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Nicolau Santos

Marcelo, Costa, Passos: pode alguém ser quem não é?

Na recente abertura da Feira do Livro que durante quatro dias decorre em Belém, o Presidente da República revelou que perguntou ao primeiro-ministro se ele pensava que a iniciativa correria bem – ao que, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa lhe terá respondido (“o primeiro-ministro é sempre muito otimista”) que não tinha tempo para passar por lá mas seguramente que iria correr bem. Em contrapartida, Pedro Passos Coelho diz que não está tão confiante como Marcelo no cumprimento do défice orçamental para este ano. “Com os dados que tenho, não posso estar tão otimista como o Presidente da República”. Todos cumprem o seu papel. Mas também o cumprem de acordo com o que intrinsecamente são.

Marcelo Rebelo de Sousa é um otimista. A sua visão do mundo é positiva e a vida não é seguramente para ele um calvário. Acresce que, sendo cristão, não há de ter esquecido o perfil que Passos Coelho detalhou para o futuro candidato do PSD às presidenciais: alguém que não fosse um cata-vento político, mudando de posição com facilidade, dizendo hoje uma coisa e amanhã o seu contrário, um retrato que na altura foi interpretado como sendo dirigido a Marcelo e visando inviabilizar a sua candidatura a Belém.

Conhece-se o resto da história: Marcelo fez uma campanha “a solo”, dispensou apoios partidários no seu “staff”, percorreu o país no seu carro contando apenas com a sua popularidade televisiva e ganhou com uma perna às costas, de forma a poder dizer alto e bom som que não depende de ninguém nem está preso a nenhuns compromissos.

ALGUMA VEZ MARCELO OU COSTA SERÃO PESSIMISTAS? E ALGUÉM ESPERA QUE PASSOS CONSIGA MUDAR O REGISTO DO SEU DISCURSO E APARECER AOS CIDADÃOS ANUNCIANDO UM FUTURO DE MAIS ESPERANÇA? AS RESPOSTAS SÃO TODAS NEGATIVAS. NINGUÉM MUDA A SUA ESSÊNCIA. NINGUÉM PODE SER QUEM NÃO É. E É NA MÃO DELES QUE ESTÁ O FUTURO DO PAÍS

Assim, que chegou a Belém, encontrou a sua alma gémea no primeiro-ministro e um aliado de ocasião para aquilo que pretende: a substituição de Passos à frente do PSD. Costa é tão otimista como Marcelo ou mesmo mais. Mas é surpreendente como o Presidente, sendo de uma família política diferente, tem posto sucessivas vezes a mão por baixo do Governo, atravessando-se por ele em casos como as sanções, ou o andamento da economia, ou o cumprimento do défice.

Costa reconhece a importância desse apoio. Fala várias vezes por dia com o Presidente. Acerta estratégias, concerta posições a nível externo, fazem viagens conjuntas. Nunca se viu, em 40 anos de democracia, tal nível de cumplicidade entre um Presidente da República e um primeiro-ministro.

Passos, por seu turno, cumpre o papel de líder de oposição: critica a evolução económica, levanta dúvidas sobre o cumprimento do défice, diz (dizia) ser impossível recapitalizar a Caixa sem ser ao abrigo das ajudas de Estado, garante (garantia) que se o país fosse alvo de sanções a responsabilidade seria da política económica do Governo, assegurou que vinha aí o diabo.

O problema de Passos é que as melhores hipóteses que tem de regressar ao poder passam por um descalabro económico, que leve o país a pedir nova ajuda internacional. Ora não há nenhum português que queira regressar ao período duríssimo do ajustamento, que foi protagonizado, por atos mas também por palavras muito duras, por Passos (que chamou ao povo português “piegas” e que disse que “só saímos disto empobrecendo”). Mesmo dentro do PSD há um incómodo crescente com o discurso azedo e catastrofista de Passos – que se reflete, aliás, nas sondagens, aparecendo o PS e o BE mais próximos de uma maioria absoluta e o PSD a não capitalizar o eventual descontentamento que possa existir com o Governo.

Voltamos, contudo, ao princípio. Alguma vez Marcelo ou Costa serão pessimistas? E alguém espera que Passos consiga mudar o registo do seu discurso e aparecer aos cidadãos anunciando um futuro de mais esperança? As respostas são todas negativas. Ninguém muda a sua essência. Ninguém pode ser quem não é. E é na mão deles que está o futuro do país.

BAIXOS

Marques Mendes

Comentador político

O ex-líder do PSD foi à Universidade de Verão da juventude do partido dizer, entre outras coisas, ser necessário aumentar o salário dos governantes, que é “pouquinho”, o que só permite atrair pessoas “jeitozinhas”, mas não as “melhores”. Esta parte da sua intervenção foi pouco feliz, como o mostram as reações que têm surgido desde então dos mais diversos quadrantes.

Antero Henriques

Dirigente do Futebol Clube do Porto

Tenha sido estritamente “por motivos de ordem pessoal e a seu pedido”, como diz o comunicado do clube, ou tenha havido também algum eventual empurrãozinho, o que é certo é que o homem que mandava no futebol do clube nortenho abandona a casa onde esteve 26 anos.

Koh Dong-jin

Presidente da Samsung

A empresa sul-coreana viu-se obrigada a retirar do mercado o smartphone Galaxy Note 7, pouco depois de ter sido lançado. A decisão, sem precedentes, foi tomada depois de terem sido registados muitos casos de baterias que explodiram quando o telemóvel estava a carregar. Um rombo na reputação de um dos maiores fabricantes mundiais de telemóveis, de que o Note 7 era até apresentado por revistas da especialidade como o suprassumo dos smartphones de ecrã grande.

José Cardoso