Tribuna Expresso sabe que o negócio foi feito por €120 milhões. Ronaldo vai jogar na Juventus durante quatro anos com salário anual de €30 milhões
Texto PEDRO CANDEIAS ILUSTRAÇÃO TIAGO PEREIRA DOS SANTOS
Foi uma questão de tempo: Andrea Agnelli pegou num jato privado rumo à Grécia, encontrou-se com Ronaldo e a sua entourage, e o negócio fez-se. O português, sabe a Tribuna Expresso, foi contratado pela Juventus por €120 milhões e com um salário de €30 milhões/ano durante quatro anos.
A confirmar esta notícia está um comunicado do Real Madrid: "Atendendo à vontade e pedido expressos do jogador Cristiano Ronaldo, o Real Madrid acordou a sua transferência para a Juventus. Hoje, o Real Madrid quer expressar o seu agradecimento a um jogador que demonstrou ser o melhor do mundo e que marcou uma das épocas mais brilhantes da história do nosso clube e do futebol mundial".
Numa carta aberta publicada no site do Real Madrid (leia a carta na íntegra, no fim deste texto), Ronaldo disse que viveu em Madrid os anos mais felizes da sua vida. "Mas chegou o momento de sair e pedi ao Real Madrid para que me deixasse transferir. O Real conquistou o meu coração e da minha família. Quero agradecer aos companheiros de equipa, fisioterapeutas, ao presidente e aos adeptos porque fizeram tudo para que nada me faltasse. Foram nove anos apaixonantes. Refleti muito e cheguei a esta decisão. Hala Madrid"
Acaba, assim, uma história de um namoro que terá começado num espetacular pontapé de bicicleta em Turim e terminou em solo grego com um blitz do presidente Andrea Agnelli para pôr, justamente, o preto da Juventus no branco do Real Madrid.
A confirmarem-se estes valores, Cristiano Ronaldo salta diretamente para o top cinco das transferências mais caras da história do futebol - aos 33 anos. À sua frente estão Neymar (€222 milhões, Barcelona/PSG), Mbappé (€145 milhões, Mónaco/PSG) e Coutinho (€120 milhões, Liverpool/Barcelona).
DESPEDIDA
“Estes anos no Real Madrid e nesta cidade de Madrid foram possivelmente os mais felizes da minha vida”: a carta do adeus de CR7
Numa longa carta, o jogador português agradeceu os nove anos que passou em Madrid e pede compreensão aos adeptos dos merengues. “Penso que chegou o momento de abrir uma nova etapa na minha vida”, escreveu Cristiano Ronaldo na missiva publicada no site oficial do Real Madrid
A CARTA NA ÍNTEGRA
Estes anos no Real Madrid e nesta cidade de Madrid foram possivelmente os mais felizes da minha vida
Só tenho sentimentos de enorme agradecimento para estes clube, para estes adeptos e para esta cidade. Só posso agradecer a todos eles o carinho e afeto que recebi.
No entanto, penso que chegou o momento de abrir uma nova etapa na minha vida e por isso pedi ao clube que aceite transferir-me. É o que sinto e peço a todos, e muito especialmente aos nossos adeptos, que por favor me compreendam.
Foram 9 anos absolutamente maravilhosos. Foram 9 anos únicos. Foram tempos emocionantes, repletos de consideração, embora também duros, porque o Real Madrid é um clube de altíssima exigência, mas sei bem que não poderei jamais esquecer que aqui desfrutei do futebol de uma maneira única.
Tive no campo e no balneário companheiros fabulosos, senti o calor de adeptos incríveis e juntos conquistámos três Ligas dos Campeões consecutivas e quatro Champions em cinco anos. E, mais, junto a eles tive a satisfação de a nível individual ter ganho quatro Bolas de Ouro e três Botas de Ouro. Tudo isto durante a minha etapa neste clube imenso e extraordinário.
O Real Madrid conquistou o meu coração e o da minha família e por isso, mais que nunca, quero dizer obrigada: obrigada ao clube, ao presidente, aos dirigentes, aos meus colegas, a todos os técnicos, médicos, fisioterapeutas e trabalhadores incríveis que fazem com que tudo funcione e que cuidam de cada detalhe de forma incansável.
Um agradecimento infinito mais uma vez aos nossos adeptos e obrigada também ao futebol espanhol. Durante estes nove apaixonantes anos tive de enfrentar grandíssimos jogadores. O meu respeito e o meu reconhecimento para todos eles.
Fiz uma grande reflexão e sei que chegou o momento de um novo ciclo. Vou-me embora, mas vou continuar a sentir esta camisola, este escudo e o Santiago Bernabéu como algo meu, esteja onde estiver.
Obrigada a todos e, claro, como disse naquela primeira vez no nosso estádio há nove anos: Hala Madrid!
CR7 NA JUVE
Turim a preto e branco: da incerteza à nostalgia que está por vir
Os últimos dias em Turim foram diferentes. A chegada de Cristiano Ronaldo estava iminente, mas teimava em manter-se no campo dos rumores, por isso os tiffosi da Juve iam sossegando o entusiasmo. A espera acabou: Ronaldo vai mesmo jogar de preto e branco
Texto HUGO TAVARES DA SILVA
Fabio era o juventino mais agitado. Talvez o único em quem tropeçámos naqueles dias em Turim, na semana passada. O rececionista mole e com ar carrancudo do hotel onde o Expresso ficou só ganhava vida quando Ronaldo ameaçava aterrar na primeira capital italiana. “É hoje!?”, ia perguntando. Sempre.
Cristiano Ronaldo foi anunciado esta terça-feira como reforço da Juventus. Quase dá para ouvir a voz de Fabio a ecoar naquele hall a celebrar a chegada do capitão da seleção portuguesa, esquecendo as suas hesitações iniciais: “Bom, já tem 33 anos… Faz mais um, dois anos a bom nível, não? É por isso que as pessoas estão divididas”.
A equipa que perdeu cinco finais da Liga dos Campeões desde 1996 contratou o rapaz que venceu essa prova cinco vezes, tantas quanto Alfredo di Stéfano, a lenda maior do Real. Os dois monstros ficam atrás apenas de Francisco Gento (6). Cristiano ganhou cinco bolas de ouro, quatro delas em Madrid. É o quinto bola de ouro a atuar na Serie A no século XXI: Nedved (2003), Shevchenko (2004), Cannavaro (2006) e Kaká (2007).
Assim que foi anunciada a contratação de Cristiano, enviámos uma mensagem a Mauro, o filho do dono de um restaurante que visitámos e aonde os jogadores e treinadores da vecchia signora iam nos anos 90.
- Ronaldo confermato.
- 👍
- Estás feliz, não?
- Muito.
Mauro ama futebol, é encantado por Diego Maradona, que também pisou o chão daquele restaurante vizinho do Rio Pó. Viu a Itália ser campeã do mundo em 1982 quando tinha 11 anos e, graças à restauração, ficou amigo de um dos grandes nomes da história. Zidane ia ali quase todos dias. Zizou jogou na Juve durante cinco anos e depois saltou para o Real Madrid. Cristiano faz o sentido inverso: depois de nove anos na capital espanhola, muda-se para Itália.
A desconfiança pautou os dias prévios ao anúncio que anuncia muito mais do que uma transferência colossal. Cristiano sai como um dos grandes nomes da história do Real Madrid, tido como o maior clube de sempre. Cristiano deixa um vaga e uma cratera enorme atrás dele. Florentino Peréz vai perder a cabeça, isso sabemos de cor e salteado. Neymar? Kylian Mbappé? Eden Hazard? É uma questão de tempo. E depois vem o tradicional efeito dominó.
Depois de elogiar de cima abaixo a personalidade de Zidane, Mauro perguntou tudo e mais alguma coisa sobre Cristiano. Se se cuidava, o que comia, se ia para festas. Mais importante: “Será que vem mesmo?”. Era este o clima por todo o lado. Era mais ou menos como aquele rapaz que queria muito convidar uma menina para o baile de finalistas e não tinha coragem de perguntar com medo de ouvir um não. Os adeptos da Juventus, campeões há sete anos consecutivos, davam ares de não quererem colocar-se a jeito de uma desilusão.
Não há dinheiro para os trabalhadores da Fiat, mas para Ronaldo já há
Quando esbarrámos em taxistas do Torino, o clube rival da cidade, o humor era completamente diferente. Havia sorrisos descontraídos e um respeito enorme. Mas também houve um caso em que a indignação ganhou ao desporto: “Não há dinheiro para os trabalhadores da Fiat, mas para Ronaldo já há”. A família Agnelli, proprietária da Juve, é também dona daquela marca de automóveis, que na teoria estaria por trás da transferência, fechada por 120 milhões.
No estádio parecia sempre tudo calmo. No centro da cidade, idem. Uma vez ou outra lá se ouvia a palavra Ronaldo. Sergio, um taxista com uma figura colossal e olhos azuis, ganhou esperança quando soube que um jornalista português andava por ali a cobrir a história. Afinal, legitimava o sonho. “Na rádio dizem que o Ronaldo já cá está!”, contava. Mas não estava. O português estava na Grécia, onde está a passar alguns dias de férias, a descansar os ossos e a preparar a mente de aço e os músculos para a Serie A.
Com o passar do tempo, o peso de Cristiano na imprensa parecia ir diminuindo. Seria uma crush de verão? Seria um braço-de-ferro ou uma luta interna no Real que nos escapava? Mas o United e o PSG meteram-se ao barulho… Era uma incógnita. Os diretos das televisões multiplicavam-se e tinham tão pouco para dizer de novo.
Moreno Torricelli, um dos históricos da Juve que venceu a final de 1996, em Roma, disse ao Expresso que Ronaldo terá de se adaptar ao novo campeonato, por ser mais defensivo. Este homem que diz ter sido “um espetáculo” jogar com Del Piero, Roberto Baggio, Zidane e Vialli garante que Ronaldo só tem de ser Ronaldo. “Não tem de imitar ninguém. Tem de fazer simplesmente o que faz todos os anos.”
Esta terça-feira, as más energias, os rumores mais ou menos robustos, as desconfianças e as notícias que se contrariavam têm um ponto final. Cristiano Ronaldo vai assinar contrato com a Juventus nos próximos dias, experimentando assim o quarto campeonato da sua carreira.
Angelino e Mauro, pai e filho, já esfregam as mãos e suspiram. A camisola do Real Madrid com “Cristiano Ronaldo 7” que mora na parede do restaurante, ao lado da maglia de Zidane, estará desatualizada brevemente. Cristiano vai vestir de preto e branco, será bianconeri, como a cor do sangue que lhes corre nas veias. Como a nostalgia que será fabricada naquele relvado do Allianz Stadium.