Chamem-me o que quiserem
Henrique Monteirohmonteiro@expresso.impresa.pt
Ainda bem que alguém chamou a troika!
Uma das discussões mais divertidamente imbecis da nossa campanha é saber quem chamou a troika. De tal modo que o diário ‘Público’ coloca em manchete “Carta de Passos Coelho a Sócrates em 2011 dava apoio à vinda da troika”.Tudo isto nasceu do último debate, quando Costa afirmou que a vinda da troika fora uma consequência da política do PSD, coisa de que Passos não gostou. Mas eu gostava de dizer uma coisa diferente: ainda bem quem alguém chamou a troika! Talvez seja uma pena que já se tenham ido embora, permitindo aos pândegos nacionais continuar como se nada tivesse passado.
Não, não foi Pedro Santos Guerreiro quem chamou a troika, apesar do que humoradamente escreveu segunda feira (“Fui eu que chamei a troika”). Também não fui eu, mas não me importava de ter sido. A verdade é que, por muito que a neguem três vezes antes que o galo cante, como Pedro fez a Jesus, a troika foi das boas coisas que nos aconteceram. Eu sei que o PS a detesta; que Portas acha que agora, sim, nos libertámos do jugo estrangeiro e que mesmo Passos, aconselhado pelos suspeitos do costume, acha que cumpriu o principal dever para com os portugueses ao ter-se visto livre dela.
Podemos por isso concluir que a troika, ou seja as instituições, como diria o Syriza, ou o FMI, o BCE e a UE (para não falarmos em entidades abstratas) foi nossa inimiga ou, pelo menos, queria-nos mal.
Mas apelemos à memória. Sem a troika não havia crédito, sem crédito não havia salários na função pública nem pensões. Sem nada disto apenas podíamos rezar ou apelar a qualquer força sobrenatural que nos salvasse. É esta a verdade. Não fui eu quem a inventou, nem é uma narrativa de direita. É um facto. Como é um facto o que Portas hoje recordou sobre a intervenção de Mário Soares e Teixeira dos Santos junto de Sócrates para convencê-lo a pedir ajuda.
Claro que o PSD poderia ter aprovado o PEC IV. Mas o PEC IV era uma variante da troika: havia cortes de salários e pensões, aumentos de impostos… Mas, sobretudo, não repunha a confiança dos mercados. Por isso andaram os bancos (os mesmos que depois tiverem as benesses do BCE) a apelar a Cavaco Silva e ao então ministro Fernando Teixeira dos Santos que, patrioticamente, e sem o beneplácito do primeiro-ministro cujo ego ficou nesse dia esfrangalhado, chamou a troika. Os juros iam acima dos 7% e a dívida não parava de aumentar. Os mercados não confiavam em nós para nos emprestar um cêntimo. Abençoado Teixeira dos Santos, pode ter ficado mal visto no PS, mas deve dormir tranquilo; não foi por sua culpa que tivemos um default, o caminho direto caso não viesse o auxílio.
Claro que temos uma rapaziada que resolvia tudo sem apoios. Pedro Nuno Santos, hoje um dos maiorais de Costa e cabeça de lista por Aveiro, dizia que se não pagássemos os joelhos dos alemães até tremiam de medo (lembram-se?). Havia os que sem qualquer apoio, sem nada, conseguiam endireitar o país, batendo o pé à Europa. Todos os conhecemos da Grécia. Havia os que contavam com a Venezuela, país que hoje está próspero de desumanidade e miséria, ou com Angola, que está florescente com a queda do petróleo. Mas desses não vale a pena falar.
A troika tinha um plano, o célebre Memorando de Entendimento (MoU, na sigla inglesa) de que aliás Sócrates anunciou as partes boas, deixando as más para o ministro Teixeira dos Santos (lembram-se?). Diz-se que este Governo de Passos foi além da troika. Em parte será verdade, mas além do perímetro orçamental ter alargado e da situação ser pior do que a descrita durante a elaboração do Memorando, o Governo fez a coisa à portuguesa, como a tourada de gala: manteve imensas cortesias, pajens e coches (inutilidades que custam dinheiro) – ainda aí estão as 308 autarquias número excessivo e em parte inútil; aí sobrevivem os institutos que de nada servem e uma série de outras coisas cujo final estava previsto. Era a célebre e precocemente defunta reforma do Estado.
Em contrapartida, a troika permitiu que se limpasse muita sujidade que por aí andava. Foi uma purga! A austeridade, que implica também mais responsabilidade e menos laxismo, permitiu descobrir podres onde não se supunha. A troika, como o FMI em 1985, mudou a exigência e os escrutínio dos portugueses para melhor.
Independentemente de quem ganhe as próximas eleições, alguns dos erros sobre erros, acumulados nos últimos 20 ou 30 anos, não serão repetidos, enquanto deles nos lembrarmos (a prova é que o líder do PS já recusou que o seu programa assente em grandes obras públicas – alfa e ómega de todos os Governos desde 1991). Serão cometidos outros erros, mas é essa a grandeza e simultaneamente a fraqueza da democracia. Haverá mais tarde quem os corrija.
Proponho, pois, ao contrário dos nossos políticos, uma coisa simples: uns três vivas à troika. Impôs uma política que nos levou o couro e o cabelo em impostos e cortes de salários; não conseguiu impor a reforma do Estado, que ficou por umas folhas de papel. Mas tenho a certeza de que ainda mais pobres, esfarrapados e de mão estendida andaríamos não fosse a sua intervenção e o dinheiro que nos emprestaram.
Twitter: @Henrique Monteiro
Facebook: Henrique Monteiro
Amanhã
LIGA EUROPA
SPORTING VS LOKOMOTIV
O Sporting encontra no jogo de estreia na liga Europa novamente uma equipa russa, o Lokomotiv de Moscovo (depois de ter sido eliminado no play-off de acesso à fase de grupos da liga dos campeões frente ao CSKA de Moscovo). Jogo tem início às 20h05 e transmissão na SIC.
CINEMA
ESTREIA
Estreia nos cinemas NOS o thriller “Homem irracional”. Um filme de Woody Alen que conta a história de um professor universitário de filosofia que está a viver uma crise existencial: a mesma começa a atenuar-se quando se relaciona com uma jovem aluna. Duração: 95m
FESTIVAL FDUL
PALCO EXPERIENCE
O festival FDUL Experience na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, oferece duas noites de grandes concertos com entrada livre. A primeira conta com Capicua e Capitão Fasto e a segunda destaca-se pela atuação de Linda Martini.
ESPETÁCULO
UNITYGATE
A partir das 21h30, no Palácio Marquês de Pombal em Oeiras, realiza-se um espetáculo de abertura da Unitygate, uma plataforma de intercâmbio intercultural e artístico, entre oriente e ocidente. Entrada Gratuita.