Antonoaldo Neves, presidente executivo da TAP
TAP recusa voar na Madeira com mais vento: “Quem pensa a aviação em médias vai causar um acidente catastrófico”
Presidente executivo da TAP diz que há pessoas a falar do levantamento de limites de vento na Madeira “sem seriedade”. “É muito arriscado”, sentencia. Veja um excerto de uma grande entrevista a Antonoaldo Neves que será publicada este sábado no semanário Expresso
Entrevista Pedro Lima e Pedro Santos Guerreiro
Nem pensar. Podem até mudar a lei e aumentar ou eliminar os limites de vento para levantar voo ou aterrar no Aeroporto Cristiano Ronaldo, na Madeira, mas a TAP vai continuar a respeitar os limites atuais.
“Não adianta mudar os limites, eu não vou baixar os limites dos ventos enquanto for CEO da TAP. Não vou baixar”, afirma Antonoaldo Neves ao Expresso, na sua primeira entrevista desde que assumiu a presidência executiva da companhia área, e que será publicada na íntegra este sábado na edição do semanário.
Em causa está o debate lançado para eventuais alterações aos limites atmosféricos e de vento que permitem aterrar no aeroporto da Madeira, que o regulador, a ANAC, está a analisar, a pedido do presidente da Região Autónoma da Madeira, Miguel Albuquerque. O Governo Regional defende que os atuais limites, criados nos anos 60, estão ultrapassados e deviam ser revistos, dado que estão a penalizar a economia e a mobilidade dos madeirenses. Os limites não podem ser ultrapassados por questões de segurança.
Antonoaldo Neves não abre sequer espaço para essa discussão dentro da TAP: “Conversei com os meus pilotos, conversei com os pilotos da Airbus… Isso é retórica. Houve uma pessoa que veio aqui dizer-me que ‘em média, os ventos este ano foram mais baixos que no ano passado’. Uma pessoa que pensa a aviação em médias vai causar um acidente catastrófico. O que importa é o vento no pico, que derruba o avião. A média do vento não quer dizer nada, toda a média é burra. As pessoas estão a tratar desse assunto sem seriedade. A TAP não negoceia com segurança.”
O presidente executivo da TAP respalda-se na experiência da companhia em voar para a Madeira, que levou a Airbus a convidar pilotos da TAP para fazer testes de resistência das suas novas aeronaves pousando na ilha. “Há filmes na Internet, vão observar as aterragens. É muito arriscado. Não adianta ter essa discussão sobre cancelamentos na Madeira no que diz respeito a questões meteorológicas. É uma irresponsabilidade tratar o assunto dessa forma, a TAP não vai entrar nesse jogo”, sentencia.
“Madeira é uma operação maravilhosa”
Na entrevista ao Expresso, Antonoaldo Neves foi confrontado com as críticas do governo regional da Madeira quanto a cancelamentos e atrasos. “Críticas de governante nós não rebatemos, ouvimos. Os governantes são eleitos pelo povo, têm legitimidade para exigir. Mas tenho de reconhecer que é uma surpresa para mim, é uma questão até frustrante”, reage. “Fizemos um Conselho de Administração na Madeira, evidenciámos todo o carinho que temos pela ilha, onde consistentemente temos aumentado a oferta, onde mostrámos que as nossas são tarifas são módicas… A nossa frustração vai mais no sentido em que investimos, continuamos a investir e não percebemos a razoabilidade das críticas. Porquê? A quantidade dos voos cresce, a quantidade de clientes e de turistas cresce, temos parcerias e acordos para estudantes, sabemos a importância que temos para a ilha”.
“A Madeira é mais pontual do que toda a TAP”, responde Antonoaldo Neves. “É uma operação maravilhosa naquele aeroporto.” Também nos cancelamentos, assevera, tirando os que decorrem de questões meteorológicas “a Madeira tem menos do que a rede da TAP, percentualmente”.
Açores com potencial
Quanto à operação dos Açores, há preocupações em relação à situação financeira da SATA, que poderão levar a TAP a ser pressionada a deslocar voos para o arquipélago, para compensar. Mas Antonoaldo Neves não mostra preocupações. “Não há nenhuma decisão nossa de rede ou de aviões por questões políticas. Não há esse cenário de a TAP ser chamada para assumir rotas de uma companhia aérea”, diz. “Temos uma relação de parceria com a SATA e alguns code shares, temos um carinho incrível pelos Açores, a nossa próxima reunião de Conselho de Administração será lá. Temos interesse em aumentar a nossa operação nos Açores. Não consigo fazer isso imediatamente porque temos limitações de número de pilotos e aeronaves, mas vemos potencial nos Açores.”
Leia a entrevista de Antonoaldo Neves na íntegra este sábado no semanário Expresso.