Antes pelo contrário
Daniel Oliveira
Isaltino: e se o polícia fosse igual ao ladrão?
Como se sabe, a candidatura de Isaltino Morais à Câmara Municipal de Oeiras foi, por agora, travada por um tribunal. Em causa estão supostas irregularidades formais. Não sei, não tenho por enquanto como saber, se Isaltino tem razão quando diz que lhe está a ser exigido o que não foi a outros. Espero, mas por enquanto prefiro pensar que isso não é possível, que não se tente escrever direito por linhas tortas, impedindo de forma ilegítima uma eleição que nos envergonha. Se assim for, não tenho dúvidas de que lado estou: do lado do Estado de Direito.
Isaltino Morais é um político e uma pessoa nada recomendável. É assustador pensar que alguém que saiu há pouco da prisão por evidente desonestidade e violação da lei, um político que concentra em si mesmo quase todos os defeitos que podemos encontrar num eleito, poderá ser reeleito pelos mesmos cidadãos de que abusou. Faz-nos pensar sobre o atraso da nossa democracia. Ou sobre a anemia geral dos que, de tanto repetirem que todos os políticos são ladrões já se tornaram indiferentes à mais descarada ausência de ética. Mas, ainda assim, vivemos numa democracia. Se querem que passe a existir a perda definitiva de direitos políticos ponham isso na lei. Cá estarei para me opor. Até lá, cabe aos eleitores - e não aos juízes - decidirem se querem reeleger um vigarista condenado. A Justiça aplica a Lei, e já o fez com Isaltino. Cumpriu a sua pena. A Justiça não substitui os eleitores, por mais idiotas que eles sejam.
Se os eleitores de Oeiras querem reeleger um vigarista, nenhum tribunal pode escolher atalhos para o impedir. E se o juiz é afilhado de casamento e foi colaborador político próximo de Paulo Vistas, então estamos perante uma suspeita gravíssima de apropriação da Justiça para fins políticos e eleitorais
Mas há uma acusação que Isaltino faz que me preocupa mais: a de que o juiz que tomou esta decisão é afilhado de casamento do seu principal concorrente político. E que foi secretário da comissão política do PSD Oeiras, entre 2004 e 2005, quando Paulo Vistas era seu presidente. Se estas duas coisas forem verdadeiras, este juiz nunca poderia tomar esta decisão. Teria de pedir escusa, para que outro magistrado deliberasse sobre a admissibilidade da candidatura de Isaltino Morais.
Isaltino Morais representa tudo o que me repugna na política. E a cultura do “roubo mas faço”, que parece ter muitos seguidores no concelho com a mais alta média de habilitações literárias do país, é um monumento ao nosso subdesenvolvimento político. Mas Isaltino cumpriu a sua pena. Se os eleitores de Oeiras querem reeleger um vigarista, nenhum tribunal pode usar atalhos para o impedir. E se o juiz, como acusa Isaltino, é afilhado de casamento e foi colaborador político próximo do seu principal concorrente, então estamos perante uma suspeita gravíssima de apropriação da Justiça para fins políticos e eleitorais, e a política de Oeiras teria uma Justiça a condizer com o seu estado de podridão. Por mais que me doa ver Isaltino ser reeleito, se o magistrado que travou Isaltino tem laços familiares e políticos com Paulo Vistas e mesmo assim tomou esta decisão quem tem de ser afastado é ele, não o candidato.