FERROVIA
Comboios alugados a Espanha ainda têm de ser reparados
Presidente da CP diz que propôs ao Governo a compra de 22 novos comboios
Texto Joana Nunes Mateus
Os quatro comboios a diesel que a CP vai alugar à espanhola Renfe – através do protocolo assinado ontem entre as transportadoras ferroviárias dos dois países – “precisam de fazer grandes reparações”, disse hoje o presidente da CP, Carlos Gomes Nogueira aos deputados.
“Também são antigos, mas é o que há”, reconheceu o presidente daquela que é a maior empresa de transportes terrestres a operar no país e que esteve hoje na comissão parlamentar de economia, inovação e obras públicas para a audição requerida pelo Partido Social Democrata (PSD) sobre a degradação de material e o serviço prestado nesta empresa pública que prevê transportar 125 milhões de passageiros em 2018.
O aluguer dos comboios à Renfe é uma das formas de fazer face à extrema “vetustez” do parque de material circulante desta empresa pública portuguesa que não adquire comboios desde 2002. A outra é o reforço em 142 trabalhadores da Empresa de Manutenção e Equipamento Ferroviário (EMEF), dotando-a de meios humanos qualificados para fazerem a manutenção e a reparação tempestiva do parque circulante da CP para que haja menos comboios suprimidos e mais pontualidade. “Não existe CP sem EMEF”, disse Carlos Gomes Nogueira aos deputados.
O presidente da CP esclareceu que gasta cerca de 9 milhões de euros por ano nas 20 unidades alugadas à Renfe, que custam cerca de €350 mil euros cada, além do famoso comboio “Sud Express” que faz o serviço internacional e custa à CP cerca de dois milhões de euros por ano.
Acrescentou que vai continuar a reforçar o aluguer de comboios “aos nossos amigos da Renfe, com quem temos uma excelente relação, pois é quem tem comboios com bitola ibérica”, ou seja, que podem circular nas vias ferroviárias portuguesas.
Concurso de milhões
Esta é a estratégia até a CP começar a receber comboios novos em 2023 pois Carlos Gomes Nogueira anunciou aos deputados que o conselho de administração da CP apresentou ao governo um plano de investimento no valor de 170 milhões de euros. “Estamos à espera de aprovação para ser aberto o concurso público internacional a todo o momento, para comprar 22 unidades para o serviço regional”, disse. O plano final de investimento foi entregue ao Governo a 20 de julho deste ano, acrescentou em resposta aos deputados.
Em causa estão 12 unidades híbridas que podem andar nos troços eletrificados e não eletrificados para evitar transbordos e 10 unidades elétricas, tudo para o serviço regional.
O presidente da CP diz que o problema não são as cativações às despesas correntes da transportadora, mas as fontes de financiamento para cobrir esta aquisição de novos comboios pela CP. “Abrindo um concurso internacional e tendo a garantia de financiamento e assinado o contrato, o primeiro comboio poderá ser entregue em 2023”, explicou. Já sobre as cativações de verbas pelo ministério das Finanças, desdramatizou, dizendo que está a correr tudo bem: “ainda o mês passado foram descativados 19 milhões, são procedimentos normais que nós apresentamos à Direção Geral do Orçamento”.
Melhorias em outubro
O presidente da CP prometeu ainda melhorias nas linhas não eletrificadas onde a vetustez dos comboios a diesel está a causar grandes problemas já a partir de outubro novembro deste ano, como é o caso das linha do Oeste, do Algarve, do Vouga ou Casa Branca-Beja. “Vamos melhorar drasticamente a oferta, a regularidade e a pontualidade nestas linhas. Não tenho dúvidas do que estou a dizer", disse o presidente da CP.
Em jeito de balanço, Carlos Gomes Nogueira criticou o abandono da ferrovia nas últimas décadas. “O estado a que se chegou é fruto de uma aposta de sucessivos governos no modo rodoviário: estradas, autoestradas, IP, IC, autocarros para transportar passageiros, camiões TIR para transportar mercadorias e a aposta no transporte individual. Grande negócio para as financeiras e para os bancos a aposta no transporte individual”. E acrescentou: “A situação a que chegou a ferrovia é o abandono durante décadas em termos de falta de investimento tempestivo e isto não se resolve de um momento para o outro. O país como um todo tem de enfrentar esta questão e tem de perceber se, de facto, quer fazer uma aposta no modo de transporte rodoviário. É disso que se trata”.