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Entre 8 de julho de 1887 e 17 de setembro de 1964 o planeta Terra contou entre os seus habitantes com o senhor Raymundus Joannes de Kremer. Belga de nascimento, escritor de ofício, espalhou profusa arte nas obras repartidas entre o jornalismo, os argumentos para quadras de banda desenhada e histórias para um público mais jovem; entre os adultos, será lembrado pelo pseudónimo de Jean Ray, autor notável mas nem sempre devidamente notado na arte do conto fantástico.
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1925 assiste à primeira obra dada à estampa: “Les Contes du Whisky”, um conjunto de histórias fantásticas e de fantásticas histórias onde o elemento gótico da obra dá os seus primeiros passos; curiosamente interrompidos quando o novel autor é acusado e condenado a seis anos de prisão por falcatruas contabilísticas. Sentenciado a seis anos, reza a história que cumpriu... um terço. O confinamento na cela não implicou o confinamento da escrita: foi na prisão que o original flamengo urdiu dois romances que o tornariam mais relevante no panorama literário e no alargamento de públicos. A eles foi correspondendo, veloz e eficazmente, com um frenesim literário que o levou a escrever mais de cem contos, onde surge o seu personagem mais importante: Harry Dickson, o Sherlock Holmes Americano - o que, para um autor europeu é, no mínimo, curioso. Mas a verdade é que as venturas e desventuras de Harry Dickson e seus discípulos se tornaram um fenómeno de popularidade, muito graças ao universo do fantástico e do sobrenatural que percorreriam os traços gerais da sua vasta obra. Uma boa notícia para Jean Ray, melhor notícia para o público português: há pelo menos 30 livros de Harry Dickson publicados em Portugal, creio que pela Editorial Estampa: o mais notável é que podem encontrar-se -- quando procurados, naturalmente - nos muitos alfarrabistas que ainda povoam, e bem, as artérias de muitas cidades lusas. O preço é também convidativo e a leitura, aconselhável em qualquer altura do ano, ganha reforçada oportunidade nas férias: pela facilidade narrativa, pela descoberta de um herói não isento de estereótipos mas que, por causa deles, gera no leitor uma acentuada bonomia que perdoa a simplicidade da escrita e a saborosa evolução das histórias que se leem entre idas à água ou saídas da sombra das árvores.
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Quem quiser ir mais longe na descoberta da obra de Jean Ray, pode e deve assistir a “Malpertuis”, o filme de 1971 realizado pelo também belga Harry Kumel e que conta com o desempenho, entre outros, do lendário Orson Wells. A história, naturalmente no universo do fantástico, é um mistério do princípio ao fim, onde uma série de personagens, deste e de outro mundo, se encontram prisioneiras de uma casa não menos misteriosa e do seu (outrora?) inquilino. Jean-Pierre Cassel e Sylvie Vartan também pululam no elenco de um filme que se vê com inusitado agrado.
JEAN RAY Lenda diz que escrevia um livro por noite. E que nunca voltava ao que havia escrito\n
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Duas artes acima - da sétima para a nona - é igualmente possível encontrar edições relativamente recentes da obra de Jean Ray e do inefável Harry Dickson em banda desenhada, editada em França, Estados Unidos ou Reino Unido. Será mais uma chance para aderir a uma obra original, contemporânea... do seu tempo, mas que não deixa de ser um breaking time seguramente agradável e despretensioso, nem que seja para irritar certos puristas que vêm no género literário de Jean Ray uma menoridade que na realidade não existe.
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Felizmente que, 50 anos passados sobre a sua morte, não é tarde para evocar, relembrar e - porque não? - homenagear a figura e os méritos literários de um homem conhecido por um dos seus pseudónimos; ainda assim nada mau, para quem usou para cima de uma dezena e meia... Mesmo na nomenclatura, Jean Ray não será lembrado por pouco.