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Opinião

Nicolau Santos

Que fazer com o Novo Banco?

Chegados aqui, o Governo está confrontado com um belo berbicacho: o que fazer com o Novo Banco? Vendê-lo a um fundo como o Lone Star, cujo perfil não é seguramente o de um investidor estruturado e que aposta no desenvolvimento futuro da instituição? Nacionalizá-lo? Mantê-lo na esfera pública, continuar a sua reestruturação e depois colocá-lo de novo à venda?

Bom, dos três cenários, o segundo é o que vai colhendo mais adeptos de momento, em confronto com a primeira opção. Manuela Ferreira Leite ou Paulo Rangel, por exemplo, já admitiram que essa poderia ser a solução. Não a defendem por convicção e são ideologicamente contra. Mas entre isso e a venda a um fundo que pode vir a desmembrar o Novo Banco, com efeitos muito negativos para o financiamento da economia nacional, em particular das PME, preferem a segunda – uma hipótese que o ministro das Finanças, Mário Centeno, também deixou em aberto numa recente entrevista que concedeu ao DN e TSF.

Para além do perfil do Lone Star, o que não é aceite pelo Governo é aquilo que o potencial comprador do Novo Banco pretende – colocar num veículo financeiro os activos problemáticos e de difícil recuperação, que teriam uma garantia do Estado, da ordem dos dois mil milhões de euros. Centeno recusa que haja mais dinheiro dos contribuintes envolvido nesta operação. Ou, como disse Manuela Ferreira Leite, isso seria colocar os contribuintes a pagar para que o Lone Star ficasse com o banco.

O pequeno problema é que, na verdade, só ficaram dois maus candidatos: o Lone Star e outro fundo norte-americano de características idênticas, Apollo. E este também quer garantias do Estado para os activos problemáticos. Os chineses do Minsheng, que seriam os favoritos, estão fora da corrida, porque não conseguiram reunir os fundos necessários para provar ao Banco de Portugal que dispunham do dinheiro necessário para comprar a instituição.

Ora perante duas péssimas propostas de dois fundos especulativos, a solução menos má pode mesmo ser a nacionalização a curto prazo – ou, em alternativa, a manutenção do banco na esfera pública, onde já se encontra desde que foi criado, em Agosto de 2014, a continuação do seu processo de reestruturação e finalmente a sua venda dentro de dois ou três anos. Mais: Rui Peres Jorge fez as contas no Jornal de Negócios e concluiu que no que toca ao impacto sobre o défice, a nacionalização é mais favorável que a prestação de garantias com o aval do Estado.

Duas coisas são certas: todo o processo de criação e venda do Novo Banco tem sido uma catástrofe, cujo principal responsável é o Banco de Portugal; e o Lone Star não é seguramente o comprador mais indicado para o Novo Banco. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.