Incêndios

Comandante que não esteve no terreno é o sexto arguido de Pedrógão

Incêndio de 17 de junho de 2017 que deflagrou na região Centro matou 66 pessoas Foto Lucília Monteiro

Incêndio de 17 de junho de 2017 que deflagrou na região Centro matou 66 pessoas Foto Lucília Monteiro

Sérgio Gomes estava hospitalizado por motivos alheios ao incêndio e afastado das operações de combate ao fogo. Dois colaboradores da Ascendi também são arguidos no processo

Texto Christiana Martins, Hugo Franco e Rui Gustavo

O então comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria Sérgio Gomes é um dos cinco novos arguidos na investigação aos incêndios de Pedrógão Grande de 17 de junho do ano passado. Na altura dos fogos, Sérgio Gomes encontrava-se hospitalizado. Primeiro, para acompanhar o filho. Mas posteriormente o comandante ter-se-à sentido mal e acabou também por ser internado nessa unidade de saúde.

O operacional foi hospitalizado por volta das 17h desse dia e até essa altura era ele o responsável pelas operações de combate ao incêndio que teve início pelas 15h. Acabou por ser substituído por Mário Cerol, uma das primeiras pessoas a ser constituída arguida no processo.

Sérgio Gomes não foi indiciado pelo facto de estar ausente do teatro de operações, mas sim por não ter delegado o comando imediatamente, uma vez que estava ausente.

Ao Expresso, Sérgio Gomes, que atualmente faz parte da estrutura da Associação Nacional de Proteção Civil (ANPC), garante que não pode falar sobre o assunto. “Já fui ouvido duas vezes pela Justiça, uma delas em outubro”, afirma. “Estava hospitalizado”, confirma.

Também a Ascendi assume ao Expresso que dois dos seus colaboradores foram ouvidos pelos procuradores do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Leiria e constituídos arguidos no caso. Em comunicado, a empresa declara que os funcionários “foram ouvidos em interrogatório e constituídos arguidos no âmbito da investigação ao complexo de incêndios de Pedrógão Grande”.

E acrescenta: “A Ascendi Pinhal Interior e os seus colaboradores têm vindo a colaborar com as autoridades judiciárias, contribuindo com o que está ao seu alcance para o esclarecimento dos acontecimentos verificados, estando seguros de que cumpriram todo o quadro legal aplicável, não lhes sendo imputável qualquer responsabilidade.”

O Expresso sabe que há ainda dois arguidos de empresas subcontratadas.

Em dezembro, tinham sido constituídos arguidos o comandante dos bombeiros de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, e o segundo comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS), Mário Cerol, que substituiu Sérgio Gomes nesse dia por este se encontrar hospitalizado.

A Procuradoria-Geral Distrital de Leiria revelou esta tarde que o MP recebeu, em novembro de 2017, da ANPC, o relatório de uma auditoria realizada por aquela entidade na sequência dos referidos incêndios de Pedrógão Grande. “Este documento foi junto aos autos, sendo considerado no âmbito das investigações em curso”, revela o MP.

Esta quarta-feira, o jornal “Público” noticiou uma auditoria interna que a ANPC fez ao desempenho dos seus agentes nos fogos de 2017. De acordo com o diário, a Proteção Civil cometeu uma série de erros que culminaram no “desaparecimento” de documentos - foram apagados ou destruídos - sobre os incêndios de Pedrógão Grande.

Na sequência da notícia, o Ministério da Administração Interna negou que o Governo tenha escondido o relatório da Proteção Civil sobre os incêndios de junho.

Segundo o esclarecimento da Administração Interna, “os documentos a que se refere a notícia foram remetidos ao Ministério Público, junto da Comarca de Leiria, no dia 20 de novembro, para efeitos de investigação, estando assim abrangidos pelo segredo de justiça”.