Henrique Raposo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

A guerra da esquerda contra a ciência

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Tem sido divertido assistir à conversão da esquerda à ciência e à verdade. Os Boaventura Sousa Santos, os Baudrillard e os Chomsky da vida passaram as últimas décadas a destruir a respeitabilidade epistemológica e até moral da ciência, da verdade, da realidade empírica. O pós-verdade, a ideia de que só existem narrativas e não uma verdade objetiva, não foi inventada por Trump e por esta vaga nova de nacionalismos: foi criada e mantida no centro da esquerda ocidental, nas faculdades, nos jornais, nas editoras, nos colóquios, nos partidos. E agora espantam-se quando o outro lado usa essa arma relativista?

Trump é o resultado de uma civilização que passou quarenta anos debaixo da influência das humanidades e ciências sociais dos Boaventuras Sousa Santos

A ideia do pós-verdade foi central para a esquerda atacar Deus, o direito natural, a universalidade dos direitos humanos, a ciência, o racionalismo, no fundo, tudo aquilo que é constitutivo da civilização ocidental. Desde o colapso do marxismo (anos 60/70), o pós-modernismo tem sido a validação do pós-verdade. Trump é assim o resultado de uma civilização que passou quarenta anos debaixo da influência das humanidades e ciências sociais dos Boaventuras. A verdade era um conceito “burguês”, depois passou a ser um conceito “eurocêntrico”.

A ciência foi uma das vítimas deste pós-modernismo. Em primeiro lugar, foi atacada a ideia de que existe uma verdade científica e objetiva cuja veracidade é universal e independente da sensibilidade do “eu” ou da sensibilidade cultural de cultura x ou y. Em segundo lugar, os tabus criados pela esquerda impedem objetivamente mais estudos científicos. Como salienta John Tierney (que escreveu vinte e cinco anos no “New York Times” sobre ciência), a esquerda impede o avanço da ciência nos alimentos geneticamente modificados, no mapeamento genético das diferentes etnias humanas, na compreensão das diferenças do cérebro da mulher e do homem, etc., etc. Estas investigações são banidas e censuradas pelas patrulhas, pelo congelamento de bolsas e financiamentos, pelo silêncio crítico, pelo afastamento de x e y do circuito dos prémios e prebendas.