Bernardo Ferrão

Andamos nisto

Bernardo Ferrão

Quantas temporadas tem a série “O PSD de Rui Rio”?

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Há duas semanas elogiei Rui Rio pelo seu pacote para a natalidade. O líder do PSD não só mostrava iniciativa como apresentava medidas que tocam em questões essenciais para um país envelhecido. Só que uma alternativa não se constrói com um punhado de ideias atiradas para a praça pública. É preciso dar-lhes sequência ou, se quiserem, consequência.

A Rui Rio tem faltado compromisso. Abrigado pelo “interesse nacional”, uma muleta que repete enquanto adia posições mais fechadas, Rio age como se tivesse todo o tempo do mundo. Se lhe perguntam pelo Orçamento do Estado, diz que se for contrário ao “que o país necessita” chumbará – Fernando Negrão prefere o “veremos”. Se lhe perguntam pela reforma da Justiça, recusa liderar esse processo. Se lhe perguntam pelo SNS, alarga a discussão a “todos os partidos”. Se lhe perguntam pelos professores, responde com os salários dos funcionários públicos sem nunca ser claro sobre o que defende.

Com António Costa a revelar sinais de desgaste, Rui Rio e a sua direção mostram-se titubeantes, o que também alimenta a guerra interna com a bancada. É justo reconhecer que o PSD tem agarrado alguns temas importantes mas depois abandona-os sem uma razão evidente. Aconteceu nos casos Montepio, Sócrates, Manuel Pinho entre outros que condizem com a cor da pele do líder social-democrata mas que não foram continuados. É como se a série do “PSD de Rui Rio” tivesse argumento para apenas uma temporada.

As sondagens revelam que os socialistas estão afastar-se do sonho da maioria que os próprios alimentaram. Mas dizem pior do PSD: quase nem mexeu com a chegada de Rui Rio. O centro-direita está órfão. Vazio de liderança e iniciativa

Sem concretização estratégica, o PSD alimenta outros problemas. A bancada passa a imagem de um partido em implosão. E na direção há egos a mais e coordenação a menos. Quem pensa o quê? A resposta não é fácil. No caso dos professores, Rio assumiu que não há dinheiro mas os seus vices Castro Almeida e David Justino já tinham dito o contrário. Agora, Silva Peneda, ministro-sombra do PSD, fez explodir nova bomba ao defender que o partido deve salvar António Costa no OE caso o BE ou PCP votem contra. Além de estar a dar gás a uma não-questão, que só interessa à “geringonça” – e à bolha de Lisboa –, Silva Peneda corre o erro de achar que a bancada cumpre as diretivas de Rio. A votação nos combustíveis é o exemplo do momento.

Santana Lopes dizia esta semana que “cheira a bloco central”. Sendo um cenário que convém aos jogos de Costa com as esquerdas, é penalizador para Rui Rio. Ao deixar crescer a perceção que está sempre disponível para amparar o primeiro-ministro, favorece o voto útil no PS e tem sérios efeitos junto do eleitorado centro-direita que ainda não digeriu 2015.

António Costa diz que sempre foi contra a política do pisca-pisca. Mas esqueçam a palavra dada. Na prática, ocupou o centrão e vai catrapiscando à esquerda e à direita. Centeno, o ministro mais popular do Governo, é o ticket para os moderados. À esquerda, o BE ajuda ao afirmar-se como “força de Governo”, aspirando ser o PS de esquerda que Costa arrumou no apressado “pedronunismo.” As sondagens revelam que os socialistas estão afastar-se do sonho da maioria que os próprios alimentaram. Mas dizem pior do PSD: quase nem mexeu com a chegada de Rui Rio. O centro-direita está órfão. Vazio de liderança e iniciativa. Não basta denunciar a “aldrabice política” do “milagre económico”. Em tempo de futebóis, é preciso chutar à baliza. Alterar o marcador. A não ser que o plano seja mesmo ficar em segundo lugar. Sem compromissos. Nem novas temporadas.