Opinião
Amanhã
Henrique Monteirohmonteiro@impresa.pt

Chamem-me o que quiserem

Henrique Monteiro

Jean Asselborn! Até que enfim!

O nome pode ser-vos desconhecido, mas vale a pena fixá-lo. É um socialista que ocupa o lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo e propôs ontem a expulsão ou suspensão da Hungria da União Europeia. Não conheço os tratados com o pormenor suficiente para afirmar se isso é possível, mas conheço suficientemente as trapaças do governo húngaro para achar que isso seria desejável.

Asselborn foi vice-primeiro-ministro de Jean-Claude Juncker, o atual presidente da Comissão, e é ministro dos Negócios Estrangeiros, da Imigração e dos Refugiados ininterruptamente desde 2004. É uma pessoa a quem não deve faltar experiência nem comedimento nas palavras. E, apesar de perante a crise portuguesa ter tido posições que não nos foram simpáticas, disse o que muitos europeus provavelmente pensam: que raio faz Viktor Orbán no meio de gente que se diz civilizada?

O ministro luxemburguês tem razão quando afirma ao influente jornal alemão ‘Die Welt’ que a Hungria não está muito longe de abrir fogo sobre os refugiados; sobretudo, que a política húngara para os que pedem asilo põe em causa a coesão europeia. Recorde-se que foram milhares de imigrantes retidos sem condições, na estação de comboios de Budapeste, que Angela Merkel recebeu na Alemanha e a fez perder as eleições para os xenófobos do AfD, no seu estado natal. O problema é que a expulsão de um Estado-membro requer a unanimidade de todos os restantes estados. É nisto que joga Orbán que começa a ter aliados, como Robert Fico, na Eslováquia, Sobotka, na República Checa (que chegou a acusar Merkel de fomentar a imigração ilegal); Beata Szydło, na Polónia. Curiosamente, tudo países que pertenciam à esfera soviética no tempo da guerra fria e que hoje parecem ter como guarda-costas alguém que está a ganhar uma guerra diferente – a do nacionalismo retrógrado: Vladimir Putin.

Porém, ainda que seja impossível, na prática, expulsar ou mesmo suspender a Hungria, há de se encontrar nos tratados formas de os castigar – nem que seja através da pressão económica e financeira. A construção de muros, os maus-tratos infligidos (relembro Asselborn, que diz pouco faltar para dispararem sobre eles) não são valores europeus. Se a Europa quer manter-se como o espaço de liberdade e tolerância com que foi construída, terá necessariamente de agir contra esta espécie de clube de pequenos Le Pen, que se estende um pouco por todo o lado – como Farrage na Grã-Bretanha e, também e curiosamente, partidos de esquerda no Sul da Europa que, não sendo contra os imigrantes, são a favor do fecho de fronteiras económicas e monetárias, a favor da saída do Euro ou mesmo da União e contra qualquer tratado com os EUA, ainda que tenha sido Obama a propô-lo. Em suma, a favor de um isolacionismo bacoco e antiquado.

Por isso, repito o título: Até que enfim! Foi Jean Asselborn, responsável pela diplomacia de um pequeno país. Pode ser que o exemplo se espalhe.

 

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Amanhã

CONCERTO

PETE WOOD NO SALÃO IDEAL

Em Lisboa, o Salão Ideal acolhe o músico português Pete Wood. O artista que cresceu junto às margens do IC19 inspira-se em diversos géneros musicais para criar a sua música. Wood fixou-se no centro da Pequena Lisboa e, apesar de ter um trabalho ainda pouco conhecido, prepara agora o seu segundo CD. O concerto deverá começar pelas 19h e a entrada é gratuita.

EXPOSIÇÃO II

THE DIRTY BUSINESS SHOW

Em Lisboa, a FPC | Museu das Comunicações junta-se à iniciativa Critical Cities (Projeto Plano Lisboa) e acolhe a exposição “The Dirty Business Show”. No evento serão mostradas quatro peças de vídeo que se interligam pelo seu formato documental e cada uma fala sobre quatro “cidades modelo” - Pequim, Cidade do Cabo, Nova Iorque e Cidade do México. O objetivo da exposição é incitar a discussão de várias comunidades urbanas com artistas e levar o público a refletir sobre a cidade contemporânea e a sua arte. A entrada no Museu das Comunicações é livre e a mostra pode ser visita das 18h às 22h.

EXPOSIÇÃO

VER A MODA EM FOTOGRAFIAS

Em Lisboa, o Instituto Português de Fotografia organiza uma exposição de fotografia em que vão ser exibidas fotografias dos alunos do Curso Profissional de Fotografia tiradas entre 2014 e 2016. As fotos são o resultado de um processo de aprendizagem e nelas estão patentes as mutações que acontecem a todo o momento na moda. O evento decorre das 19h às 22h na sede do Instituto Português de Fotografia.