RUÍDO NA REDE

TAYLOR SWIFT PÔS A APPLE NA ORDEM

PEDRO MIGUEL OLIVEIRA, EXAME INFORMÁTICA

FOTO TOBY MELVILLE/REUTERS

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Não pedimos iPhones gratuitos. Por favor, não nos peçam para darmos a nossa música sem qualquer compensação”. É assim que a menina bonita da Pop mandou o serviço de música da Apple dar uma volta. Em causa? Os três meses de teste que o Apple Music (o serviço de streaming da Apple que estreia na próxima semana) vai dar aos utilizadores, mas sem qualquer compensação aos artistas. E, isso, Taylor não tolera. Apesar de, na carta aberta que envia à Apple (e que pode ler AQUI ), confessar a sua admiração pela empresa norte-americana: “A Apple tem sido, e vai continuar a ser, um dos meus melhores parceiros na venda de música e na criação de formas de entrar em contacto com os meus fãs”.

A Apple não mudava de opinião só por causa de uma carta de uma estrela pop, certo? Errado. Ontem à noite (4h 29m da manhã em Portugal), no Twitter, Eddy Cue, um dos vice-presidentes da empresa, confirmou que a Apple “vai pagar aos artistas, mesmo durante o período de degustação”.

Uma mudança de estratégia surpreendente, no mínimo, e que deixa Taylor Swift encurralada. Será que, depois desta mostra de “boa fé” a artista vai continuar a manter o seu álbum “1989” fora do Apple Music?

O “1989” não é amigo do streaming

A verdade é que Taylor Swift ainda não precisou do streaming para vender o seu mais recente álbum. Passou ao lado do Spotify o ano passado e, mesmo assim, o disco “1989” foi número 1 em 2014. Deu a mesma nega ao serviço Tidal, de Jay Z, que não teve hipótese de reproduzir aquele álbum. No entanto, o Tidal ainda está a começar e o volume de subscritores não é grande. O Spotify foi um desafio maior. É preciso coragem para não tocar para 15 milhões de subscritores pagos e para os mais de 60 milhões que usam o Spotify para ouvir música interrompida com publicidade. Taylor Swift está em ambos os serviços, mas o seu álbum mais recente, não.

Com a Apple a conversa é diferente. O volume de compradores na iTunes Store é enorme. E, recusar o convite para ser dos primeiros a entrar no Apple Music, pode vir a revelar-se um passo maior que a perna esbelta de Swift.

Vamos por partes. O panorama musical mudou drasticamente. A audição de música já não está baseada na venda de CD, nem na venda em formato digital… o streaming é o canal de eleição de melómanos com ligações à Internet que se encontram espalhados por todo o planeta. Dizer não ao streaming, mesmo tendo em conta este argumento muito nobre, é um risco.

Taylor Swift é um sucesso de vendas, sim, por agora. Bater o pé à Apple obriga-a a ter um próximo álbum de igual, ou maior, sucesso que “1989”. Caso contrário, terá de engolir um grande sapo (neste caso, um iPhone 6 Plus) para ver toda a sua discografia integrada no Apple Music.

Vejamos do outro lado. Uma empresa com 200 mil milhões de dólares na carteira pode muito bem deixar de ser forreta e recompensar os autores das músicas que são ouvidas durante esse período de degustação. Afinal, não foi a Apple que pagou 100 milhões de dólares aos U2 e obrigou milhões de utilizadores a descarregar um álbum que está longe de ser um dos melhores da longa discografia da banda irlandesa?

Taylor Swift, embalada pelo sucesso que tem atualmente (por digressões esgotadas e centenas de patrocinadores) e, de certeza, com a ajuda de um conjunto de agentes, recusou o Apple Music naquelas condições. Parece lógico, certo? Afinal, a música ainda é o ganha-pão de milhares de autores. E percebe-se, em parte, o silêncio do resto da indústria.

A maioria dos artistas (que são pequenos) procura o melhor palco possível para chegar à maior audiência e o Apple Music pode, rapidamente, assumir-se como o maior e melhor spot para ouvir música. A minoria (os grandes) continua a tocar ao vivo, a ganhar royalties e a ser interessante para patrocinadores. E, por isso, passa ao lado destas questões mundanas de “dar” música durante três meses.

É importante perceber que o período de degustação dos serviços de streaming faz todo o sentido. Responsáveis do Spotify já explicaram que é essa a melhor forma de transformar utilizadores “gratuitos” em pagantes. Por isso, é fácil de perceber o que leva a Apple a seguir a mesma estratégia.

Esta semana, ao que tudo indica, a Apple vai publicar uma carta a explicar as razões que levaram a empresa a voltar atrás na decisão de não pagar aos artistas durante o período de experimentação. Depois, a bola fica do lado de Taylor Swift. Será que, mesmo assim, “1989” vai ficar fora do Apple Music? Não acredito. A Apple não muda de estratégia com frequência e foi surpreendente testemunhar o que Swift conseguiu fazer. Mas já provou o seu ponto. Insistir, depois de ter conseguido o que queria, vai parecer um capricho de estrela pop mimada. Coisa que Taylor Swift está longe de ser. Dúvidas? Leia  AQUI o artigo que ela escreveu o ano passado no “Wall Street Journal” sobre o futuro da música.