ALEMANHA
Um dia difícil para a CDU
FOTO EPA
Para já, Berlim mantém a política de acolhimento de refugiados. A CDU saiu enfraquecida das eleições deste domingo, mas a política de refugiados da chanceler recebeu o apoio dos social-democratas e dos verdes. O espetacular resultado dos populistas da AfD resultou em muito da captação dos votos dos novos eleitores
TEXTO CRISTINA PERES
A perda de votos para os social-democratas e para os verdes por parte da coligação que lidera o Governo alemão há dez anos - a CDU/CSU - deve ser lida como um aviso dos seus eleitores tradicionais. Por outro lado, o espetacular resultado dos populistas da Alternativa para a Alemanha (AfD) deixou clara a vulnerabilidade e a sensibilidade de boa percentagem de alemães à xenofobia, em particular no leste do país.
A atitude da chanceler na conferência de imprensa da CDU desta segunda-feira deixou claro que não hesita em manter as políticas em que acredita: sim, a política de acolhimento aos refugiados vai prosseguir; não, não será anunciado um limite ao número de pessoas que poderão requerer asilo na Alemanha. Porém, há regras, nem todos têm condições de aceder ao estatuto e a chanceler promete que serão deportados todos os que não aceitarem as regras do país.
Pode ser que Angela Merkel tenda a minimizar os resultados do escrutínio deste domingo prevendo que o castigo inflingido pelo eleitorado à CDU/CSU seja temporária.
O contexto político e social entre as últimas eleições dos Länder, em 2011, e o dia de hoje é de tal modo diverso que dificulta uma análise que parta de uma comparação direta dos resultados. Mesmo assim, o site do “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, o “FAZ.net”, lembra que a CDU não teve resultados brilhantes nas estaduais que precederam as legislativas de 2013. E não foi isso que impediu a CDU/CSU de quase obter uma maioria absoluta.
Os temas da campanha que decorreu em Baden-Württemberg, Renânia-Palatinato e Saxónia-Anhalt ficaram praticamente reduzidos ao problema mais premente da atualidade, refugiados. Em 2013, este era uma sombra do que é hoje, no entanto, a votação de há três anos já decorreu em plena crise do euro. Daqui às eleições gerais de 2017 ainda correrá muita água até que haja respostas concretas.
Reconhecer o revés
“Um dia difícil para a CDU”, foi como a chanceler classificou o resultado do seu partido na votação deste domingo durante a conferência de imprensa que a CDU deu ao final da manhã desta segunda-feira. Ao mesmo tempo que reconhecia o revés eleitoral, Angela Merkel insistia com naturalidade no sentido que entende fazer o prosseguimento do caminho delineado pelo Governo. A chanceler acrescentou que a questão dos refugiados está longe de estar solucionada e que há que avançar no registo das pessoas que já entraram na Europa para que se possa reabrir o Espaço Schengen com a maior brevidade possível.
O resultado das eleições estaduais de dia 12 em três Länder fez tremer o maior partido, a União Democrata Cristã, CDU, da coligação no Governo (com os social-democratas SPD) ao perder votos nas três frentes eleitorais: Baden-Württemberg, Renânia-Palatinato (ambos ocidentais) e Saxónia-Anhalt (leste do país).
Justificava-se o desassossego da CDU perante este primeiro sufrágio desde que a Alemanha abriu as fronteiras em setembro passado ao fluxo de migrantes vindos, na sua maioria do Médio Oriente. A resistência que o partido-irmão da Baviera - a União Social Cristã CSU - protagonizado pelo seu líder, Horst Seehofer, revelava já o desagrado de muitos cidadãos relativamente à “política de boas-vindas” de Merkel. Porém, a dimensão da resistência estava ainda por medir.
Esta segunda-feira, Seehofer chamou aos resultados eleitorais “um terramoto político” e não perdeu oportunidade de insistir para que a chanceler anuncie um limite para o número de refugiados que a Alemanha virá a acolher.
Ganhar sem esforço
Quem ganhou com a votação pouco fez realmente para isso, pelo menos em termos políticos. Previa-se que o partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD) aumentasse a sua expressão relativamente às sondagens, já que nas últimas eleições estaduais de 2011 nem existia. Obtendo percentagens surpreendentemente altas, a AfD mostrou que soube capitalizar o discurso de ódio contra os migrantes e refugiados. E os resultados dão que pensar: 24,2% dos votos na Saxônia-Anhalt, 15,1% em Baden-Württemberg e 12,6% na Renânia-Palatinato. A análise do dia seguinte ao primeiro impacto das contagens permite sustentar que o voto nos populistas não se traduz necessariamente uma condenação da política de asilo da CDU, reporta o britânico “The Guardian”.
Apesar dos 24,2% da AfD na Saxónia-Anhalt, os democratas-cristãos não perderam significativamente representação naquele Land. O jornal lembra que a afluência às urnas subiu cerca de 10% nos três estados, o que substancia a ideia de que o discurso anti-imigração dos populistas agarrou principalmente os novos eleitores recenseados para votarem a partir de 2016.
Em Baden-Württemberg, um bastião tradicional da CDU, a queda do partido foi mais significativa: 31% dos seus eleitores passaram para os verdes. A justificação pode radicar no apoio que o seu líder local deu às polícitas da chanceler, ao contrário do número um da CDU do Land, que se demarcou de Merkel. O mesmo aconteceu na Renânia-Palatinato, cabendo aí a vitória ao SPD, como reportam o “Spiegelonline” e a “Deutsche Welle”.