25 DE ABRIL

Soares não decidiu se vai às comemorações de Abril. Alegre não vai.

FESTEJOS Mário Soares ainda não confirmou oficialmente se participa nos festejos oficiais do 25 de Abril, mas deve repetir ausência dos últimos anos FOTO ALBERTO FRIAS

FESTEJOS Mário Soares ainda não confirmou oficialmente se participa nos festejos oficiais do 25 de Abril, mas deve repetir ausência dos últimos anos FOTO ALBERTO FRIAS

O ex-Presidente da República ainda não decidiu se este ano, à semelhança dos anos anteriores desde que Passos é primeiro-ministro, participará nas comemorações do oficiais do 25 de Abril. Alegre é que não vai mesmo: “estou triste com tudo isto”, diz.

TEXTO LUÍSA MEIRELES

Mário Soares não participa nos festejos oficiais do 25 de Abril desde 2012 e é provável que este ano também não esteja presente na sessão na Assembleia da República. Soares tem alinhado a sua posição com a Associação 25 de Abril, que já decidiu que não estará presente nas galerias do Parlamento. Quanto a Manuel Alegre, outro histórico socialista, já decidiu: não vai.

Às comemorações do 41º aniversário do 25 de Abril acrescem este ano os festejos do 40º aniversário da eleição da Assembleia Constituinte.

Manuel Alegre, que foi deputado da Constituinte, disse ao Expresso que “o meu 25 de Abril é outra coisa”, pelo que não está “com estado de espírito para este tipo de celebrações oficiais”, apesar de todo o respeito que lhe merece a Assembleia, realça. “Estou triste com tudo isto”, confessou, sublinhando que a sua decisão não tem nada a ver com a posição assumida pelos militares.

Acresce que o antigo deputado tem uma agenda carregada pela mesma altura, estando parte dos dias ausente nos Açores e em outros pontos do país para celebrar os 50 anos da “Praça da Canção”, uma comemoração que o “conforta”.

Dos festejos relativos aos 40 anos da Constituinte, Alegre só faz exceção aos associados ao aniversário da fundação do Provedor de Justiça, que se celebra amanhã. Aí estará presente, até “pela relação de amizade que o une ao atual Provedor”.

Ausentes durante toda a legislatura

Desde 2012, ou seja, durante todo o período do atual Governo, que tanto o ex-Presidente como como o antigo deputado não estiveram presentes nas cerimónias evocativas do 25 de Abril, solidarizando-se em especial com os militares do 25 de Abril. A respetiva Associação, à semelhança do que já faz desde esse ano, também não participa, embora abra uma exceção quanto às comemorações da Constituinte.

Nesse ano, a Associação assumiu em manifesto uma posição contra o poder político que governa Portugal, considerando que ele “configura um outro ciclo político que está contra o 25 de Abril, os seus ideais e valores”, pelo que não estaria presente no então 38º aniversário da Revolução.

Soares decidiu então faltar à sessão solene da celebração no Parlamento (onde os ex-Presidentes têm sempre lugar), “em solidariedade para com os militares”, como ele então disse.

Manuel Alegre acompanhou-o na decisão, dizendo por sua vez que “uma celebração do 25 de Abril sem aqueles que o fizeram não tem o mesmo significado”. Outra ausência marcante nesse ano foi a do próprio ex-capitão de Abril, e então deputado, Marques Júnior, falecido entretanto.

Em 2013, interrogado se quem estava no poder não merecia a sua participação nas homenagens da revolução, Soares respondeu mesmo: “Qual homenagem? Nunca fizeram nada por isso e são mesmo o contrário”.

Em 2014, quando se assinalou o 40º aniversário da Revolução, Soares e Alegre voltaram a assumir a mesma posição, mas participaram na celebração alternativa no Largo do Carmo que foi promovida pelos militares de Abril. Num texto muito crítico, o antigo Presidente afirmou que considerava “inacreditável” que o programa do Governo para celebrar o aniversário do 25 de Abril nunca referisse nem citasse os militares de Abril

Na altura, a não participação da Associação foi envolta em polémica, devido ao facto dos militares pretenderem intervir na sessão plenária no Parlamento, o que lhes foi recusado.

A maioria parlamentar recusou alterar os tempos de intervenção distribuídos a cada bancada para poder incluir mais um discurso, e a Presidente da Assembleia ratificou essa decisão. “O problema é deles”, comentou então Assunção Esteves, assinalando que o convite se limitava à presença no Plenário.

Os militares de Abril decidiram então faltar à sessão e promoveram a celebração no Largo do Carmo, à mesma hora, que atraiu milhares de pessoas. Um almoço realizado entretanto entre a presidente da Assembleia e Vasco Lourenço, presidente da Assembleia, amenizou o ambiente, mas não alterou a decisão da Associação.

Este ano, em comunicado, a Associação esclareceu que as ausências anteriores tinham a ver com “crescente e continuados desvios às esperanças e valores de Abril” e que, em 2015, “essas razões acentuaram-se, porque vivemos numa situação onde o próprio Presidente da República não cumpre a sua função constitucional de garante do regular funcionamento das instituições”.

No texto, a direção da Associação frisou ainda que mantém pela Assembleia “uma grande consideração”, razão pela qual, “independentemente de posições muito críticas face à forma como [o Parlamento] cumpre o preceito constitucional de fiscalizar a ação do Governo, nos leva a aceitar o convite e a colaborar com a Assembleia da República em atividades evocativas do 25 de Abril e das eleições para a Assembleia Constituinte realizadas há 40 anos”.

“Voltamos a esclarecer que, com esta nossa atitude, não pretendemos colocar em causa as instituições de soberania democrática, não queremos confundi-las com os que são seus titulares e exercem o poder”, acrescentava o comunicado.

A Associação faz ainda votos para que, em 2016, “estejam criadas condições” que lhe permitam voltar a aceitar o convite para participar na sessão solene da Assembleia da República, comemorativa dos 42 anos do 25 de Abril. Ou seja, depois de novas eleições, com um novo Governo.