Opinião
Amanhã
Henrique Monteirohmonteiro@impresa.pt

Chamem-me o que quiserem

Henrique Monteiro

Sarkozy, Merkel, Fillon e o resto

Mais uma vitória inesperada, mais umas sondagens totalmente enganadoras e mais algumas lições que se podem tirar deste fim de semana em que Fillon, inesperadamente, venceu as primárias do centro-direita francês, ditando o fim político de Sarkozy, e em que Angela Merkel decidiu apresentar-se a um quarto mandato como chefe do Governo alemão.

Sarkozy, que foi presidente da França entre 2007 e 2012 (ano em que perdeu para Hollande) fez campanha por todo o lado, mas motivado por um pensamento ou um erro tático clamoroso. Entendeu que a melhor forma de roubar votos a Marine Le Pen seria copiar-lhe alguns desvarios. A mesma ideia tem uma parte da aliança CDU/CSU, os democratas-cristãos alemães e os sociais-cristãos da Baviera, que entendem ser necessária uma política mais centrada na segurança das fronteiras e no nacionalismo para combater a AfD (Alternativa para a Alemanha), o partido mais à direita. Ora, tanto Fillon, que ganhou por larga margem a primeira volta das primárias em França, como Merkel, que se abalança a mais um mandato, mostram que não tem de ser assim.

Fillon e Merkel mostram que se pode ser rigoroso (até talvez excessivamente rigoroso) na Economia e na gestão dos bens públicos, sem ceder naquilo que é a essência da nossa civilização. Obama também o entendeu e por isso mesmo quase proclamou a chanceler alemã como nova paladina dos Direitos Humanos e da Liberdade no Mundo, uma vez que os EUA deixam de estar em condições de o fazer com a vitória de Trump. Fillon propôs mesmo algumas medidas completamente antipopulistas, para não lhes chamar antipopulares, como, por exemplo, aumentar o horário de trabalho de 35 para 39 horas ou cortar significativamente as despesas do Estado.

Pensar que o sucesso dos populistas está na forma como fazem política é um erro. As suas propostas são tão velhas como o mundo, mas só têm eco quando os eleitorados se fartam de andar a pagar pelos erros de outros. Quando o rigor, o escrúpulo e a ética (mais do que a tradicional dicotomia esquerda/direita) desaparecem do espaço público é quando se abre caminho aos discursos de limpeza, de segurança, de muros e de medos. E essa falta de ética e de rigor, sejamos sinceros, esteve presente em praticamente toda a Europa e nos EUA. Sucederam-se os casos mais estranhos; as peripécias mais escandalosas; os crimes de colarinho branco mais condenáveis. Combater a onda populista (que alguns recusam ver, só porque Trump nada tem a ver com Beppe Grillo e nenhum deles com Boris Johnson e todos juntos com Marine Le Pen, como se o populismo fosse uma espécie de ideologia e não apenas um modo de fazer política), combater o populismo, dizia, não é tomar-lhes as propostas para os esvaziar. No geral, os eleitores preferem originais a fotocópias.

Combatê-los é, acima de tudo, limpar o que está sujo nos nossos sistemas políticos e regenerá-los. Não será, exatamente, reinventar a democracia, como escreveu Jorge Sampaio num texto muito interessante, mas pode ser se considerarmos que reinvenção é isso. Sobretudo é não deixarmos cair as convicções, sejam à esquerda ou à direita. É não cedermos à facilidade, com medo de que os eleitores não saibam distinguir. É não fazer alianças espúrias com partidos que não são, na sua essência e no seu programa, democráticos (e não é uma indireta para o nosso PS; é mesmo direta). É saber o que significam conceitos como Liberdade, Igualdade, Estado Social, Democracia, Probidade, Escrutínio e aplicá-los ponderadamente. E, caso eles sejam derrotados, saber cair de pé, sem cedências. Continuando a luta por eles. Com confiança.

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Amanhã

CONCERTO

MANAS NAUGHTON NA CASA DA MÚSICA

As pianistas norte-americanas Christina Naughton e Michelle Naughton estão esta terça-feira na Casa da Música, no Porto. As gémeas estreiam-se em Portugal com temas de Mozart, Mendelssohn, Ravel, Tchaikovski ou Schoenfield. O concerto está agendado para as 21h e os bilhetes custam de €16,50 a €22.

CULTURA

CONFERÊNCIA E TEATRO DE MARIONETAS

A Casa da Marioneta de Sintra acolhe esta terça-feira o debate Como Conquistar Público Para Ir ao Teatro? e as peças “O Barbeiro Diabólico” e “A Tourada”, produzidas pelo Valdevinos Teatro de Marionetas. O evento começa às 21h30 e a entrada é gratuita.

CONCERTO I

THE CURE NO MEO ARENA

Os britânicos The Cure sobem esta terça-feira ao palco do Meo Arena, em Lisboa, num concerto onde prometem explorar 37 anos de canções. O espetáculo tem início às 20h e os ingressos custam de €35 a €55.

CINEMA

TÃO SÓ O FIM DO MUNDO

É exibido esta terça-feira no Cine Teatro Pax Julia, em Beja, o filme “Tão Só o Fim do Mundo” (2016), do realizador canadiano Xavier Dolan. O filme conta a história de um escritor que regressa a casa passados 12 anos para dizer à família que está a morrer. As entradas custam €3.