TRAGÉDIA
Vítimas querem que Portugal consagre o 17 de junho aos mortos nos incêndios
Presidente da Assembleia da República já recebeu um pedido da Associação de Vítimas de Pedrógão Grande para que daqui para a frente todos os dias 17 de junho sejam consagrados à memória de quem perdeu a vida em incêndios florestais. Se os partidos não acolherem a ideia, avança uma petição popular. Porque, dizem, a memória é apenas o que lhes resta
Texto Christiana Martins
“É tempo de fazer as pazes com o território, bem como é tempo de reconstrução de um certo futuro em paz com a memória dos nossos entes queridos.” É assim que começa a carta enviada esta quinta-feira aos gabinetes do Presidente da República, do primeiro-ministro, para o presidente da Assembleia e para os grupos parlamentares, propondo que, a partir deste ano e daqui para a frente, todos os dias 17 de junho sejam dedicados às pessoas que perderam a vida em incêndios florestais.
A iniciativa partiu da Associação de vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) e resulta de uma decisão tomada por unanimidade na última assembleia geral da organização, realizada no domingo. Os ofícios seguiram e, se a ideia não for acolhida pelos partidos, a quem cabe apresentar a proposta no Parlamento, Nádia Piazza, presidente da AVIPG, diz que será convertida numa petição e serão recolhidas assinaturas.
Um Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais em Portugal, de forma a que, como diz a carta a que o Expresso teve acesso, não se esqueçam os “cidadãos, homens, mulheres e crianças, bombeiros e militares”, os que “sucumbiram ao longo das décadas ao flagelo dos incêndios em Portugal”.
“Dentre tantos dias nefastos que assolaram Portugal em 2017, não se pode negar a marca que o dia 17 de junho deixou na história coletiva. Num único dia, mais um sábado de reunião familiar para muitos, Portugal despediu-se de 64 portugueses consumidos pelas chamas daquele que foi o mais mortífero incêndio florestal da nossa história e da Europa.”
A carta lembra ainda que “já nada será igual depois de 17 de junho para muitas famílias” e que para que este dia “mantenha acesa a memória de que apenas através da união de esforços, da firme convicção do caminho a seguir e da atuação determinada de todos os agentes e população será possível um Portugal mais seguro”.
E termina de forma muito clara: “Mais do que de vitórias, a história de um país faz-se sobretudo de derrotas e revezes. São com essas derrotas e revezes que avançamos, instigados a fazer mais e melhor a bem da nação e dos portugueses! Permita a Assembleia da República que possamos encerrar esse capítulo na nossa vida coletiva homenageando as vítimas dos incêndios de 2017 com um seu dia nacional a 17 de junho. Porque a memória é apenas o que nos resta.”