João Vieira Pereira

Opinião

João Vieira Pereira

Com os meus impostos não!

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Os profissionais do escárnio e maldizer andam felizes. Principalmente os que adoram criticar a iniciativa privada, o capitalismo, o lucro, os dividendos, etc. Nas últimas semanas os CTT saíram-lhes nas rifa. E claro que para eles não há alvo mais fácil do que os Correios. Protagonizam tudo o que odeiam, uma ex-empresa pública totalmente privatizada através da dispersão em bolsa, numa operação considerada um sucesso em 2014. O problema desses profissionais da crítica é a falta de capacidade de pensar para além do habitual guião de que tudo o que é privado é mau. Ou mesmo de pensarem de todo.

O grande vencedor da privatização dos CTT não foi a gestão, os acionistas ou os trabalhadores. Foi o Estado. Além de ter encaixado uns estrondosos €900 milhões ainda se livrou de um monte de problemas. Os desafios que os Correios enfrentam hoje eram mais do que previsíveis.

Com ou sem Banco Postal, a atividade principal dos CTT está a morrer. Depois das pessoas terem substituído as cartas por sms, email e redes sociais, foi a vez das empresas começarem a usar as novas tecnologias para poupar no custo de enviar contas, faturas ou avisos da forma tradicional.

O mais provável é que daqui a uns anos, menos dos que possamos pensar, receber uma carta seja uma memória tão esbatida como os telex, os telegramas ou os telefones fixos.

Todos as vezes que pedimos, ou até exigimos, aos bancos, elétricas, ou operadoras de telecomunicações que nos passem a enviar por email toda a correspondência, estamos a matar mais um pouco os Correios. E para ajudar na sangria, o Estado, através do Simplex, está também a substituir o papel pela via eletrónica. O mais provável é que daqui a uns anos, menos dos que possamos pensar, receber uma carta seja uma memória tão esbatida como os telex, os telegramas ou os telefones fixos.

Este movimento era inevitável, com os CTT privados ou públicos. Com uma grande diferença. Neste caso quem paga a conta não é o contribuinte, através de gigantescas injeções de capital ou manutenção de rendas públicas, mas sim o acionista. Prefiro mil vezes a segunda hipótese do que a primeira.

A perda de postos de trabalho era também inevitável e iria acontecer de uma forma ou outra. Basta olhar para a Caixa Geral de Depósitos, que só este ano deve rescindir com mais de 600 trabalhadores. Também neste caso com uma grande diferença. No banco público foram injetados €5 mil milhões de dinheiro, (que veio dos cofres do Estado), dos quais cerca de €500 milhões para fazer frente aos custos de toda uma reestruturação. Nos CTT não foi injetado um euro de dinheiro público.

É claro que há criticas a apontar aos CTT, há muito tempo que deviam ter preparado esta derrocada da sua fonte de receitas através de uma aposta no mercado das encomendas. Um setor em crescimento mas onde já existe concorrência feroz. Mas mais uma vez esse é um problema para os acionistas, e a gestão por eles escolhida, resolverem.

Do lado do Estado há uma outra obrigação, a de garantir que os termos da concessão do serviço postal são cumpridos. E se não o forem, aplicar as multas obrigatórias. Ou em alternativa pode sempre revogar essa concessão ou não a prolongar, já que a mesma acaba em 2020.

O que não pode fazer é pensar sequer numa nacionalização dos CTT. Os impostos pagos pelos portugueses não podem jamais servir para sustentar um negócio que está a morrer. Este ou qualquer outro.