Acha que a política é aborrecida? Então é porque nunca leu estas promessas

Se pensa que a política é uma coisa aborrecida, é porque deve andar distraído. Estamos em tempo de autárquicas e, um pouco por todo o país, os candidatos surpreendem-nos com ideias criativas. Do London-eye instalado no Barreiro, passando pela “movida oeirense” e pelo cartão exclusivo para “tripeiros”, há um mundo de ideias fora da caixa para descobrir

Texto Mariana Lima Cunha Ilustração Tiago Pereira Santos

Já imaginou uma cidade algarvia que contasse com tantos casinos como o Mónaco? E se pudesse subir a uma roda gigante para ter uma vista impressionante não sobre o Tamisa, mas sobre o Tejo? Então e se, chegado a certa região portuguesa, pusesse os euros que guarda na carteira de lado, para os trocar por outra moeda mais original?

Estas são apenas algumas das medidas que podem mesmo vir a ser postas em prática, a partir do dia dois de outubro. O que têm em comum é fugirem ao convencional e deixarem-nos indecisos, a pensar se a ideia é muito boa e fora da caixa ou é só esquisita. Fizemos o (divertido) trabalho de casa, agora só tem de ler e julgar por si:

Ruas de um sentido em Lisboa

As expressões dos outros candidatos durante o debate na RTP que juntou todos os aspirantes à Câmara de Lisboa diziam tudo. José Pinto Coelho, do PNR, tem a solução para o congestionamento do trânsito em Lisboa: “Passar quase todas as ruas de Lisboa a um só sentido, porque descongestiona o trânsito e aumenta o número de lugares para os carros nas ruas, passando a arrumar em espinha”. Uma solução, defendeu, que ajudará a “escoar” as ruas da capital.

Uma proposta para recordar

José Manuel Costa Pereira já disse que o seu resultado, no Porto, nas autárquicas de 2013 (conquistou apenas 0,24% dos votos) foi “para esquecer”. Mas desta vez, é certo que o candidato pelo PTP não quer ser esquecido e arranja nomes sonantes para as suas propostas: exemplo é a criação do “Cartão Tripeiro”, um cartão multisserviços que dará acesso a descontos nas lojas aderentes. E, já agora, também anda sempre com o seu característico chapéu, de forma a não ser esquecido nem difícil de identificar.

Esta cidade não é para gaivotas

Ainda pelo Porto, Álvaro Almeida, do PSD, resume num documento da sua campanha as 21 prioridades do seu programa. Entre elas, em lugar bem destacado (11º), está o controlo daquilo a que chama a “praga das gaivotas”: “um perigo para a saúde pública e um incómodo que tem sido ignorado” pelo atual executivo camarário.

O euro já era

Na Guarda, o candidato socialista, Eduardo Brito, já declarou que quer “trocar” os euros por “sanchos”. Esse seria o nome da moeda local, totalmente em formato digital e disponível em cartão ou no telemóvel. O sistema é o mesma que se usa para os bitcoins, o que coloca Guarda muito “à frente”, pelo menos, no que a tecnologia diz respeito.

Barreiro-eye

Esqueçam o icónico London-eye: uma nova roda gigante poderá vir a instalar-se no Barreiro, onde a campanha socialista à Câmara, liderada por Frederico Rosa, promete “ousar sonhar e ambicionar”. Num vídeo em que apresenta o “eterno potencial” do Barreiro, a candidatura detalha os planos: a roda terá 100 metros de altura e a “melhor paisagem sobre Lisboa, estuários de Coina e Arrábida”.

Uma Câmara de luxo

Também em Portimão se contam as moedas, neste caso as que o edifício municipal poderá passar a gerar. Tudo por causa de uma proposta do Nós, Cidadãos!, aqui liderado por Mário Cintra (ex-militante do PSD), que quer construir naquele edifício um hotel de cinco estrelas e um casino, “mantendo o edifício a sua fachada principal”, diz ao site “Algarve Marafado”. “O edifício é dos portimonenses, só que vai ser valorizado, através da construção de um hotel casino em troca de à volta de 100 milhões de euros”. Quanto a Portimão já ter casino, como diz na mesma entrevista, não há problema: afinal, “o Mónaco tem mais do que um casino”, recorda, por isso Portimão pode ter “dois, três ou quatro”.

Aeroportos ou rotundas, eis a questão

Foi acusado de megalomania assim que apresentou a ideia: Manuel Machado, que quer continuar a liderar a Câmara de Coimbra pelo PS, quer construir um aeroporto na cidade, através da transformação do atual aeródromo.

Entretanto, há quem não tenha tanto apreço pelas obras de Manuel Machado e se proponha a reverter o “legado” do atual autarca. Jaime Ramos, o candidato do PSD/CDS que se apresentou em entrevista à Renascença como o “príncipe encantado” que quer “despertar” a cidade, está tão cansado das obras de Manuel Machado - neste caso, das rotundas, que diz ser “o conjunto de monumentos” que caracterizam a obra do atual autarca - que até criou uma plataforma para apagar essa herança. No site menosrotundas.pt, os cidadãos podem votar no projeto que querem ver o candidato a concretizar nos próximos quatro anos… gastando exatamente o mesmo dinheiro que Machado gastou em rotundas.

Rasgo, ambição e bicicletas para todos

Por falar em grandes obras, houve risos no Parlamento quando Assunção Cristas apresentou o seu projeto para a expansão do metro de Lisboa, que implica a construção de vinte novas estações. A candidata centrista defende que é preciso ter “rasgo e ambição” para concretizar esta ideia e até já detalhou, no seu programa, as duas fases que a grande expansão implicaria.

Também em Lisboa, há quem se queixe do preço dos transportes: Joana Amaral Dias , que se candidata pelo movimento Nós, Cidadãos!”, pede uma “discriminação positiva” para os residentes, que, na sua ótica, não deveriam pagar bilhete. Para o resto, a estratégia seria “carregar” no preço.

Não são os únicos: no seu programa para Lisboa, o Bloco de Esquerda declara a vontade de continuar a perseguir “o objetivo estratégico de tarifa livre e defesa da gratuitidade por toda a população residente e presente”, começando por assegurar passe grátis a idosos, desempregados e estudantes. Mas o partido, que defende uma maior aposta nas ciclovias, acrescenta a ideia de um “programa de ensino de condução de bicicleta em todas as escolas até ao 6º ano”, de forma que ninguém fique apeado.

Arrancar os parquímetros com as próprias mãos

Este texto podia ser todo ele dedicado a André Ventura, o polémico candidato do PSD a Loures. Podíamos falar-lhe da ideia de “criar um exército” com a polícia municipal de Loures para proteger o concelho, ou da vontade de “reconquistar o Parque das Nações” ou, pelo menos, receber uma “compensação financeira” por Loures “ter perdido aquela zona” para Lisboa. “Caso contrário”, dizia em entrevista ao site Notícias ao Minuto, “o presidente da Câmara Municipal de Lisboa passa a ser persona non grata em Loures”.

Ao Expresso, Ventura assegurou que, apesar de todo o catálogo de medidas ter “originalidades”, uma delas seria claramente a primeira do seu mandato: começaria por arrancar um parquímetro com as próprias mãos. E continuaria, concelho fora, a fazer o mesmo.

Oeiras vai ter “la movida”

Isaltino Morais pode ter sido autarca de Oeiras durante 24 anos, mas está pronto para “um novo ciclo”. E esse inclui muita animação: incluindo uma nova rede de praças e espaços culturais em Oeiras que poderão contar com ecrãs que transmitirão espetáculos em simultâneo. “Vou trazer a movida a Oeiras”, assegurou esta semana ao Expresso.