Henrique Raposo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

Porque é que o salário de António Mexia é tão imoral?

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Um conceito que é a cara de "Lesboa"

Um conceito que é a cara de "Lesboa"

Se uma empresa portuguesa exportadora a concorrer num mercado livre pagasse ao seu CEO o que a EDP paga a António Mexia, não haveria nada a registar; haveria até motivos para celebração, era sinal que tínhamos genuínas empresas privadas a vender como grandes multinacionais. Aí, sim, teríamos de invocar a inveja ou o ódio à iniciativa privada como causas das críticas aos altos salários. O problema é que o salário de Mexia não resulta de uma genuína iniciativa privada de uma economia livre; resulta, isso sim, de rendas políticas e imorais (sim, imorais) que a EDP conseguiu alhear ao longo dos anos com a conivência dos governos, sobretudo os de José Sócrates.

Eu não sei se essas rendas são ilegais, mas são imorais, pornográficas, tão ou mais indecentes do que as PPP rodoviárias onde não passam carros; resultam da posição original e monopolista da EDP sobre o comum dos mortais e sobre as outras empresas, sobretudo aquelas que nos salvam através das suas exportações. Nós pagámos e continuamos a pagar com taxas e taxinhas o salário pornográfico de António Mexia, que não é um verdadeiro empresário ou empreendedor. Ele é somente um alto funcionário de um negócio rentista, protegido e monopolista, um negócio que depende do favor político para o mecanismo extractivo e não da inteligência ou iniciativa. Assim também eu era "gestor".

O salário de Mexia é o exemplo clássico do capitalismo chico-esperto (crony capitalism), esse passatempo de eleição da corte feudal chamada "Lesboa". Aliás, Mexia é o perfeito “boy” do “job for the boys” daquele sistema político financeiro criado por Salgado e Sócrates - um sistema destruído pela crise e pelo “não” de Passos Coelho a Ricardo Salgado. Mexia é, foi e será sempre um símbolo desse capitalismo chico-esperto que é necessário destruir de uma vez por todas; Mexia é, foi e será sempre um símbolo desse tempo negro que vivemos em Portugal, o tempo da vigência e da asfixia criada pela dupla Sócrates e Salgado, a dupla que ocupará sempre o Marquês.