PSD
“Inconsequentes.” “Precipitados.” “Irresponsáveis.” Núcleo de Rio desvaloriza avanços de Santana e de Pedro Duarte
A saída de Santana Lopes do partido e o desafio de Pedro Duarte a Rui Rio são vistos como fenómenos irrelevantes e inconsequentes pelo ciclo mais próximo do líder do PSD. Dissidências são disparates de verão, dizem
Texto Miguel Santos Carrapatoso
“Inconsequentes.” “Precipitados.” “Irresponsáveis.” “Exemplos perfeitos da silly season.” Os qualificativos encontrados para descrever os anúncios de Pedro Santana Lopes e de Pedro Duarte não são meigos -- longe disso. Entre os mais próximos de Rui Rio, ninguém acredita que os dois possam fazer sombra ao líder do PSD, e estas dissidências estão a ser interpretadas como “fenómenos secundários e irrelevantes”.
“Acho que Pedro Santana Lopes se precipitou novamente. É mais um exemplo da sua inconstância constante”, nota ao Expresso um membro da direção do PSD. E se as ambições do ex-primeiro-ministro são questionadas, as de Pedro Duarte chegam a ser ridicularizadas. “Como é que pode achar que Rui Rio não é candidato a primeiro-ministro e pensar que ele [Pedro Duarte] é? Nas eleições autárquicas teve um resultado miserável [o ex-líder da JSD foi candidato a presidente da Assembleia Municipal do Porto pelo PSD]”, ironiza outro membro do círculo restrito de Rui Rio, que também pediu para não ser identificado.
A verdade é que os dois, de forma diferente, vieram agitar o combate interno do partido. Em entrevista ao Expresso, Pedro Duarte desafiou Rui Rio a sair pelo próprio pé e a deixar a liderança do PSD “tão cedo quanto possível”. No mesmo dia em que a edição impressa do Expresso foi para as bancas, Santana Lopes tornava pública a carta de despedida enviada aos militantes sociais-democratas e formalizava a sua intenção de disputar o centro-direita com um novo partido.
Um dia antes, já tinha revelado grande parte do teor da missiva ao site “Observador”. A agitação foi tal que Marcelo Rebelo de Sousa não resistiu a intervir: “O partido é uma família e é preciso que a oposição não se fragmente de tal maneira que deixe de ser alternativa de poder”, sugeriu o Chefe de Estado, a partir de Vouzela, uma das zonas afetadas pelos incêndios do ano passado que o Presidente escolheu para visitar nestas férias.
Apesar dos recados de Marcelo, ninguém na direção do PSD atribui grande relevância às manobras de Pedro Santana Lopes e Pedro Duarte. O primeiro porque, dizem, está a virar costas ao partido e a deitar fora o apoio que recebeu durante as últimas diretas do PSD, movendo-se exclusivamente por um “projeto de ambição pessoal de poder”. “Se insistir nesta brincadeira, será castigado nas urnas. Ninguém gosta destas jogadas”, analisa um dirigente próximo de Rio.
No caso de Pedro Duarte, é o timing e a estratégia que são questionados. “O congresso foi há menos de sete meses e Pedro Duarte, que sempre elogiou Rui Rio, não quis avançar. Agora é que decide desafiar a liderança? É uma irresponsabilidade, não faz sentido nenhum e é um mau serviço ao partido”, critica a mesma fonte da direção do PSD.
A estratégia do núcleo duro de Rui Rio é não comentar oficialmente estas ou qualquer outra dissidência que venha a surgir. Relativizar e esvaziar, repete-se. Nos bastidores, no entanto, há quem garanta que casos como este só vão unir o partido. “É normal que apareçam candidatos, começa a cheira a poder. Mas declarações destas só jogam a favor de Rui Rio. O partido vai unir-se ainda mais em torno do líder”, assegura um membro da direção do PSD.
Ex-diretor de campanha de Santana fala em “mal-estar”
A contagem de espingardas no PSD, a existir, tem sido discreta. Assim que anunciou que estava disponível para desafiar Rio, Pedro Duarte teve o apoio imediato de José Eduardo Martins, antigo deputado e ex-secretário de Estado. Também Luís Filipe Menezes, antigo presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia e eterno rival de Rio, saiu em defesa do seu ex-diretor de campanha. Mas os dois não têm peso suficiente no aparelho do partido para beliscar Rui Rio. Se quiser ser bem sucedido, Pedro Duarte precisará de muitos mais soldados e apoios.
Depois, há outro fator: existe uma grande expectativa para perceber o que vão fazer Luís Montenegro (a sombra de Rio desde o congresso e o herdeiro natural do passismo) e Miguel Pinto Luz (o ex-líder do PSD/Lisboa não esconde a ambição de ser alternativa a considerar num eventual pós-Rio). Enquanto os dois não definirem claramente as respetivas estratégias, poucos se atravessarão por Pedro Duarte. Além disso, há quem recorde que é prematuro excluir as ambições de Jorge Moreira da Silva, Carlos Moedas ou Paulo Rangel, três nomes que colhem apoios e geram muita simpatia no interior do partido. Para já, a estratégia de Pedro Duarte teve, aparentemente, uma vantagem: conseguiu condicionar os seus possíveis adversários diretos na corrida à sucessão de Rio. O terreno está marcado.
Pedro Santana Lopes, esse, preferiu definitivamente outro caminho. O ex-primeiro-ministro saiu do PSD e está a preparar a criação de um novo partido -- essa parece ser a hipótese mais sólida, depois de o próprio ter considerado a possibilidade de integrar um dos partidos de direita recentemente criados (ou em fase de formalização). Resta saber que apoios terá: apesar das expectativas de Santana, o ex-provedor da Santa Casa viu muitos dos seus mais próximos a dizerem, logo à partida, que não estão disponíveis para o acompanhar nesta aventura.
Um deles foi João Montenegro. Ao Expresso, o ex-diretor de campanha de Santana garante que há um “grande embaraço” nas estruturas do PSD que apoiaram o antigo primeiro-ministro nas últimas eleições internas e que se nota a léguas “ausência da desejável vaga de fundo”. “Tenho recebido imensos telefonemas de militantes que apoiaram Santana Lopes e que agora perderam a face. Há um mal-estar evidente. Há autarcas e líderes de opinião nos respetivos concelhos que estão envergonhados. Sentem-se defraudados, porque acreditaram no projeto dele”, nota.
Indiferente aos órfãos que terá deixado no PSD, Santana estará já a preparar com a sua equipa a recolha de assinaturas para a formação do novo partido. A primeira aposta serão as europeias, mas o grande desafio do ex-primeiro-ministro são as legislativas: a acreditar nas mais recentes sondagens, Santana poderá chegar aos 5% dos votos, o suficiente para condicionar o equilíbrio de poderes do Parlamento. Números animadores quando ainda falta um mais de um ano para as eleições.