MULHERES-POLÍCIAS
“Há quem nos subestime, mas depois corre-lhes mal”
DETERMINADA A subcomissário Sílvia Caçador está na PSP há sete anos FOTO DR
Cerca de 8% do efetivo da Polícia de Segurança Pública (PSP) é constituído por mulheres. O número tem aumentado nos últimos anos, mas há forças da PSP – como o Corpo de Intervenção e o Grupo de Operações Especiais – onde elas ainda não entram. “Algumas tentaram, mas reprovaram nas provas físicas”, explica ao Expresso a subcomissário Sílvia Caçador, de 31 anos, que foi esta quinta-feira uma das convidadas do I Encontro “A Mulher nas Forças de Segurança”
TEXTO NELSON MARQUES
Filha de uma polícia, diz que nunca conheceu outra forma de vida. "Cresci na esquadra, era a minha segunda casa", conta ao Expresso. Quando terminou o 12º ano, a escolha tornou-se óbvia: o Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, a academia portuguesa que forma oficiais de polícia. Há sete anos na PSP, está neste momento a aguardar a promoção a comissário. No dia em que no Porto se realizou o I Encontro "A Mulher nas Forças de Segurança", organizado pela Associação Sindical dos Profissionais de Polícia em parceria com o Movimento Democrático de Mulheres, Sílvia Caçador falou ao Expresso sobre os desafios que as mulheres enfrentam na Polícia, onde constituem menos de 8% do efetivo mas quase 12% dos oficiais.
Há cada vez mais mulheres a servir nas forças de segurança, como a PSP. O que explica este fenómeno?
A inclusão das mulheres nas forças de segurança é algo recente, começou com a PSP, em 1930, há 87 anos. Com o tempo, não só a PSP como a própria sociedade foram mudando o estereótipo que têm da mulher e acredito que isso tenha feito com que as mulheres se sintam mais confortáveis para concorrer à Polícia. O número de mulheres que o fazem é bastante elevado. No entanto a maior parte delas reprovam nas provas físicas. É a maior dificuldade no concurso.
É um dos obstáculos à entrada de mais mulheres na PSP?
Em parte. As provas físicas já foram alteradas, foram facilitadas relativamente aos homens, o que também não considero que seja algo positivo. É uma forma de discriminação positiva, um estereótipo que depois nos vai acompanhar ao longo de todo o percurso. Todas nós, infelizmente, ouvimos algumas bocas relacionadas com este facilitismo. Mas nunca senti discriminação negativa dentro da Polícia. Os parâmetros de acesso e de progressão na carreira estão bem definidos e são iguais para homens e mulheres.
Mas ainda há unidades, como a Unidade Especial de Polícia, que reúne os corpos de elite da PSP, onde a presença feminina não é tão notada.
Na Unidade Especial de Polícia existem valências que já têm mulheres. As únicas que não têm são o Corpo de Intervenção e o Grupo de Operações Especiais. Já houve mulheres que concorreram, mas reprovaram nas provas físicas.
Os cidadãos respeitam as mulheres na Polícia?
Pessoalmente nunca senti qualquer discriminação, mas há sempre casos isolados. Isso não é um problema das forças de segurança, é um problema da sociedade. Há essa ideia da mulher ser o sexo fraco, que acho que já não faz qualquer sentido. As nossas capacidades podem ser desenvolvidas da mesma forma que as dos homens. Claro que ainda há quem nos subestime e para alguns depois corres-lhes mal" [risos].
Para finalizar, quais são os principais desafios que as mulheres nas forças de segurança enfrentam?
Como mulheres, muitas de nós queremos um dia ser mães, se isso nos for possível. E, nessa altura, temos de estabelecer prioridades, porque é uma situação que nos limita em parte, quer em termos de disponibilidade quer a nível do risco associado à profissão. Quando estamos grávidas, a nossa mobilidade é mais reduzida. E num serviço onde há bastante operacionalidade, é quase impossível mantermo-nos na rua - há sempre o cuidado de, durante esse período, o elemento policial fazer um trabalho diferente e menos desgastante. No meu caso, ainda não penso ser mãe, estou focada na carreira e tenho conseguido atingir os meus objetivos, mas tenho colegas que tiveram algumas dificuldades. E tenho outras que, porque têm filhos novos, provavelmente não irão concorrer à progressão na carreira, uma vez que isso implicará provavelmente deslocações para longe da família. Mas são opções com que se debatem as mulheres em muitas profissões.
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