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João Vieira Pereira

Bob, o construtor

Está é uma crónica repleta de conflito de interesses. Desde já sou lisboeta, daquela geração nascida entre a Fontes Pereira de Melo e o Campo Grande. Depois vivo em Lisboa desde que me lembro. E ainda por cima adoro esta cidade.

Só que Lisboa está longe de ser um bom sítio para viver. Não me levem a mal, mas estou mesmo a queixar-me. Há mais de 10 anos que vivo na zona das Avenidas Novas ou arredores. E desde 2004 que vivo em obras permanentes. Estou um pouco farto de sair de casa e ter estaleiros por todo o lado. Partilho o estacionamento com um bobcat amarelo, os fins de semana com a melodia dos martelos pneumáticos. Já as minhas manhãs intervalam entre o pó das obras e o cheiro do alcatrão fresquinho, fresquinho.

Os meus melhores amigos são aqueles senhores de refletores e capacetes amarelos. Em 10 anos muitos passaram por mim, mas não me recordo da última vez que vi os senhores da limpeza a lavarem as ruas ou a regar as esfomeadas amostras de árvores que plantaram para substituir aquelas que abateram.

No bairro do Arco do Cego chegaram a fazer obras à volta da escola Filipa de Lencastre para que, nem dois anos depois, arrancassem os tijolos de cimento com que tinham forrado o chão. Eram feios, é verdade, mas também eram novos. Devem estar a forrar agora uma estrada qualquer ou a porta da casa de alguém.

É verdade que há ruas que até estão agradáveis. É inegável que ao fim de muitos anos decorada com buracos, picaretas e escavadoras, a Duque de Ávila se tornou numa das avenidas mais agradáveis de Lisboa. Mas basta falar com um ou outro morador para lhe apontar os problemas de ali morar: não há onde estacionar o carro.

Parece-me óbvio que as cidades devem ser feitas para as pessoas, e não para os carros. Mas também são necessárias condições para atrair pessoas para a cidade, e lugar para estacionar é apenas uma delas.

Mas voltando às obras: este verão é um inferno para quem ficou em Lisboa. Não há sítio em que não sejamos atacados pelas benditas obras.

PERCEBO QUE QUEIRA GANHAR AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES, MAS JÁ AGORA FACILITE A VIDA EM LISBOA A QUEM LÁ VIVE. E NÃO A QUEM A VISITA. ATÉ PORQUE QUEM VOTA É QUEM TEM DE DIVIDIR UMA CIDADE EM OBRAS HÁ DEMASIADO TEMPO

Fernando Medina faz-me lembrar aqueles bonecos animados que os meus filhos viam: Bob, o construtor, que só era feliz a fazer buracos no chão. Com uma grande diferença: na televisão as obras ficam prontas em 20 minutos, não fazem lixo, barulho e muito menos trânsito.

É claro que esta crónica é datada. Daqui a uns anos, se tudo correr bem, ninguém se vai lembrar das obras, dos problemas que causaram e deste verão de pó e caos. É muito provável que Lisboa fique mais bonita. Só que, senhor presidente da Câmara, bonita enche os olhos e até pode ser suficiente para ganhar as próximas eleições. Mas bonita não é o mesmo que agradável para viver.

Lisboa é um caos de estacionamento, trânsito, desrespeito pelas regras básicas do código da estrada. Uma cidade perigosa para quem anda a pé ou de carro. Cheia de fiscais a passar multas a quem não coloca a moeda nos parquímetros, mas vazia de fiscalização de trânsito. Vivo numa zona onde só se pode circular a 20 quilómetros por hora que mais parece a reta do autódromo do Estoril (com poucos carros, mas sempre todos a abrir).

E ainda me lembro do anterior presidente da Câmara de Lisboa, aquele que agora é primeiro-ministro e que diz que cumpre, ter colocado no topo das promessas acabar com o estacionamento em segunda fila em Lisboa. Está bem abelha!

Todas as cidades precisam de obras que melhorem a qualidade de vida. E isso passa por menos trânsito, menos carros, mais espaços verdes, mais comércio de rua, facilidades de acesso. E isso não é o mesmo que uma cidade bonita cheia de turistas.

Apenas um exemplo, uma das melhores obras dos últimos anos, que maior qualidade de vida trouxe a muita gente, é também uma das mais polémicas e feias de sempre: o túnel do Marquês.

Por isso meu caro presidente. Percebo que queira ganhar as próximas eleições, mas já agora facilite a vida em Lisboa a quem lá vive. E não a quem a visita. Até porque quem vota é quem tem de dividir uma cidade em obras há demasiado tempo.

BAIXOS

Fernando Rocha Andrade

Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais

A mudança nas regras do IMI, em particular a que diz respeito à contabilização da vista e da disposição solar das habituações, estão a provocar uma polémica esta semana. Como muitas vezes acontece com as polémicas, há um bom lado de demagogia nisto tudo (o critério da exposição solar das casas já existia e não foi inventado agora, por exemplo), mas a inépcia do Governo e da maioria em porem cobro rapidamente à polémica não ajuda nada. E, no fim de contas, o que o Governo está a fazer é a procurar mais receita, embora garanta que não. Ao menos que o assumissem.

João Rendeiro

Ex-banqueiro

O antigo homem forte do BPP tinha sido condenado pelo Tribunal de Concorrência a uma multa de 1,5 milhões de euros, além da inibição de exercer cargos no sector financeiro. Rendeiro recorreu para oTribunal Constitucional mas este já decidiu rejeitar o seu recurso.

Mariano Rajoy

Líder do PP espanhol

Depois de duas eleições gerais no país, Rajoy continua sem conseguir formar governo ou uma maioria para conseguir governar o país, com as sucessivas recusas do PSOE em lhe dar a mão, e parece cada vez mais real a perspectiva de umas terceiras eleições no país em menos de um ano. Terrível.

Martim Silva