João Vieira Pereira

Opinião

João Vieira Pereira

Despacito: a tremenda história do sucesso português

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Moscovici não poupou nos elogios. O progresso é impressionante, disse o comissário europeu dos Assuntos Económicos sobre Portugal. Depois da queda vertiginosa para a qual corremos sem pensar, vem a esperada bonança. Vamos crescer mais de 2,5% este ano, um dos valores mais altos de toda a União Europeia.

Ignorando que quando a base é pequena as percentagens são enganadoras, políticos europeus já falam no novo ‘case study’ europeu. Curiosamente são os mesmos que nos lançaram no lixo e nos rotularam de tóxicos quando lhes dava jeito.

A Comissão Europeia quer que Portugal seja, em toda a Europa, “a tremenda história de sucesso". Aquela que provará que os programas de ajustamento eram, afinal, bons remédios. A mesma história que foi profetizada para a nossa economia vezes sem conta.

Pierre Moscovici diz que Portugal vai ser uma tremenda história de sucesso. Nós também o queremos. Há 30 anos que o queremos

Pois nós também queremos. Há 30 anos que queremos ser um caso de sucesso. Também a 12 de junho de 1985, quando foi assinado o tratado de adesão à então CEE, ou quando entrámos no restrito clube que Maastricht formalizou, foi dito que seriamos o caso. E ironia das ironias chegámos mesmo a ser apelidados de país de sucesso na integração europeia. Na forma como usámos os fundos europeus, no cumprimento dos limites de défice e dívida e no crescimento do PIB per capita.

Quando olhamos para 85 é óbvio que estamos muito melhor. Disso não há dúvida. Sozinho, Portugal será sempre o maior. O problema é quando comparamos com outros países. Todos os anos somos ultrapassado em PIB per capita por um dos novos países de leste.

Isto porque também fomos campeões da destruição da nossa agricultura e da frota de pesca. Liderámos nos milhões gastos em formação profissional, no abuso do betão, na incapacidade de criar campeões mundiais ou de renovar a indústria. Destruímos o sector financeiro e temos uma das maiores dívidas públicas da Europa e a maior privada.

Do fraco crescimento fizemos a nossa bandeira, o segundo mais baixo nos primeiros 10 anos do Euro. É assim o nosso sucesso: ‘Despacito’. Bem devagarinho, tão devagarinho que até parece que andamos para trás (e andámos em alguns anos).

Agora vai ser diferente. É desta vez que seremos o caso de sucesso que a Europa tanto precisa, diz Moscovici. E se ele o diz é porque só pode ser verdade. Ele deve ter informações de que estamos a modernizar a nossa legislação laboral, a investir no Estado, na sua reestruturação e eficiência, a reformar um sistema de segurança social falido a prazo e a apostar finalmente nas pessoas. Tudo em prol da produtividade e da competitividade que não param crescer. Eu, que pensava que este crescimento era conjuntural, estava enganado. É tudo estrutural e nos próximos anos seremos os campeões do crescimento: palavra de Moscovici.