TANCOS
Um debate flop: nem o ministro da Defesa se explicou, nem os deputados se deram por esclarecidos
Azeredo Lopes, esta tarde, na Assembleia da República. Um debate que, em bom rigor, acabou antes de começar
Debate para ouvir o ministro da Defesa sobre o assalto aos paióis de Tancos, esta segunda-feira, acabou antes de tempo por falta de intervenções. Os grupos parlamentares exigiram esclarecimentos, o PS “acompanhou os consensos”, o CDS voltou a exigir demissão de Azeredo Lopes. E este nada esclareceu
Texto Luísa Meireles Fotos Marcos Borga
Foi um debate que, antes de o ser, não foi. CDS e PSD juntaram-se para exigir esclarecimentos ao ministro da Defesa sobre as suas declarações numa entrevista a propósito de um “hipotético” furto a Tancos e fizeram-no sobre a forma de um “debate de atualidade” esta segunda-feira. O pedido de explicações foi acompanhado pelo PS e os seus parceiros, o Bloco de Esquerda e o PCP.
Mas 45 minutos depois, estava tudo encerrado. O ministro não deu grandes esclarecimentos, mas os deputados também não reagiram, nem sequer esgotaram os cinco minutos da praxe que cada grupo tinha para falar. Por falta de pedidos de intervenção dos parlamentares de todas as bancadas, o presidente da Assembleia da República deu o debate por encerrado.
O sinal já tinha sido dado pelo número excessivo de ausências de deputados em praticamente todas as bancadas, incluindo na do PSD e no PS, já para não falar no Bloco de Esquerda. As intervenções foram fracas, com exceção da do CDS, pela voz de João Rebelo, que reiterou de forma muito dura o pedido de demissão do ministro Azeredo Lopes.
Pedidos sem resposta
“O roubo de Tancos parece uma tragicomédia, o ministro não sabe o que lá havia, o que lá aconteceu, o que de lá desapareceu, nem sequer se houve roubo e o que furtaram”, disse o deputado centrista, apelando ao ministro: “Saia!”
Em diversos registos, PSD, Bloco de Esquerda e PCP também exigiram explicações, considerando que o titular da Defesa não tinha dado cabais esclarecimentos. “Continuamos sem perceber se houve de facto um furto no paiol de Tancos”, disse o deputado social-democrata Sérgio Azevedo, se foi “assalto ou simulação”, reiterou o seu colega de bancada Costa Neves.
O PCP fez sentir que não gostou do tipo de debate, mas não deixou de elencar as suas críticas a tudo o que aconteceu, resumindo com uma demolidora frase que tudo “isto é mau demais para o senhor ministro decidir somar mais um na bancada dos que se dedicam a especular”.
Quanto ao BE, exigiu que tudo fosse apurado até ao fim, “custe o que custar, doa a quem doer, a culpa não pode morrer solteira”. E até os Verdes sugeriram ao ministro que teria sido mais conveniente dar esclarecimentos. “As investigações devem prosseguir, não pedimos informação confidencial, mas há informação que o senhor ministro podia ter dado que nos ajudasse a entender. Vai-nos desculpar, mas ainda nos deve uma explicação sobre o significado da sua afirmação [de que, por absurdo, poderia até nem ter havido furto em Tancos]”, afirmou Heloísa Apolónia.
O PS — reiterando embora a sua confiança no Governo e no ministro — sublinhou que o seu grupo parlamentar “tem acompanhado a Comissão de Defesa Nacional nos consensos sobre as necessidades de apuramento de todos os factos e responsabilidades no incidente de Tancos” e que são necessários “esclarecimentos adicionais”.
“Governo fez o que devia”
Mas o ministro pareceu fazer de conta que não ouviu. Ateve-se, contra o seu costume, à leitura rigorosa de um texto escrito e, nada dizendo sobre anteriores declarações suas, informou que já fez um despacho determinando novas medidas ao nível das normas e procedimentos, infraestruturas e recursos humanos.
Para o ministro, há três planos em causa, o da investigação criminal, o da ação do Exército e o da sua própria ação. Neste contexto, anunciou que no seu despacho pediu ao Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas que fosse elaborado um sistema de informação comum para controlo do material sensível, bem como determinou que ao nível das infraestruturas fossem promovidas obras para repor as condições de segurança e que, quanto aos recursos humanos, se aperfeiçoassem os “processos de seleção, certificação, formação e treino dos militares dedicados a funções de segurança”.
Em síntese, Azeredo Lopes afirmou que “o Governo fez o que devia ser feito de forma serena” e que não diminuiu a gravidade do ocorrido. Sobre as suas polémicas declarações ao DN — ponto número um da perplexidade dos deputados — disse zero.
Foi um verdadeiro anticlímax. O deputado Costa Neves subiu ao púlpito para reiterar a sua estupefação sobre o ocorrido em Tancos, o parlamentar socialista José Miguel Medeiros reiterou a acusação de que um debate político sobre um assunto destes não pode ser feito na praça pública.
As cenas dos próximos capítulos ocorrerão já na quarta-feira, na próxima deslocação do ministro à Comissão de Defesa. Mas o tema exclusivo será a defesa europeia. Aparentemente, o debate público sobre as declarações do ministro morreu aqui.