GOVERNO DE ESQUERDA

Elisa Ferreira: Governo só com o PS “dá mais garantias a Bruxelas”

PREFERÊNCIAS A eurodeputada assume que se BE e PCP não estivessem no Governo seria “solução mais sólida para o exterior” FOTO EGÍDIO SANTOSA

PREFERÊNCIAS A eurodeputada assume que se BE e PCP não estivessem no Governo seria “solução mais sólida para o exterior” FOTO EGÍDIO SANTOSA

Muito atenta às negociações em Portugal, a eurodeputada do PS diz que “preferia que BE e PCP não estivessem no Governo”. Elisa Ferreira considera que essa era uma solução “mais sólida para o exterior”. Isto num dia em que Carlos César avisou PCP e BE que, sem acordo fechado (e ainda não está fechado), não há moção de rejeição

TEXTO BERNARDO FERRÃO e CRISTINA FIGUEIREDO FOTOS ALBERTO FRIAS e LUÍS BARRA

António Costa não lhe pede conselhos, mas o líder do PS e Elisa Ferreira “têm trocado muitas impressões” sobre o que se está a passar por cá. Conhecem-se há muitos anos, estiveram juntos no primeiro governo de Guterres e mais tarde no Parlamento Europeu. E é essa experiência em Bruxelas que permite à eurodeputada afirmar que os poderes europeus aceitariam melhor um governo com o PS sozinho – “era preferível que o programa fosse do PS e interpretado por gente do PS” – e com apoio parlamentar da esquerda. “É mais sólido para o exterior”. E dá um exemplo: “não abdicando o PC, e está no seu direito, de uma das suas bandeiras, a saída do euro, seria mais límpido que não estivessem no governo onde teriam de executar exatamente o contrário. É mais transparente”.

Na conversa com o Expresso, Elisa Ferreira não faz comentários sobre a hipótese de integrar o governo de Costa, mas diz no entanto “que está a acompanhar com todo o interesse este passo que Portugal precisava de viver”. A eurodeputada acredita que “já é altura das esquerdas deixarem de ser partidos de crítica e passarem a ser de compromisso e de soluções”, e explica que as negociações em Lisboa “no quadro europeu são banalíssimas”. Elisa aponta para o caso da Bélgica “é paradigmático, esteve quase um ano para formar governo e o primeiro-ministro saiu do 5º partido mais votado”. Não há razão para dramas e “é o momento para abrir novos horizontes”, confessa.

Mas nem todos estão de acordo no partido, e à cabeça dos que contestam esta frente de esquerda está Francisco Assis que no próximo sábado reúne mais de cem militantes num almoço na Mealhada para avançar com a “corrente alternativa”. Elisa Ferreira, sua colega em Bruxelas, defende que Assis “não está favorecer o PS porque aumenta uma sensação de risco e de perigo que já está muito empolado e que não se justifica.” Elisa lembra – num recado que serve para Assis, mas é sobretudo para Cavaco Silva, o “PS é um partido europeísta, os compromissos internacionais, a Nato etc. são inquestionáveis.” Tal como as contas certas que têm de resultar desta negociação e para isso “nada melhor que o PS que fez um trabalho tão fino no cenário macroeconómico para ser o interlocutor deste processo”.

Zorrinho: “A minha preocupação é que a identidade do PS não saia beliscada”

Outro colega de Assis em Bruxelas, Carlos Zorrinho, também não vai participar no almoço da Mealhada – está até dia 14 no Brasil, na qualidade de eurodeputado e vice-presidente da delegação Europa-Brasil. Mas mesmo que estivesse em Portugal, o antigo líder parlamentar socialista “teria de ponderar” se iria ou não ao encontro que junta muitos dos que não se reveem na estratégia que está a ser seguida por António Costa e de onde é suposto resultar uma “corrente crítica e alternativa”.

“O mais importante é não dramatizar”, diz ao Expresso o eurodeputado, que há três semanas, num artigo no Público, admitia preferir um PS como “grande partido progressista” a um PS “líder da casa comum das esquerdas”. “A minha grande preocupação é que a identidade do PS não saia beliscada [deste processo], que não haja danos irreversíveis”, ou seja, que continue a ser “um partido europeísta, de projeto e progressista”.

A solução que está a ser gizada pode não ser a que mais lhe agrada mas admite que “temos de procurar em cada momento a solução que responda às pessoas”. E, prossegue, “houve factores que empurraram o PS para uma solução que não é a mais natural”. Por exemplo? “As intervenções do Presidente da República”.

Questionado sobre se acredita que o acordo PS/BE/PCP vai correr bem, prefere ironizar “prognósticos só no fim do jogo”. Para logo depois corrigir o enfoque: “Desejo muito que corra bem. É muito importante para Portugal que corra bem”.

Ainda não há acordo... nem sobre as moções de rejeição

Apesar de o Diário Económico dar hoje como adquirido que o acordo do PS com o BE já está fechado, fontes ligadas a ambas as partes da negociação não são tão taxativas. O acordo continua a ser debatido, estará fechado quando tiver de estar – e mais não se consegue saber. Aos jornalistas, esta tarde, o líder parlamentar do PS, Carlos César, garantiu mesmo: “Não está nenhum acordo fechado”, nem com Bloco de Esquerda, nem com PCP. E aproveitou aliás para “pressionar” os parceiros da eventual coligação, avisando que, sem essa premissa (no limite até ao fim de semana), não há moção de rejeição (logo, não há queda do Governo de Passos). É que o PS sempre disse que não faria parte de uma “maioria negativa”, caso não tivesse uma alternativa séria para contrapropor.

Pela mesma razão, também a questão de saber se há uma ou três moções de rejeição continua em aberto.