PS
Críticos de Costa pressionam Assis
FOTO RUI DUARTE SILVA
Seguristas ainda não desistiram de Francisco Assis mas eurodeputado continua em silêncio. Se ele não avançar, avança Beleza. Até porque, pelos estatutos em vigor aquando da eleição de Costa, este tem até 120 dias após as legislativas para marcar um Congresso
TEXTO CRISTINA FIGUEIREDO
António Costa, “manifestamente”, não se demite. Mas no PS somam e seguem as vozes a exigir-lhe que saia de cena. Ou, pelo menos, que se (re)apresente a votos num Congresso. Que nem será antecipado: de acordo com os Estatutos em vigor aquando da eleição de António Costa, em novembro de 2014, o secretário-geral tem até 120 dias após as eleições legislativas para convocar um congresso. Está certo que esta norma foi uma das que desapareceu com a atualização dos Estatutos proposta por Costa no último congresso mas é a que ainda é válida no seu caso, uma vez que a nova versão só se aplica aos futuros eleitos. Fonte oficial do PS admitiu à Lusa que Costa poderá anunciar o Congresso amanhã, na reunião da Comissão Política marcada para as 21h30, esvaziando assim as intervenções que muitos dos seus críticos se preparavam para fazer.
À espera dessa convocatória poderá estar Francisco Assis. O eurodeputado, sobre quem se depositavam expetativas de poder apresentar-se como candidato à liderança do PS caso António Costa tivesse apresentado a demissão, mantém-se em significativo silêncio, mas está a ser muito pressionado pelos críticos internos de Costa – nomeadamente pelos seguristas – para avançar. E ainda não terá dito cabalmente que não. A verdade é que esteve prevista uma declaração sua para ontem à noite, na sede do PS/Porto, que acabou por não acontecer. Como não aconteceu a sua presença nem na TVI, ontem à noite, nem na Rádio Renascença, hoje de manhã, para comentar os resultados eleitorais – ele cancelou. Mas espera-se, a qualquer momento, que fale, a partir de Estrasburgo, para onde viajou ao início da tarde. Poderá ser apenas, num primeiro momento, para apoiar a candidatura de Maria de Belém à Presidência da República – ele já o tinha feito mas agora, no pós-legislativas, é uma declaração com outro peso político.
Costa poderá anunciar o Congresso amanhã, na reunião da Comissão Política marcada para as 21h30
E à espera de Francisco Assis está também Álvaro Beleza que já disse ao Expresso que será candidato à liderança, caso não surja ninguém “melhor colocado”. O médico, que se assumiu como herdeiro do “segurismo” no pós-primárias, não pede a demissão de Costa mas exige a convocação de um congresso para depois das presidenciais (que, no seu entender, devem agora ser a prioridade do PS). É isso que iria (irá?) dizer na Comissão Política de amanhã, onde se aguarda(va)m as intervenções de outros apoiantes de Seguro como Ana Gomes (que ontem se afirmou “chocada” com os resultados obtidos pelo PS) ou Jorge Seguro Sanches (um dos subscritores de um abaixo-assinado liderado pelo soarista Vítor Ramalho que pede a convocação de um congresso para depois das presidenciais).
O presidente da Federação Distrital do PS de Bragança, Mota Andrade, foi o primeiro a pedir uma reflexão dos socialistas sobre o resultado da eleição de ontem: “Face a esta mau resultado, o PS tem que repensar a política e escolher novos intervenientes que possam conduzir o PS a futuras vitórias”, escreveu num comunicado enviado ontem à noite (antes ainda de Costa falar) às redações. Também o antigo secretário nacional do PS para as Relações Internacionais, João Assunção Ribeiro, exigiu a “saída imediata do atual secretário-geral do Partido Socialista”. Na sua página no Facebook, o ex-porta-voz do partido na liderança de António José Seguro foi taxativo: “O partido das derrotas de 2011 e 2015 tem de dar lugar ao partido das vitórias de 2013 e 2014, para ganhar em 2016 e 2017”. Os ex-deputados António Braga e José Junqueiro (que fizeram parte da direção do grupo parlamentar no tempo de Seguro) e Miguel Laranjeiro também já se pronunciaram em sentido idêntico. Este último, que foi secretário nacional do PS para a organização, questionado sobre se Costa deveria demitir-se, ironizou: “Sempre defendi que secretários-gerais que ganhem eleições devem manter-se no lugar”. O seu ex-colega da direção socialista de Seguro António Galamba foi mais direto: “O que o Dr. António Costa fez ao PS e ao país é criminoso”.