Henrique Raposo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

A “call girl” de Putin

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Lupanar Foto Anatoly Maltsev / EPA

Lupanar Foto Anatoly Maltsev / EPA

Há dias, falei aqui da distância entre a retórica de Trump e a realidade da política externa. O discurso da Casa Branca é escandalosamente pró-Rússia e pró-Putin, transformando assim o patriotismo do Partido Republicano numa fraude risível. O Partido Republicano, outrora o pilar da direita ocidental e da própria ideia de Ocidente, é hoje em dia uma espécie de “call girl” de Putin. Contudo, no terreno, forças americanas conduzem exercícios militares na Finlândia. A embaraçosa cimeira Trump-Putin é contemporânea dos primeiros exercícios militares com tanques americanos na Finlândia.

As ideias dos confederados sulistas (a tal “alt right”), a essência do Partido Democrata até Lyndon Johnson, está hoje no centro do Partido Republicano. É altura de lhes chamarmos outra coisa

As críticas de Trump aos parceiros da NATO também não são novas. Todos os Presidentes americanos pediram ao longo das últimas décadas um aumento da despesa militar da Europa. E, já agora, Trump tem razão quando critica a relação ambígua da Alemanha com a Rússia. O gasoduto da Gazprom entre a Alemanha e Rússia é um dos pregos do europeísmo. Então em que ficamos?

Se não tem efeitos instantâneos na realidade internacional, a verdade é que a retórica de Trump está a fazer algo pior: educar parte do eleitorado americano contra a ideia de Ocidente; está a fazer a mudança cultural que precede a mudança institucional; o próximo Trump poderá de facto acabar com a NATO devido ao lastro cultural que está a ser criado desde o tea party. O tea party e o trumpismo representam a usurpação do Partido Republicano pelo seu inimigo original: o espírito sulista confederado. As ideias dos confederados sulistas (a tal “alt right”), a essência do Partido Democrata até Lyndon Johnson, está hoje no centro do Partido Republicano. É altura de lhes chamarmos outra coisa. Na tarefa de rebatizarmos o Partido Republicano, “call girl” de Putin é um bom começo.