Chamem-me o que quiserem
Henrique Monteirohmonteiro@impresa.pt
Guterres, por uma questão de princípios
Podem achar lírico, estranho, ingénuo ou estúpido, mas eu creio no valor do exemplo e acredito que apesar de o mal se espalhar uniformemente por todos os lados, é possível combatê-lo e derrotá-lo pela força das convicções. Por isso mesmo, do meu ponto de vista, mais importante do que ter sido um português a jurar esta segunda-feira sobre a Carta das Nações Unidas para assumir o cargo de secretário-geral da ONU a partir de janeiro, é ter sido António Guterres a fazê-lo.
Não quero discutir, embora também o pudesse sem receios, a ação de António Guterres como primeiro-ministro e menos ainda como líder partidário. Quero apenas dizer que foi dos poucos (talvez o único, além de Balsemão, embora deste me possam considerar suspeito para falar) que nem nunca mostrou apego ao poder nem recorreu a facadas à ética política para se aguentar.
Nas duas eleições que venceu fê-lo com clareza, e nas segundas conseguiu um histórico empate. Ficou-lhe amarrada a questão do ‘queijo limiano’ com o deputado do CDS e figura destacada de Ponte de Lima Daniel Campelo. Mas por muito barulho que tenham feito PCP, Bloco, PSD e CDS, nunca vi mal nenhum nesse acordo. Um deputado votava em algo que beneficiava a sua terra. O Governo beneficiava um deputado para obter um bem maior. Comparem com o que tivemos depois disso, em qualquer Governo, e vejam a inocência deste acordo.
O padre Melícias, que muita gente, ou por inveja ou por desconhecimento, acha que é desqualificado para sacerdote e para franciscano por gostar de muita coisa na vida, disse que Guterres era uma espécie de Papa Francisco da política. Parece-me feliz a comparação, por todos os aspetos que dela se podem retirar. António Guterres tem convicções firmes e não as esconde com medo de que isso lhe possa ser prejudicial; tem verdadeira alegria em ajudar os outros; sabe sofrer em silêncio sem querer que dele se apiedem (veja-se o que passou com o falecimento da sua mulher quando era primeiro-ministro); é desabrido e convicto na defesa das suas ideias; pode ser considerado um ingénuo por algumas atitudes, embora ingénuos sejam os que não entendem o alcance das suas ações.
Neste momento tão complexo e delicado do mundo, em que os problemas são inúmeros e as soluções são escassas, uma voz na ONU – a que naturalmente se somarão outras – é importante como exemplo e como farol.
Por isso, volto ao início. Eu não me congratulo por ter um português na ONU. Congratulo-me por ser este português, António Guterres, por ser um humanista, um homem que, para citar Shakespeare, sabe que há muito mais entre o céu e a terra do que a nossa razão pode abarcar, e que por isso é humilde, mas convicto; decidido, mas flexível; apaziguador, mas implacável em relação aos que provocam o sofrimento alheio.
Espero sinceramente que a sua ação seja de molde a confirmar a sua importância no cargo e no momento que vivemos.
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Amanhã
CONCERTO
MÚSICA ÁCIDA NO MUSEU DO ORIENTE
O cantor, compositor e percussionista João Caetano atua esta terça-feira no Museu do Oriente, em Lisboa. O artista é membro dos Incognito, banda pioneira do acid-jazz britânico e apresenta-se agora a solo, com um projeto em que se inspira nas raízes da música portuguesa e canta em português. O concerto está agendado para as 21h30 e a entrada custa €8.
MUSICAL
RAINHA DAS NEVES DÁ MÚSICA
Estreia esta terça-feira no Cineteatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira, o musical “A Rainha da Neve”, inspirado no conto “A Rainha das Neves”, de Hans Christian Andersen. O evento tem início às 21h30 e os ingressos custam de €8 a €10.
CINEMA
SOMBRAS NA CASA DAS ARTES
É exibido esta terça-feira na Casa das Artes, no Porto, o filme “The Kingdom of Shadows” (2016), realizado por Clara Pais e Daniel Fawcett. O filme foi gravado em Portugal e conta com um elenco internacional. A sessão começa às 21h30 e a entrada é livre.
CONFERÊNCIA
O ESPAÇO DA FAMÍLIA NA SOCIEDADE
O professor catedrático de Medicina da Universidade de Coimbra Fernando Regateiro e o padre, ensaísta e professor universitário Anselmo Borges presidem esta terça-feira à conferência A Família – Base Estruturante da Sociedade. O evento decorrerá no Casino da Figueira da Foz, às 21h30 e a entrada é gratuita.