Opinião
Sobe & Desce
João Vieira Pereirajvpereira@expresso.impresa.pt

Opinião

João Vieira Pereira

Lesado dos lesados do GES

Sr. Contribuinte, era inevitável que mais tarde ou mais cedo a conta viesse parar ao seu bolso. Ai está ela. Bem a tempo de a colocar debaixo da árvore de Natal.

Os senhores investidores, que queriam retirar mais rendimento do dinheiro que se encontrava parado no banco, acordaram colocar as suas poupanças em papel comercial do Grupo Espírito Santo. A ESI ou a Rioforte pagavam taxas de juro bem mais altas do que o mercado. Como a ganância cega os mais inteligentes, muitos foram facilmente enganados por Ricardo Salgado e companhia.

Fizeram depois grupos de lesados, gritaram e organizaram manifestações, onde os mais fracos eram marionetas dos que na sombra lideravam esses movimentos — investidores altamente qualificados que nunca davam a cara. E assim foram abençoados pelo Bloco de Esquerda e depois pelo Partido Socialista. Políticos que, com a mesma cara com que aprovam aumentos de miséria para as pensões, estão contra os salários milionários da Caixa Geral de Depósitos ou mesmo dos gestores privados aparecem ao lado de quem tinha centenas de milhares de euros investidos em produtos de risco.

Em troca de votos e direito de antena prometeram-lhes uma solução. Um ano depois, aqui está ela.

Só que a solução vai ser paga por si, caro Contribuinte. O esquema é simples e deverá ser apresentado com pompa e circunstância na próxima sexta-feira. Os lesados que totalizam investimentos de €500 milhões passam os direitos de crédito sobre o ex-Grupo Espírito Santo para uma espécie de fundo. Em troca recebem no próximo ano 30% do que investiram e em prestações vão recebendo o resto, até 75% do montante reclamado com um limite de €250 mil (ou 50%, para quem investiu mais de €500 mil).

E como se financia este fundo? Pede emprestado. Só que como a probabilidade de no futuro os credores do GES receberem alguma coisa é pequena, não há quem empreste dinheiro a este fundo sem uma garantia. Garantia essa que será passada pelo Tesouro português. Ou seja, no final, daqui a muitos anos, quando não houver dinheiro, é o Estado que vai pagar as dívidas que o Grupo Espírito Santo tinha para com estes investidores. Nessa altura são apenas mais algumas centenas de milhões de dinheiro dos contribuintes usados para pagar promessas políticas do PS e do Bloco de Esquerda.

É claro que este acordo vai ser vendido como histórico. E vão dizer que existe uma contragarantia do Fundo de Resolução e que por isso o sistema bancário também está envolvido na solução. Tudo patranhas. Se o acordo for para a frente tal como está desenhado, não foi acionado o sistema de indemnização aos investidores, o Novo Banco (e o seu futuro comprador) fica de fora da solução e os outros bancos também. A conta final (a diferença entre o que for pago aos lesados do GES e o que for possível recuperar — que vai ser mínimo em relação às dívidas) vai ser paga pelos contribuintes.

Por isso, se está no grupo que cumpre todas as suas obrigações fiscais, que não tinha centenas de milhares de euros aplicados em produtos de risco, que nunca investiu em empresas do grupo liderado por Ricardo Salgado (e que por isso não foi vítima da ganância), então você é um lesado dos lesados do GES.

Se começar já um movimento pode ser que reúna a simpatia de algum deputado do BE ou mesmo do primeiro-ministro e seus amigos.

No final é o Estado que vai pagar as dívidas que o Grupo Espírito Santo tinha para com estes investidores. Apenas mais algumas centenas de milhões de dinheiro dos contribuintes usados para pagar promessas políticas

ALTOS

Fernando Santos

Selecionador nacional de futebol

Agora que se aproxima o final de 2016, começam a sair as revistas do ano e os prémios para quem mais se destacou. Hoje Fernando Santos foi selecionado como Personalidade do Ano, depois de ter levado a equipa nacional ao título europeu de futebol, pela Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal..

Ana Paula Vitorino

Ministra do mar

Na reunião do conselho de ministros europeu que terminou na última madrugada ficou acertado um aumento da quota pesqueira nacional de 11 por cento para o próximo ano. A ministra veio imediatamente reclamar vitória.

BAIXOS

Rui Rio

Ex-presidente da Câmara Municipal do Porto

A ideia pode ter o mérito de ser ousada. Mas ninguém parece interessado em pegar nela. Rio propôs a criação de um imposto para ajudar a pagar a dívida pública nacional mas, da esquerda à direita, a iniciativa não recolhe grandes apoios. Tiro de pólvora seca?

Martim Silva