Expresso

O domingo em que Lagarde não pode ver Anselmo Ralph

A oposição faz mal em indignar-se com a reunião do BCE em Sintra, que arranca numa noite de eleições. Sinceramente não vejo melhor dia do ano para os banqueiros europeus se reunirem. Só têm que pedir muitos ecrãs de televisão e, já agora, ter um satélite de jeito para poderem espreitar vários canais europeus. Nesse domingo, dia 25, não vale ver o Anselmo Ralph a carregar no botão, o “Rising Star” ou o “Vale Tudo”. Nem o Rui Santos. É mesmo para ver noites eleitorais, até porque as televisões só vão mesmo dar eleições. Mas vai ser melhor que qualquer dos programas de domingo à noite.

É claro que o PS, o Bloco e a CDU não pensaram nisto. E que Passos e Portas também não. Os primeiros atacaram a reunião do BCE no Hotel da Penha Longa porque sim. E os segundos defenderam-na porque sim. Mas trazer os banqueiros centrais, mais Lagarde e Barroso, a Portugal e sentá-los na mesma mesa numa noite de eleições europeias é uma armadilha perfeita. Quando ligarem as televisões vão ver em direto alguns incêndios que eles próprios atearam. Vai haver chamas em Atenas, fogo descontrolado em Paris, fogo de artifício em Roma, focos de incêndio em Haia, Helsínquia e Viena. E labaredas em Londres. Uma noite em cheio, em suma.

Não estou a brincar. Uma das grandes questões dos últimos anos na Europa está ligada às consequências políticas da austeridade. Já muito se escreveu sobre as consequências económica e sociais, seguramente as mais importantes. Mas as ondas de choque políticas não vão ser menores. Vão provavelmente abrir os olhos a muitos eurocratas que não se assustam com taxas de desemprego brutais nem com alterações profundas do Estado Social. Mas se há coisa que assusta eurocratas e banqueiros, é ver Bruxelas invadida por gente que tem como único objetivo na vida acabar com as instituições europeias, com o BCE, com o Euro e com a reunião da Penha Longa para sempre.

Se me permitem, a vinda dos banqueiros a Sintra tem alguma justiça poética. E não estou a falar de Byron. Estou mesmo a falar de uma noite eleitoral em cheio, daquelas que vai assustar meia Europa e deixar Lagarde em pânico, quando vir a “sua” França a votar em massa na Frente Nacional. E deixar Draghi embaraçado, quando vir um palhaço a ter mais de vinte por cento dos votos, pela segunda vez. Por favor não protestem contra esta reunião. Não havia melhor noite para eles virem a Portugal. O único Domingo em que Lagarde não pode ver o Anselmo Ralph.