CONSUMO

Happy Meal para crianças muçulmanas passou a ser... de pão com pão

CRIANÇAS O apelo lúdico das refeições infantis na cadeia McDonald's sai chamuscado quando as crianças muçulmanas deixam de encontrar um sanduíche acessível, associado aos brinquedos do Happy Meal D.R.

CRIANÇAS O apelo lúdico das refeições infantis na cadeia McDonald's sai chamuscado quando as crianças muçulmanas deixam de encontrar um sanduíche acessível, associado aos brinquedos do Happy Meal D.R.

Uma tarde divertida: cinema, lanchar no McDonald's com os miúdos e brincar com a prenda que vem no Happy Meal. Certo? Errado. Pelo menos se as crianças em causa forem muçulmanas

TEXTO CHRISTIANA MARTINS

“Olá, bom dia. No dia 16 de dezembro levei várias famílias de refugiados sírios a jantar ao McDonald's, antes de irmos a um concerto de Natal. foi com surpresa que percebi que acabaram com o menu de peixe e que o menu vegetariano não existe em formato Happy Meal. Ora, quatro das crianças que estavam comigo tinham entre os dois e os nove anos, e, sendo muçulmanas não podem comer carne que não seja halal [preparada de acordo com a lei islâmica]. Foi com tristeza que comeram apenas o pão, sem nada, tendo de pagar o mesmo preço de um Happy Meal normal. Sabendo da preocupação que a McDonald's sempre teve no combate à discriminação, venho, por este meio, manifestar o meu desagrado pela solução encontrada e sugerir que encontrem um menu infantil que possa ser resposta não só a crianças muçulmanas mas a outras que são vegetarianas. Agradeço a vossa atenção e fico a aguardar uma resposta. Cumprimentos”.

Foi assim que Rosário Farmhouse, ex-Alta Comissária para as Migrações, dirigiu-se à cadeia de alimentação por e-mail para se queixar de uma situação vivida no fim de 2016. No dia seguinte, a McDonald's respondia, explicando que com a introdução do McVeggie, “em termos operacionais” não é possível manter a opção peixe nos restaurantes. Assim, no Happy Meal, explica o departamento de serviço ao cliente, “poderá optar pela carne de vaca do hambúrguer ou Cheese Burguer ou pelo frango dos Chicken McNuggets”.

Para concluir: “E, porque procuramos diversificar constantemente a nossa ementa, optámos por lançar o McVeggie com vista a criar uma oferta inovadora e atual, nos nossos restaurantes. Lamentamos a sua deceção e convidamo-la a vir experimentar o novo McVeggie no restaurante McDonald's mais próximo!”

A troca de correio eletrónico teve direito a uma resposta de Rosário Farmhouse, explicando melhor as exigências do cumprimento do preparo da carne de acordo com as normas da lei islâmica e que, por isso, as alternativas oferecidas não eram viáveis. Assim como que nenhuma das soluções propostas resolvia a situação quanto ao brinquedo do Happy Meal, acabando por sugerir apenas que o novo sanduíche vegetariano passasse a integrar o menu infantil, “de modo a permitir que estas crianças [muçulmanas e vegetarianas] possam comer no McDonald's sem se sentirem excluídas”.

Questionada pelo Expresso, a responsável pela comunicação da McDonald's em Portugal confirmou a decisão de eliminar o McFish, alertando, contudo, que um produto de peixe poderá voltar a ser introduzido na ementa da cadeia de restauração no futuro. Assumiu ainda que houve “algumas questões de consumidores”, situações consideradas normais sempre que há alterações na oferta.

D.R.

D.R.

Católicos reforçados

Se a cadeia parece ter descurado de alguma forma do público infantil muçulmano, o mesmo não parece poder ser dito dos consumidores católicos. Com apenas quinze dias de intervalo, a McDonald's abriu restaurantes em dois dos mais importantes centros da Igreja Católica: O Vaticano e a Fátima.

Em Portugal, a unidade abriu a 16 de dezembro e está localizada junto à rotunda Norte de Fátima. Uma inauguração que antecipa em cinco meses a deslocação do Papa Francisco ao santuário, onde, a 13 de maio, são esperadas cerca de um milhão de pessoas.

No Vaticano, a abertura aconteceu a dois dias do fim de 2016 e mereceu a classificação de “uma desgraça” por parte do cardeal Elio Sgreccia ao jornal “La Repubblica”, ainda antes da inauguração. Os jornais explicam que o edifício onde se localiza o novo restaurante é propriedade da Santa Sé, cuja renda é no valor de 28.500 euros.

Em resposta ao Expresso sobre estas aberturas, a porta-voz diz que “resulta de um trabalho de análise das oportunidades, necessidades e expectativas de cada região”.