CLIMA
Temperaturas bateram recordes e o calor está para durar
UFF! Lisboetas e turistas apanham banhos de sol durante uma das vagas de calor de junho
O primeiro semestre de 2015 registou a temperatura média máxima do ar mais alta dos últimos 85 anos, mas até agora é apenas o nono mais quente desde que há registos
TEXTO CARLA TOMÁS FOTOS TIAGO MIRANDA
Os termómetros chegaram a 43,2 graus Celsius, em Beja, a 29 de junho passado, marcando esse dia como o mais quente do ano em todo o país. Mas se os calores do interior alentejano não são novidade, já o facto de o valor médio da temperatura máxima do ar em Portugal ter chegado a 20,6 graus Celsius, no primeiro semestre, coloca 2015 no “hot top” dos últimos 85 anos, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Porém, “este primeiro semestre revela que é apenas o nono mais quente”, desde que começaram os registos, em 1931, tendo em conta o valor médio da temperatura do ar, que se ficou por 14,13 graus Celsius (0,94 graus acima da norma), esclarece a meteorologista Vanda Cabrinha Pires.
A contribuir para estes resultados estiveram quatro ondas de calor — de 27 de março a 7 de abril; de 9 a 15 de maio; de 21 de maio a 10 de junho e de 25 a 30 de junho — a marcar uma primavera com temperaturas acima da norma para a época.
Virá este a ser o ano mais quente de sempre?
E estas ondas não passaram só por cá. A temperatura média global do Planeta atingiu 16,33 graus Celsius (0,12 acima do recorde até aqui), de acordo com os dados do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). E a nível global os termómetrosas atingiram temperaturas em junho que ultrapassaram os rankings até agora. Isto levou a cientista Jessica Blunden, do NOAA, citada pelo jornal britânico “The Guardian”, a antecipar que “há poucas hipóteses de 2015 não vir a ser o ano mais quente de sempre”.
Em parte, a entrada em ação do El Niño pode estar a contribuir para a subida dos termómetros em várias partes do mundo, mas este fenómeno não explica tudo. E no caso de Portugal não explica nada.
E podemos falar aqui de consequências das alterações climáticas? Vanda Pires argumenta que “por enquanto não podemos associar a nada”, já que “para falarmos em variabilidade climática, a análise tem de ser feita com base nos dados do ano inteiro, e só temos os dos primeiros seis meses”.
Um bom verão
Tudo indica que este vai continuar a ser um bom verão. As previsões do IPMA (com base nos dados do Centro Meteorológico Europeu) para as próximas quatro semanas são “relativas”. Mas é quase certo que os termómetros se vão manter entre os 27 e os 30 graus em Lisboa e em Faro, pelo menos ao longo dos próximos 10 dias, não superando os 24 graus no Porto. São boas notícias para quem entra agora de férias e que tem a má memória de um agosto pouco quente em 2014.
Mas se para quem anda a banhos, o calor e a inexistência de chuva são uma bênção, já para os agricultores, podem vir a trazer amarguras. “Os valores de precipitação nos primeiros seis meses do ano estão abaixo do normal e daí uma situação de secura com consequências já evidentes para as pastagens”, explica Vanda Pires.
No primeiro semestre de 2015 foram registados 258,8 milímetros de precipitação, um valor substancialmente inferior ao médio dos últimos 85 anos (461 mm) para o mesmo período, o que coloca o país sob uma seca meteorológica. Se as chuvas não vierem com o outono, pode mesmo resvalar para uma seca hidrológica, com consequências mais nefastas para a agricultura e o abastecimento de água em algumas zonas do país.