PERFIL

A dama de ferro que vai liderar a MEO

Cláudia Goya vai ter na liderança da PT a prova de fogo da sua carreira

Cláudia Goya vai ter na liderança da PT a prova de fogo da sua carreira

A Altice escolheu Cláudia Goya para reorganizar a PT/MEO. Uma gestora que gosta de "cortar a direito" e que dá grande importância à sua imagem pública. Vai saber gerir uma empresa em transformação e com 10 mil trabalhadores?

Texto João Ramos

Cláudia Goya assume a presidência executiva da MEO/ Portugal Telecom num momento de grande efervescência neste operador. Terá que lidar com a conflitualidade laboral — há uma greve marcada para amanhã, quinta-feira, contra a transferências de trabalhadores para outras empresas satélites — e vai ter que lançar a marca Altice, e detrimento das marcas históricas Portugal Telecom e MEO.

Para esta engenheira física de 46 anos, formada no I.S.Técnico, com reputação de ser brilhante em números e uma negociadora implacável, a liderança da futura Altice Portugal será uma prova de fogo. Vai pela primeira gerir uma grande empresa com perto de 10 mil trabalhadores que está em processo de reestruturação.

Quando está envolvida em negociações delicadas e de maior tensão não costuma ser, por temperamento,"apaziguadora"

A sua grande determinação e a fama de grande capacidade de trabalho — atributos que os caça-talentos da Altice terão valorizado — vão ser importantes num momento em que terá negociações difíceis com os representantes dos trabalhadores. Também a sua experiência de marketing e comercial adquirida na suas passagens pela Procter & Gamble, Microsoft e Galp, poderá ser útil no lançamento da marca Altice junto dos consumidores portugueses.

Mas, este temperamento aguerrido que, segundo confidenciou ao Expresso quem a conhece do tempo em que trabalhou na Microsoft Portugal, também poderá se virar contra si, uma vez que, quando está envolvida em negociações delicadas e de maior tensão não costuma ser, por temperamento,"apaziguadora". E não é o tipo de pessoa que "cultiva os consensos". Outro ponto fraco, acrescentam, é a sua falta de conhecimento do mercado das telecomunicações, uma vez que a sua passagem como diretoria de marketing na Oniway acabou por ser frustrante (este operador móvel nunca chegou a funcionar).

Cortar a direito

Esta faceta "menos diplomática" terá sido uma das razões que levou Cláudia Goya a estar apenas dois anos à frente da subsidiária portuguesa da Microsoft (2010 a 2012). Tem a seu favor ter apanhado o mercado português de tecnologias de informação em retração, devido à crise económica. E teve de iniciar a mudança do modelo de negócio tradicional de venda de software (licenças) para a nuvem (cloud). Mas gerou anti-corpos. Para conseguir cumprir os objetivos de vendas e faturação da subsidiária portuguesa desencadeou um conjunto de auditorias contra a pirataria de software em grandes empresas (bancos) e Estado que provocaram grande mal-estar junto destes grandes clientes.

Conflitos que terão acelerado a sua saída da Microsoft Portugal e a ida em 2012 para a Microsoft Brasil onde assumiu o cargo de diretora de operações (Chief Operating Officer). Mas também na subsidiária brasileira a atuação de Cláudia Goya acabou por não ser linear, uma vez que dois anos depois deixou de desempenhar o cargo por ter havido um conflito judicial (que venceu), mas cujos contornos e razões ainda estão por esclarecer.

Cláudia Goya vai certamente marcar um novo estilo e tirar partido da sua fotogenia, a exemplo do que aconteceu quando liderava a Microsoft Portugal

Por outro lado, a entrada de Cláudia Goya para presidente executiva da futura Altice Portugal vai destoar num setor em que as primeiras linhas de gestão são tradicionalmente ocupadas por homens. Cláudia Goya vai certamente marcar um novo estilo e tirar partido da sua fotogenia, a exemplo do que aconteceu quando liderava a Microsoft Portugal. Nessa altura fez questão tirar um portefólio oficial de fotografias para poderem ser usadas pela imprensa. Para o efeito, reservou um quarto de hotel, contratou um fotógrafo profissional e levou parte do guarda-roupa de forma a poder oferecer um leque alargado de opções de fotografias.