Opinião
Amanhã
Henrique Monteirohmonteiro@impresa.pt

Chamem-me o que quiserem

Henrique Monteiro

Ainda bem que a Caixa é pública!

Antes de afiarem as facas, deixem-me já afirmar que não tenho a certeza sobre quase nada nesta matéria. Muito menos se um banco como a CGD deve ser público ou privado. Como representante dos pouco sofisticados, ou mesmo básicos, na Comunicação Social, há coisas que não sei. Mas não saber é diferente de não ver.

Em Portugal havia bancos considerados excelentes: o BCP, o BES, a Caixa, o Totta. Depois o Totta foi o primeiro dos grandes a ser vendido a um banco estrangeiro, o Santander, e houve praticamente uma comoção nacional. Em breve – dizia-se - a excelente marca Totta desapareceria e daria lugar à inenarrável marca Santander (o que ainda não aconteceu). Os anos foram passando, todos os bancos, à exceção da Caixa, que é pública, e do BES, que foi dominado por uma família da forma que agora se começa a perceber, passaram a ser dominados por estrangeiros. E em comum, com exceção do BPI e do Santander Totta, todos nos custaram dinheiro, imenso dinheiro. O facto de a Caixa ser pública não beneficiou, que eu saiba, os contribuintes.

Convém lembrar que o BPI tem como executivo aquele senhor que a maioria da esquerda abominava por ter dito, a propósito da austeridade em Portugal, que o povo “aguenta, aguenta”. Foi uma tragédia! Porque em Portugal dizer a verdade é uma tragédia. Nós temos os nossos mitos e é deles que devemos falar. Por exemplo: a Caixa Geral de Depósitos é fundamental para os pequenos investidores e pequenas e médias empresas. Será por isso que custa tanto ao país? Temos, em conclusão, de pagar para ter um banco que é fundamental para empresas que de outro modo (parece) não se aguentariam?

A Caixa Geral de Depósitos, que o anterior Governo parece ter desprezado ao ponto de a deixar cair e o atual parece ter feito tudo para a afundar, como meio de ter uma boa desculpa para o que corre mal, dizem que é um excelente banco português. Mas os serviços que conheço deixam muito a desejar. Basta comparar o ‘netbanking’ do Totta ou do BCP com o da CGD e vê-se logo a diferença. Mas a CGD tem, sobretudo, uma questão prévia, que está sempre no centro da discussão: deve ser pública ou privada?

Gostava de dizer que, do meu modesto ponto de vista, tanto me faz. Eu não acredito em centros de decisão daqui ou dali. Acredito mais em serviços prestados ao cidadão. Se o BCP ou o Totta, ainda que angolano ou espanhol, prestam serviços melhores; se o BPI, ainda que catalão, é mais seguro, tanto me faz a existência da CGD. A CGD só podia ser uma referência caso ajudasse à regulação, sobretudo na relação com os clientes. Mas já vimos que não é isso que acontece. Tem, isso sim, ajudado mais à promoção de políticas públicas nas quais outros bancos não entram… por algum motivo.

O caso da CGD tem a ver com o caso mais geral do Estado e da conceção do Estado português. Basta contactar um serviço público qualquer, pessoalmente ou através da Internet, para perceber algo tão simples como isto: o nosso Estado acha que nós, cidadãos, estamos ao seu serviço. Não nos entende como destinatários do serviço que ele presta, mas sim como guardador ou zelador de indivíduos que não sabem tratar deles. Por isso, antes que um banco malvado (que seria necessariamente privado) engane um ou vários pequenos investidores ou comerciantes, pensa-se que lá está a CGD para evitar esses males.

No fim de tudo temos de pagar 5,1 mil milhões de euros. É o preço do serviço que, na cabeça deles, nos prestam. Os impostos que pagamos ou o facto de nunca termos tido negócios, investimentos ou sequer contas na CGD, não interessam nada. O que interessa é que vamos salvar aquele banco do Estado pagando ainda mais do que a escandaleira que já foi pagarmos os bancos privados pela sua má gestão.

Só que neste caso nem vamos perceber como chegámos aqui; nem vamos processar ou prender qualquer gestor, nem vamos saber quem deu cabo daquilo tudo.

Conhecem a sede da CGD em Lisboa (aquele edifício a que costumamos chamar Ceaucescu, em homenagem ao megalómano ditador comunista romeno)? Olhando bem, está lá tudo!

 

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Amanhã

FADO

CONCERTOS NA BAÍA DE CASCAIS

Cuca Roseta e Mariza (na foto acima) são os principais destaques desta sexta-feira nas Festas do Mar, em Cascais. As duas fadistas atuam na baía e a entrada é gratuita. As festividades prosseguem até domingo, com vários concertos (e com fogo de artifício a encerrar a edição deste ano).

FESTIVAL

MÚSICA ELETRÓNICA NO CASTELO

A terceira edição do Festival FORTE, que começa esta quinta-feira no castelo de Montemor-o-Velho, mostra esta sexta-feira alguns dos nomes mais poderosos da música eletrónica. As atuações — onde se contam nomes como Manu, Shcuro, Helena Hauff, Ancient Metods, Rrose, Trade Blawan & Surgeon ou Ben Klock — começam pelas 22 horas e prolongam-se até às 9 da manhã. O bilhete diário tem o custo de €40 e o passe geral (que inclui entrada em todos os concertos até sábado) está disponível a partir de €90.

CINEMA

O IDEAL FAZ ANOS

O Cinema Ideal, em Lisboa, comemora este domingo dois anos de existência e a festa é feita com sessões de cinema gratuitas durante os próximos dias. Esta sexta, são exibidos “Mommy” (na imagem acima), de Xavier Dolan, “Montanha”, de João Salaviza, e “Os Cartoonistas”, de Stéphanie Valloatto. A entrada é gratuita e as sessões estão marcadas para as 14h, 17h e 18h45. Os bilhetes devem ser levantados no próprio dia, embora os dos filmes das 14h possam ser levantados na véspera.