Segundo o INE, o indicador de confiança dos consumidores beneficiou em fevereiro “do contributo positivo de todas as componentes, perspetivas relativas à evolução da situação financeira do agregado familiar, da situação económica do país e da poupança e, mais expressivamente, das expectativas relativas à evolução do emprego”.

O INE destaca que o aumento do indicador entre setembro e fevereiro foi mais expressivo nos últimos três meses.

Os economistas mantêm a expectativa de um crescimento da economia portuguesa de 1,5% em 2017. E apontam que apesar da situação financeira débil, enquanto o país tiver acesso ao programa de compras de ativos do Banco Central Europeu, está a salvo de problemas maiores.

“A economia portuguesa está a surpreender pela positiva certamente, em parte, porque o país continua a beneficiar do programa de compra de ativos do BCE”, diz Claus Vistesen, economista-chefe da zona euro da ‎Pantheon Macroeconomics.

Refere que “as perspetivas para a economia portuguesa no curto prazo continuam a ser fortes”.

“É um dado positivo que reflete a diminuição do desemprego e do clima positivo de crescimento económico em toda a Europa”, afirma Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros.

Frisa que “também se deve ao sucesso do turismo em Portugal que tem permitido dar emprego a mão-de-obra latente”. A taxa de desemprego em Portugal situou-se em 10,2% em dezembro, o valor mais baixo desde abril de 2009.

“Podemos esperar nos próximos meses um aumento do consumo e do recurso ao crédito ao consumo. E é de esperar um contributo favorável da procura interna”, diz.

Teresa Gil Pinheiro, economista do BPI, lembra que esta subida da confiança dos consumidores também se deve à “reposição do rendimento na administração pública”, além da descida do desemprego e de notícias positivas sobre as contas públicas. “Dá a ideia de que as pessoas poderão gastar um pouco mais nos próximos meses”, diz.

Mas esta economista aponta que “é melhor esperar pelos indicadores de atividade económica” para medir o impacto deste indicador em termos reais. Até porque, lembra, “a taxa de poupança em Portugal está em mínimos históricos e, apesar do aumento da confiança, poderá haver um comportamento mais cauteloso por parte das famílias”.

“O aumento do consumo é bom mas não é suficiente para criar um crescimento sustentável. Este ano o crescimento da economia deverá ser sobretudo suportado por um reforço do investimento, que em 2016 foi muito baixo, e pelas exportações”, aponta.

“Em 2017 o ideal seria conseguir-se uma tendência de aceleração do ritmo de crescimento que tem sido sempre abaixo dos 2%, o que é pouco”, afirma a mesma economista.

Sentimento económico na zona euro em máximos de 2011

O sentimento económico na zona euro aumentou em fevereiro, como esperado pelos economistas, graças a um maior otimismo nos sectores da indústria e serviços, apesar de uma descida no sentimento dos consumidores e nos sectores do retalho e construção.

O índice de sentimento económico, divulgado esta segunda-feira pela Comissão Europeia, mostra uma subida de 107,9 em janeiro para 108,0 em fevereiro.

Este indicador de sentimento de confiança na zona euro mostra que os receios e ameaças que a região enfrenta em 2017 não estão, para já, a ter eco nas empresas e negócios.

As eleições em França e a situação em torno da dívida na Grécia estão entre os fatores que têm sido apontados como ameaças à zona euro este ano.

“Os dados sobre confiança do consumidor e empresas sugerem que a incerteza política ainda não está a afetar o crescimento da zona euro, que parece que acelerou no início deste ano”, afirma Jennifer McKeown, economista da Capital Economics numa análise aos dados hoje divulgados.

A Capital Economics reviu esta segunda-feira em alta a sua previsão de crescimento económico na zona euro em 2017 de 1,0% para 1,3%.

“Ainda vemos o crescimento na zona euro a abrandar à medida que o ano for avançando, com uma inflação mais alta a afetar o aumento dos gastos dos consumidores e eleições pendentes a trazer riscos políticos para a mesa”, frisa na mesma análise.