ELEIÇÕES Hillary e Bush parecem os mais fortes, mas ainda não avançaram. Ted Cruz é, entre os que já formalizaram, o que parece ter mais hipóteses de ir até ao fim FOTOS EPA E REUTERS

ELEIÇÕES Hillary e Bush parecem os mais fortes, mas ainda não avançaram. Ted Cruz é, entre os que já formalizaram, o que parece ter mais hipóteses de ir até ao fim FOTOS EPA E REUTERS

EUA

Centena e meia de candidatos, e nem um presidente à vista. Quando Hillary e Bush anunciarem, será diferente…

A campanha para as eleições presidenciais de 2016 nos EUA está prestes a arrancar em força. Esperam-se muitas declarações em abril

TEXTO LUÍS M. FARIA

As eleições presidenciais americanas são só em novembro do próximo ano, mas já existem mais de 150 candidatos declarados. Nenhum é para levar a sério – no sentido de ter quaisquer hipóteses de vir a ser escolhido para ser presidente dos Estados Unidos – exceto um. E mesmo esse é uma hipótese remota.

O candidato declarado que poderia eventualmente ser eleito chama-se Ted Cruz. Com 44 anos, é um senador republicano eleito pelo Texas em 2012. Tem origem hispânica e posições bastante conservadoras, como seria de esperar. Tornou-se famoso com um discurso de 21 horas que fez em 2013, numa tentativa inútil de bloquear uma lei que autorizava o financiamento de operações do governo, em particular as relacionadas com o sistema de saúde tal como redefinido pelo Affordable Care Act – a lei também conhecida por Obamacare, que os republicanos odeiam. Como nunca houve uma possibilidade séria de o governo parar por causa de Cruz, o seu gesto foi mais uma estratégia de afirmação pessoal do que outra coisa. E resultou.

Não foi a primeira vez que Cruz se associou a uma causa polémica que as fações do seu partido mais avessas ao compromisso estimam particularmente. Em 1995, evidenciou-se como advogado de acusação no processo de ‘impeachment’ do então presidente Bill Clinton (Clinton chegou a ser ‘impeached’, isto é, indiciado por crimes cometidos no exercício do seu cargo, mas depois não foi julgado, pois o Senado não o permitiu). Mais tarde colaborou, igualmente enquanto jurista, em esforços para expandir o direito a usar armas e a pena de morte. Durante o próximo ano, até o candidato do seu partido estar escolhido, a sua oposição consistirá tanto em candidatos moderados como noutros que são ainda mais conservadores do que ele. Não vai ser fácil.

O candidato declarado que poderia eventualmente ser eleito chama-se Ted Cruz. Com 44 anos, é um senador republicano eleito pelo Texas em 2012. Tem origem hispânica e posições bastante conservadoras

Candidatos para todos os gostos

Enquanto republicanos e democratas não escolhem os seus candidatos, ou mais precisamente, enquanto os candidatos a candidatos nesses dois partidos não se apresentam formalmente, 150 candidatos de outros partidos ou independentes já se registaram na comissão eleitoral oficial. Incluem desde personagens respeitáveis de partidos marginais (socialistas, libertários, etc) até celebridades com nostalgia de palco) e criaturas aparentemente fárcicas como um tal Ceasar St Augustine DeBuonaparte, que se propõe ser ditador absoluto da Califórnia e talvez no mundo.

Ninguém presta atenção a essas candidaturas, e é preciso procurar nos registos oficiais para as encontrar. Outra visibilidade têm os posicionamentos de vários políticos que ocupam ou ocuparam cargos importantes. Do lado democrata, por exemplo, o atual vice-presidente Joe Biden, o senador Bernie Sanders e o antigo governador Martin O’Mailley são, em princípio, viáveis como candidatos a candidatos. Um outro ex-senador, Jim Webb, já se registou. Do lado republicanos, onde o frisson é maior, fala-se nos governadores Chris Christie e Bobby Jindal, nos senadores Rand Paul, Marco Rubio e Lindsey Graham.

Os dois favoritos oficiais são Hillary Clinton e Jeb Bush. Ainda nenhum deles anunciou oficialmente, mas devem fazê-los nas próximas semanas

Há mais nomes conhecidos entre os republicanos, e não é por acaso. Nas últimas eleições, as primárias desse partido foram uma vasta feira de personalidades onde a certa altura pareciam concorrer uns com os outros para ver quem apresentava as posições mais intransigentes em assuntos como a emigração ou o orçamento. O candidato que acabou por ser escolhido, Mitt Romney, por natureza um moderado, viu-se obrigado a endurecer as suas posições para ganhar as primárias, acabando por perder votos na eleição propriamente dita em consequência disso. Desta vez ele não concorre. Apesar de ter dado a entender que gostaria de o fazer mais uma vez, foi dissuadido por vozes que têm influência do seu partido, entre elas a de Rupert Murdoch, magnata de imprensa, que não escondeu o seu desprezo.

Hillary e Bush, candidatos do establishment

Tudo somado, os dois favoritos oficiais são Hillary Clinton e Jeb Bush. Ainda nenhum deles anunciou oficialmente, mas devem fazê-los nas próximas semanas. Ambos andam na casa dos sessenta e têm um longo cadastro de experiência política. Hillary foi senadora e secretária de Estado (ministro dos Negócios Estrangeiros), além de ter estado oito anos ao lado do marido na Casa Branca. Bush foi secretário de Estado do Comércio na Florida, antes de ser governador do Estado entre 1999 e 2007. Oriundo de uma das famílias políticas mais antigas dos EUA – o equivalente republicano dos Kennedy – tem uma rede de contactos de alto nível que não fica a dever nada à de Hillary. Nas listas de contactos de ambos há milionários e bilionários em número suficiente para garantir que as suas campanhas vão ter todo o dinheiro que for preciso.

Pelo pedigree e pelo resto, os dois serão os candidatos do ‘establishment’. Essa vantagem comum é também um dos seus handicaps que ambos têm. Bush, se fosse eleito, seria o terceiro presidente da sua família em poucas décadas, após George H. W. Bush (1988-1992) e George W. Bush (2000-2008). Hillary seria o segundo Clinton em vinte anos, com o fator acrescido de ser mulher, e de quem. Para muita gente, mesmo a década e meia de distância, seria sempre a esposa do presidente que herdou o cargo.

Ao fator dinástico juntam-se outras resistências. Desde os tempos de Bill Clinton como governador do Arkansas que ele e a esposa se vêm envoltos em escândalos menores e maiores, que culminaram no caso Monica Lewinsky. Nem um nem outro se têm mostrado especialmente hábeis a lidar com a imprensa, e essa limitação voltou a revelar-se quando Hillary foi acusada de ter descuidado a segurança do pessoal diplomático norte-americano em Benghazi (Líbia), onde o embaixador e outras pessoas foram mortas quando ela era secretária de Estado. Na sequência dessas acusações surge agora o problema relacionado com os seus emails que ela manteve num servidor privado quando era membro do governo. Para esconder o quê?

Bush, por sua vez, também revela telhados de vidro. Embora tenha aproveitado a polémica atual com Hillary para lembrar que entregou milhares de emails dos seus tempos de governador, a verdade é que o fez ao fim de sete anos, e só após muita insistência. Quanto a posições públicas, vai ter dificuldades em navegar as águas turbulentas do seu partido como este é hoje, com grupos como o Tea Party a empurrarem os políticos para posições cada vez mais extremas.

Em suma, não é de excluir que apareçam surpresas, na forma de candidatos que virem o jogo de pernas para o ar. Afinal, foi o que aconteceu em 2008, quando Obama surgiu aparentemente do nada e venceu a eleição. Já nessa altura a favorita supostamente imparável era um tal Hillary Clinton…