Mobilidade

Saiba por onde entram 370 mil carros todos os dias em Lisboa

Autoestradas É pela A1 que mais veículos entram todos os dias em Lisboa. Mas A5, A2, IC19, A8 e A12 são também grandes afluentes para a cidade à beira-Tejo

Autoestradas É pela A1 que mais veículos entram todos os dias em Lisboa. Mas A5, A2, IC19, A8 e A12 são também grandes afluentes para a cidade à beira-Tejo

Muitos cidadãos que vivem na Grande Lisboa entram na capital usando comboio e metro. Mas o peso do automóvel continua a aumentar: eles entram em Lisboa por todos os lados

Texto Vítor Andrade

Há um par de meses, o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, dizia ao Expresso que tinha o carro na palma da mão. José Mendes referia-se ao telemóvel, ou melhor, ao que pode fazer através do telemóvel na cidade de Lisboa: “carsharing” (carros partilhados), chamar táxis, uber, partilha de bicicletas... O exemplo de José Mendes é no entanto minoritário. O peso do automóvel na cidade é cada vez maior. Cerca de 370 mil entram todos os dias na capital - e entram por todos os lados.

Quem circula em Lisboa de automóvel já terá notado que, nas intermináveis filas de trânsito matinais e ao final da tarde, a maioria dos carros ao seu lado transporta apenas uma pessoa – o condutor. É para combater esta prevalência do veículo individual que os 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa propuseram ao governo uma descida drástica dos passes sociais, a financiar pelo Orçamento do Estado. Na base desta proposta esteve uma análise à situação atual dos fluxos de acesso a Lisboa.

Margem Sul não é “um deserto”

Dados recolhidos pela Câmara Municipal de Lisboa revelam que uma grande parte dos veículos que entram todos os dias na capital provêm da margem sul do Tejo: 104 mil veículos, cerca de três quartos dos quais pela Ponte 25 de Abril (ver infografia). Já da autoestrada do norte (A1) entram 101 mil, a que somam mais 67 mil que entram por norte através da A8. Da linha de Caacais entram 80 mil (A5) e da Sintra são 67 mil (IC19).

Como é que se reduz o volume de tráfego automóvel na cidade? Parece simples de dizer: proporcionando alternativas. Num estudo da Câmara de Lisboa a que o Expresso teve acesso, os concelhos à volta da cidade de onde vêm menos carros são precisamente aqueles que dispõem de transporte pesado: metropolitano e comboio.

O poder do comboio

De Almada, por exemplo, apenas 49% das pessoas que se deslocam para Lisboa usam veículo próprio, ao que não será estranha a existência de uma ligação ferroviária ao longo de todo o eixo da A2 (até ao Pinhal Novo). Na Amadora, servida de Metro e comboio, apenas 46% usam transporte próprio na deslocação diária para a capital. Mas, se a origem for Mafra – que não tem um transporte ferroviário para Lisboa -, por exemplo, 72% das pessoas recorrem ao carro e apenas 6% deslocam-se em transporte público.

A exceção vem de Cascais. Apesar de dispor de comboio até ao Cais do Sodré, 66% das pessoas que se deslocam para Lisboa fazem-no no próprio automóvel e apenas 21% recorrem ao comboio.

Mais corredores só para autocarros

A ambição da Câmara de Lisboa para a Área Metropolitana é que, até 2030, a quota de utilização dos transportes públicos possa crescer dos atuais 25% para 30%, transportando mais 150 mil pessoas e fazendo mais 375 mil viagens todos os dias.

Isto, segundo a autarquia, implica a redução das tarifas, o reforço e a melhoria da oferta, autoridade municipal sobre todos os operadores atuais e um investimento na criação de corredores só para transportes públicos. Para isso, é preciso financiamento do Orçamento do Estado. A vontade dos autarcas atuais não basta, é preciso a aprovação de um ex-autarca de Lisboa, que hoje é primeiro-ministro.